TEXTO: DIRCEU DEOCLECIANO PACHECO (1980)
Jamais quizemos, nem haveremos de querer, que todos pensem da mesma forma, aliás, faz parte dos princípios dos Diretores desta revista, o respeito ao sagrado direito de liberdade de pensamento.
Assim, apesar de pensarmos que a nossa revistinha está em um nível razoável, graças principalmente ao gabarito de nossos colaboradores e apesar de ser ela, não tenho muita certeza, mas quase posso afirmar, a única revista informativa periódica de nosso Estado, não temos a pretensão de que outros pensem como nós. É pois natural, que muitos nada vejam nela e até que outros tantos, a considerem de péssima qualidade. É o sagrado direito de livremente pensar.
Entretanto, nos é quase impossível conceber, que uma boa parte de nossa gente, não veja nela estampado o desejo de ser útil a uma região e nem perceba suas possibilidades de lutar em prol desta região.
Quando a lançamos, como é do conhecimento geral, o fizemos por um período experimental de seis meses, que hoje se encerra e ao vencermos dois terços desse período, lançamos daqui, no nosso número 08, um desafio para a sua continuação que se condicionava à efetiva participação de nossos colaboradores; à sua manutenção financeira pelos anunciantes; à permanência dos assinantes e ao prestígio dos leitores.
Pois bem, das duas primeiras categorias de pessoas, exigíamos duas coisas preciosas: tempo para pensar e escrever e dinheiro em maior valor, para cobrir a publicidade e dela recebermos a pronta e decisiva resposta.
As duas outras categorias, pedíamos menos, pois uma assinatura semestral custa o equivalente a três maços de cigarros ou três garrafas de cerveja por mês, para pensarmos nos gastos mais supérfluos e a leitura de cada exemplar da revista, pode nos consumir apenas uns poucos minutos por dia, ao longo de uma quinzena.
São estas duas últimas categorias de pessoas, que quase nos levam ao desânimo total.
O número de assinaturas nesta fase de renovação tem decrescido e as alegações ao nosso funcionário, em muitos casos, têm sido “as aperturas” financeiras ou a falta de tempo para ler. Mas o que ainda é pior, há aqueles que simplesmente cancelam suas assinaturas, sem qualquer pretexto na demonstração de um indiferentismo total àquilo que temos procurado apresentar. E não há nada pior que o indiferentismo nem pessoa mais perniciosa que aquela que não é fria nem quente, mas morna.
No último número, o Redator lançou seu desabafo, em carta inserida na coluna reservada às “Cartas à Redação” que foi desde o início colocada à disposição dos leitores com um insistente convite que lutassem conosco e mesmo assim − mais uma prova do comodismo e indiferentismo de nosso povo − tornou-se quase ociosa, onde ele lembra ser mais fácil “deixar o barco naufragar” para depois apregoar que “Patos não tem mesmo jeito”.
“A DEBULHA” vai continuar, pelo menos, por mais seis meses e embora venhamos pregando otimismo e tentando remover a barreira do derrotismo, já o faremos talvez arrefecidos pela atitude de grande parte de nosso povo, que quem sabe até esteja com a razão, porque é muito mais fácil “deixar as coisas como elas estão, para ver como é que ficam” do que lutar pelo que é nosso e toma muito menos tempo apregoar pelas esquinas ou em outros lugares que não adianta lutar, do que ler as coisas que pessoas bem intencionadas escrevem.
Mesmo assim, como patense da gema, continuarei como sempre, a confiar em minha terra tão boa e da qual tenho pena, porque afinal de contas, ela não tem culpa de ter os filhos que tem: nativos ou adotivos.
* Fonte: Texto publicado na coluna Malho e Cinzel com o título “Procuremos desbastar arestas desta pedra bruta, que é nossa região − Que dá para desanimar, isso dá!” na edição n.º 12 de 31 de outubro de 1980 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.
* Foto: Capa da referida edição da revista.