RADAR E RIOBALDO

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Quando nasceu o primeiro filho, o pai tascou-lhe o nome de Riobaldo em homenagem ao personagem do Grande Sertão: Veredas do Guimarães Rosa. E o Riobaldo até que não se deu mal na vida, tornando-se um sitiante razoável na localidade de Lanhosos. De acordo com as boas línguas, produz um queijo de primeira qualidade apreciado em toda a redondeza e vendido também no Mercado Municipal. Assim, todo sábado ele sai por volta de seis horas da manhã para entregar as encomendas aos comerciantes daquele centro comercial. Num desses sábados, ao chegar à BR-365, avistou o amigo Generino, mais conhecido pelo apelido de Radar, amigo de longa data na Comunidade que esperava um ônibus para levá-lo até Patos de Minas. Riobaldo, óbvio, ofereceu-lhe carona com toda satisfação.

A conversa fluía alegremente a ponto do Riobaldo se descuidar e ultrapassar a velocidade máxima de 80 km/h permitida na descida em direção ao Posto da Polícia Rodoviária. E aconteceu um fato raríssimo para ele: foi parado por um policial. Apesar de conhecido por praticamente todos eles, não teve jeito:

– Puxa vida, Riobaldo, que pressa é essa? Você desceu a mais de 100 e a velocidade máxima no trecho é 80.

Riobaldo, não acreditando no que acabara de ouvir, saiu do carro para conversar com o homem da lei rodoviária.

– Eu a mais de 100? Nunca, você me conhece e sabe muito bem que sempre dirijo devagar.

– É, Riobaldo, mas dessa vez você passou de 100.

– Não tem cabimento, não acredito. Como é que você sabe que eu estava a mais de 100 se você está aqui e não lá?

– Ora, Riobaldo, foi o radar que te entregou, não tem como se desculpar, por isso, infelizmente vou ter que multá-lo.

Quando o Riobaldo ouviu, foi até a porta do carona, abriu-a com raiva e disse ao amigo:

– Desce, seu traidor, depois de tantos anos de amizade você me dá essa facada nas costas?

Assustado, sem entender bulhufas, o amigo retrucou:

– Uai, sô, o que está acontecendo, porque está tão nervoso comigo?

– Ora, ora, agora está dando uma de surdo, seu ingrato. Na maior boa vontade te dou carona e aí o guarda vem e fala que você, Radar, me dedurou. Ora, vai ficar aí esperando o ônibus, e não fala mais comigo, ouviu?

O Riobaldo pegou a multa e no Posto Policial deixou o ex-amigo. Só depois de alguns meses é que o mal-entendido foi solucionado e os amigos voltaram às boas em meio a muitas gargalhadas.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 28/02/2013 com o título “Prefeitura em 1916”.

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