TEXTO: NEWTON FERREIRA DA SILVA MACIEL (2013)
Os acontecimentos que serão narrados neste pequeno artigo são verdadeiros. Ocorreram em nossa cidade de Patos de Minas há muitos e muitos anos. Possivelmente na década de 1950. Lembrei-me dos fatos passados devido à grande ênfase que a imprensa, falada, escrita ou televisionada destacou sobre o assassinato de uma ex-namorada do goleiro Bruno, do Clube de Regatas Flamengo, da cidade do Rio de Janeiro, um dos times de futebol mais conhecidos do Brasil. O processo de impactar a atenção do leitor, ouvinte ou telespectador, usando os mais variados meios, sempre foi utilizado pelas empresas interessadas, para alcançar — como se diz – “Ibope”. Todas as formas possíveis são usadas para atingir os aludidos fins, ou seja, aumentar o interesse da população. Evidentemente, o resultado é previsível: a repercussão dos eventos, em todo o país e até mesmo nos congêneres estrangeiros.
Voltando ao assunto objeto de nossa narrativa, aconteceu, em Patos, um fato curioso, talvez até mesmo inaudito. Nesta ocasião eu estudava na capital mineira e vi em um jornal, já extinto há décadas, exposto na Avenida Afonso Pena, o cabeçalho bem destacado: terremoto em Patos de Minas. Interessei-me em ler a reportagem e comprei um exemplar. Curioso, procurei imediatamente a página que indicava o assunto. Não obstante saber que em nossa região, assim como o Brasil em geral, a formação geológica é de priscas eras e, portanto, não estão o solo e subsolo sujeitos a quaisquer tremores originários de movimentos das placas tectônicas, não contive aquele misto de “ser ou não ser”. Veio à minha mente o fato de, quando menino, montado no meu alazão percorria uma determinada extensão da fazenda Limoeiro II. Desta forma escutava o eco profundo resultante das patas do cavalo. Aquilo sempre me intrigou. Mais tarde soube que o barulho característico mencionado seria resultado da existência de cavernas profundas nessa área.
A direção do matutino, ciente da existência do tremor na cidade de Patos de Minas providenciou o aluguel de um “teco-teco” exclusivamente para enviar para a tranquila cidade dois funcionários, repórter e fotógrafo, com a finalidade específica de detalhar a estranha notícia. Pousou a aeronave no campo de aviação — nome então dado aos aeroportos — que se situava nas proximidades da Lagoa Grande. Tão logo desembarcou o correspondente do periódico da capital mineira, dirigiu-se o mesmo ao centro da cidade. A cada transeunte que lhe dava atenção ele fazia a pergunta clássica:
– O que o senhor sabe dizer acerca do terremoto acontecido nesta cidade?
O interrogado olhava curiosamente aquele estranho e, muitas vezes, não sabia responder à sua pergunta.
– Que terremoto? Não percebi nada a respeito deste assunto.
Outros, mais ativos ou, quem sabe, comunicativos, perceberam algo sobre um ligeiro tremor. Não satisfeito com as respostas, como é próprio de um jornalista, ele insistia e perguntava a outros passantes. Quase sempre as respostas eram dúbias.
Conversando com meu primo Artur Gonçalves da Silveira (Artur do Café Cristal) sobre este fato, ele me disse que realmente aconteceu um suave tremido aqui na região. Inclusive deu para perceber um rápido movimento das cortinas de seu quarto. No dia seguinte, conversando com seu avô, o José Antônio Leite, ele achou graça dos argumentos usados pelo seu provecto ascendente a respeito do evento, quando o mesmo se queixava que os caminhões estavam conduzindo cargas muito pesadas, pois à noite as janelas da casa dele chegaram a tremer com a passagem de um veículo… Pelo que escreveu o mano Adhemar, tal fato ocorreu com igual intensidade e, também, brevemente, há cerca de 100 anos atrás, nesta mesma região, conforme a nossa mãe afirmava, ao contar um “caso” que aconteceu com o nosso avô paterno, Coronel Augusto Ferreira. Nós, leigos, não sabemos explicar como teria surgiu tal sismo. Quem sabe um especialista pudesse fazê-lo?
Conforme fui informado, o jornalista, apesar das dificuldades em obter informações mais precisas sobre a notícia impactante, saiu, juntamente com o fotógrafo, com o intuito de andar pela cidade. A finalidade óbvia seria provar o terremoto e os estragos causados por ele. Não conseguiram o intento. A única solução encontrada foi fotografar algumas casas antigas que já apresentavam paredes externas com rachaduras bem expostas, possivelmente ocasionadas por um alicerce mal feito ou pelo tempo de existência. Uma das residências cuja imagem surgira no referido periódico ficava situada na Rua Silva Guerra, bem no centro da cidade. A parede, durante anos, apresentava fendas bem distintas…
* Foto: Revista.zapimoveis.com.br, meramente ilustrativa.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.