Uma característica marcante nos felinos é a presença do bigode. Ele realmente se destaca na sua anatomia. Aparentemente trata-se apenas de um elemento estético que a natureza lhe proporcionou. Mas, como tudo na natureza tem um motivo, tratou de “arrumar” uma utilidade mais específica para ele. Nada de só estética, mas um elemento primordial no dia-a-dia de cada representante da espécie.
Como representante dos felinos, o gato tem exatamente doze fios de cada lado compondo o seu bigode. Os estudiosos no assunto denominam cada um destes fios pêlo sensorial especial. O nome já indica uma atividade além da simples estética. Eles são pêlos diferentes dos demais do corpo, longos e duas a três vezes mais grossos. Cada um deles é dotado de nervos sensoriais que auxiliam o animal a detectar o mais leve sussurrar da brisa diurna ou noturna. São verdadeiros radares que alertam o gato para qualquer aproximação iminente. No escuro, o bigode é essencial para perceber o perigo que ele não enxerga, seja um predador ou um objeto no seu caminho. Os estímulos captados pelos fios são enviados ao cérebro e em questão de segundos produz reflexos necessários à melhor ação para se defender: fugir do predador e/ou apenas se desviar de obstáculos. Isso tudo tem a ver com equilíbrio para se manter adequadamente na posição ideal de reagir às adversidades físicas.
Quando se fala em bigode de gato logo imaginamos aqueles fios compridos em seu focinho. Certo, em parte. Acontece que o bigode do gato é dividido em três grupos. O primeiro grupo é chamado de supraciliar e fica bem acima dos olhos como longos cílios. O segundo grupo é denominado bigode geral e fica ao lado das bochechas. Finalmente, o bigode mistacial, o bigode como é tradicionalmente conhecido e localizado nos dois lados do focinho.
Mas não são só os fios do bigode que compõem a tralha de utensílios usada pelo gato para se equilibrar e sentir, principalmente no escuro, o que lhe rodeia. Estão neste grupo os pêlos das pontas das orelhas, das sobrancelhas e até das solas das patas. Todos estes pêlos mais os três tipos de bigodes são denominados vibrissas.
O bigode mistacial funciona como um verdadeiro radar quando o animal está no escuro. Estudos recentes indicam que há uma ligação íntima entre as sensações do ambiente percebidas pelos fios com o sentido da visão. Quer dizer, mesmo o gato tendo dificuldade de enxergar algo no breu ele percebe o que se mexe em sua volta o suficiente para, neurologicamente, tomar a atitude necessária para aquele momento. Tanto que ao se tocar na ponta do bigode a resposta será imediata: um piscar de olhos. A interação bigodes-visão do felino é tão fantástica, e ainda muito pouco compreendida, que, por exemplo, quando um gato cego andando pela sala se aproximar de um móvel ele saberá que direção tomar unicamente baseado na mudança da corrente de ar ao redor do móvel sentida principalmente pelo bigode mistacial.
Na natureza, os felinos têm o hábito de fechar os olhos quando atacam a presa. Atitude sábia de defesa quanto a um possível revide da caça. Ao mesmo tempo, os bigodes, como que tateando, ficam virados para frente de forma a identificar o possível revide.
As funções de radar e de bengala das vibrissas permitem ao gato o equilíbrio fundamental para tomadas urgentes de atitudes. Ele muda a posição dos fios do bigode mistacial de acordo com o que está fazendo. Quando em posição de descanso os fios ficam alongados, praticamente a 90º da cabeça. Em posição de alerta, seja num simples caminhar ou na caça, os fios se inclinam para frente permitindo que capte as sensações do ambiente.
Outra função importante do bigode mistacial é permitir ao gato perceber se vai ou não caber dentro de uma determinada abertura ou buraco. Os fios têm praticamente a largura do corpo e funcionam como uma espécie de régua. Quando ele sente o desejo de entrar num buraco qualquer, antes de tudo ele enfia e retira a cabeça algumas vezes. O gato simplesmente está medindo o diâmetro da abertura para detectar se cabe ou não dentro dele.
Uma questão ainda polêmica é a condição de cortar ou não os bigodes do gato. A maioria dos entendidos no assunto declara que não se deve cortar, pois a consequência será um animal desnorteado e sem equilíbrio adequado para galgar lugares altos. A raça Sphynx não tem pêlos, mas alguns espécimes têm bigodes. Estes são muito mais “equilibrados” que os outros, atestando assim a opinião da maioria. No entanto, o biólogo Guilherme Domenichelli, do Zoológico de São Paulo, afirma que, diferentemente dos felinos selvagens, os bigodes não fazem tanta falta ao gato doméstico. “O animal de estimação é bem cuidado e pode tranquilamente sobreviver sem os fios, até porque ele cresce rapidamente”, completa. Assim como o cabelo dos seres humanos, o bigode do gato cresce, em média, mais de 1 cm por mês.
* Foto: Biocurioso.blogspot.