O que são lembranças? Para ser sincera, não entendo muito bem dessa tal de lembrança, não sou de me emocionar com aquilo que se foi. Ora, se passou é porque não me pertencia, mas dou valor do meu jeito, sem exagero para não sofrer. Outrossim, as lembranças nos conduzem para os caminhos da verdade e nos fazem sentir partes da vida. E queiram ou não queiram eu faço parte da vida de Patos de Minas, porque desde o primeiro tijolo assentado passei a pertencer à História desta cidade. Como não há nada que consiga apagar as lembranças grudadas na alma, estou vendo agora bem à minha frente o Binga inaugurando esta praça aí diante da minha fachada. Me lembro bem o dia: 14 de fevereiro de 1960. Só não gostei de terem alterado o nome de Praça dos Boiadeiros para Praça Abner Afonso. Absolutamente nada contra o Abner, que foi um dos cidadãos mais progressistas desta cidade, mas o Boiadeiros explica tudo o que foi este espaço. É, parece que o povo não gostou e até hoje ainda a chamam de Praça dos Boiadeiros, até mesmo os vereadores¹. Tinha nela uma gameleira que o povo considerava enfeitiçada². Bobagem desse povo. Ou não? Uma casa sem lembranças é o mesmo que uma folha sem palavras. Tenho reparado a transformação bruta e rápida em meu entorno. Tudo começou com este baita prédio aí de frente. Várias das minhas colegas já foram trocadas por prédios. É o inexorável progresso que não perdoa, que me perturba dia a dia. Por isso sinto esta irremediável sensação de estar prestes a encerrar o meu ciclo de vida. A verdade, a grande verdade, é que quando eu for ninguém mais se lembrará de mim, a não ser as consciências que me habitaram. Enfim, como diz Mario Quintana, o tempo não para, só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo.
* 1: Leia “Praça Abner Afonso: Nome Que Não Pegou”.
* 2: Leia “A Gameleira Vingativa”.
* Texto e foto (25/02/2017): Eitel Teixeira Dannemann.