TEXTO: DÉLIO BORGES DA FONSECA (1992)
Diferentemente das pessoas, as cidades não envelhecem. Pelo contrário, estão sempre rejuvenescendo, estão sempre se atualizando, cada dia mais bonitas e catitas.
Alguém que viva muitos e muitos anos e chegue ao exagero que possa cumprir o tempo que lhe é permitido. Bem verdade que aqueles que passam pela vida, transmitem a vida aos filhos e estes aos netos e assim a gente vai se perpetuando nas novas gerações que se sucedem. Olhando por este prisma, podemos dizer que todos nós somos eternos. O que já e um consolo.
As cidades também se tornam centenárias, pelo esforço e pelo trabalho de pessoas que se sucedem em várias gerações.
Patos de Minas está completando cem anos. Com muita festa, muita comemoração. Com a nossa alegria e com o nosso aplauso.
Desde há 60 anos, acompanho com entusiasmo a caminhada de Patos de Minas rumo ao seu grande futuro. Era menino quando meu pai se mudou de Lagoa Formosa para aqui. Naqueles tempos, ainda bem vivas e bem presentes em minha memória, embora já fosse a “cidade de Patos”, não passava na verdade de um modesto lugarejo. Muita poeira no tempo da poeira, muita lama no tempo de chuva. Podia-se falar que era “pueril” por causa da poeira e “lamurienta” por causa da lama. Mas como eram bons aqueles tempos…
Mas o tempo foi passando, pois o tempo é mesmo inexorável. Já não menino, depois jovem e home feito e hoje, como costumo dizer lá em casa, na última década da vida. Tomara que não fosse.
Quando me formei, em 1950, o recenseamento do ano apontava 11 mil habitantes para patos. Uma “corrutela”, diriam as mais pessimistas e exigentes.
Pouco a pouco, com o trabalho de povo maravilhoso, a cidade foi tomando tipo, como se diz. Mudaram até o nome certa vez para Guaratinga, que não agradou a ninguém. Depois de uns tempos de protesto, voltou a chamar-se Patos de Minas, porque já existia uma outra cidade de Patos, mais antiga, na Paraíba¹.
Prefeitos e mais prefeitos dirigiram a cidade, inclusive meu pai. Cada qual deu o seu trabalho e o seu entusiasmo pelo progresso da terra, dentro das possibilidades e das circunstâncias de cada momento.
Ultimamente, Patos de Minas se tornou uma cidade excepcional, privilegiada; e se inveja não fosse pecado, as cidades todas de Minas e do Brasil, poderiam ter inveja de nossa estupenda Patos de Minas.
A partir do Dácio Pereira da Fonseca, caro amigo, passando pelo Arlindo Porto e o atual prefeito Antônio do Valle, chegamos definitivamente à época da modernidade.
Patos de Minas é uma cidade ideal para nela se morar. Tem tudo o que as grandes cidades têm, sem os seus inconvenientes, infra-estrutura, esgotos, água tratada, asfalto, luz, telefones, televisão, clubes de alto gabarito e tudo o mais que se queira lembrar, aqui estão presentes. Trânsito bem cuidado, boa sinalização. problemas com drogas e menores abandonados não chegam a preocupar muito.
Assim é hoje Patos de Minas, cidade bela, acolhedora, orgulho de todos nós. Cada vez mais querida e mais amada, quando chega aos seus 100 anos. Pena que não se possa ficar por aqui por mais algumas dezenas de anos, pois o nosso tempo já está terminando. E nem valeria a pena: seria aquele “põe o Délio no sol, tira o Délio do sol”… Assim não dá.
O que é importante é que cada um plante com amor, para que outros possam no futuro, colher os frutos e colher as flores. Exatamente como nós estamos fazendo hoje.
* 1: Leia “O Dia em Que Patos Deixou de Ser Patos I e II” e “O Patense Agradece o Retorno ao Nome Original da Cidade”.
* Foto: Arquivo de Donaldo Amaro Teixeira, publicada em 26/05/2014 com o título “Ponte Antiga do Paranaíba em 1992”.