No início da década de 1940, Joaquim Paulo da Silva, conhecido como Joaquim Absalão, assuntou com sua esposa Maria a necessidade de morar mais perto da cidade para que os filhos pudessem estudar. A família residia no local onde está instalada a SUINCO. O mais perto da cidade que Joaquim conseguiu chegar é hoje o número 1907 da Avenida Brasil, uma das primeiras três construções surgidas naquele trecho. Estive lá, uma construção humilde de muro baixo daqueles áureos tempos. Bati palmas e uma simpaticíssima senhora de 82 anos me atendeu com um biscoito na mão esquerda e um copo de café na mão direita. Nunca me viu, mas mastigando o petisco foi logo me convidando a entrar… era assim antigamente. Conversando com aquela senhora senti na alma a pureza de sentimentos da raça humana que hoje praticamente não mais existe nas pessoas. Era como se fôssemos amigos há longa data, tamanha a simplicidade e naturalidade da senhora em receber um estranho.
Esta senhora, Lourivalda Paula da Silva Rodrigues, é uma das filhas do Sr. Joaquim: Eu tinha seis anos de idade, papai comprou este terreno e construiu esta casa. Só tinha mais duas casas aqui perto. Aqui era estrada boiadeira que seguia até a ponte e ligava a cidade com a estrada de ferro de Catiara. Lembro de uma água que corria ao lado da estrada que vinha da Lagoa Grande. Depois secaram com essa água. Papai era lavrador, carpinteiro, pedreiro, fazia de tudo, e ainda foi delegado de polícia. Ele criou a gente, oito filhos, nesta casa. Era logo ali o comércio do Zé Saraiva e a casa do Zé Fogueteiro.
Quando Lourivalda se casou com Alzino Marques Rodrigues foram morar na roça, ao lado da antiga ponte do Rio Paranaíba. Com a morte do marido, há quarenta anos, voltou à casa dos pais e lá também criou seus oito filhos. Atualmente moram ela, o filho Joaquim, proprietário da JP Serviços Automotivos (ao lado da residência) e uma neta. E o filho Joaquim, genética pura, fez questão de coar um café antes de minha partida. Esta casa é abençoada, há nela uma textura de sentimentos nobres espalhados pelas paredes corroídas pelo tempo e pelo enorme quintal, mais parecendo uma chácara urbana.
Poucos reparam nesta antiga e humilde casa. É a correria do progresso que dessensibilizou o ser humano? Praticamente ninguém sabe da aura positiva que carrega este imóvel e nem imaginam o quanto de História ele carrega em sua existência. Infelizmente, a inexorável especulação imobiliária não dorme em serviço e já fez inúmeras ofertas à família. Por enquanto estão resistindo, mas esta casa, uma das mais antigas ainda de pé, não demora muito vai ser apenas História. E assim, mais uma porção do espírito salutar do ser humano patense se perderá para sempre.
* Texto e fotos (10/09/2016): Eitel Teixeira Dannemann.