PATOS EM 1914: TERRA DE BANDIDOS – 1

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TEXTO: JOÃO BORGES NETTO (1914)

Continuando as minhas impressões, durante o curto espaço de tempo em que por este sertão andei, peço-vos, queridos leitores, licença para relatar-vos algumas coisinhas referentes a Patos e um certo municipio seu.

Até aqui iamos muito bem! Mas, infelizmente, como disem, não ha bem que não acarrete o seu mal, cumpre-me, tambem, notar, depois dos progressos que tem tido Patos, certos factos acontecidos não sò ahi como em Lagôa Formosa. Como filho, dessa terra, não posso e não devo deixar de lamentar a falta de policiamento, que infelizmente, possue Patos. E’ triste, horrivel e horripilante! Pois, è raro o dia em que, em Patos e em seu municipio, não se dêm barbaros crimes, dignos de censura; matam, creio que por prazer. Fazem arrepiar os cabellos ao ler as noticias dos crimes que ultimamente têm se dado ahi nessa terra que ora rejuvenesse. E’ o cumulo dos horrores!!! O cidadão não tem garantia de sua vida, estando exposto a ser atacado, a qualquer hora, por um typo qualquer , dando ideia, como alguem em Lagôa Formosa disse, de como somos quaes outros Caiapòs, e não deixa de ter rasão, visto o que está se dando ultimamente em Patos e seus districtos. E por que? Simplesmente por falta de bom policiamento, de bons mantenedores da ordem publica. O municipio de Patos está infestado de criminosos que incolumes vivem em suas proprias casas, promptos a outros crimes.

Em Lagôa Formosa, por exemplo, ninguem ignora a morte dos Srs. Adolpho Lopes, Antonio Firmo e a do filho do Sr. Jeronymo Martins, que foram assassinados sem se saber por quem!

Faz horror!

Alli, durante á noite, é tal o numero de tiros que certos typos dão a torto e a direito, que não se pode sahir para qualquer fim, estando quem sae exposto a ser alvejado por esses typos desoccupados, elencos de vagabundos, imbecis, perturbadores da ordem.

Atiram pessoas até em suas proprias casas, como se deu, ha pouco, sendo, felizmente, caipora o gajo, pois que errou o alvo.

E o mais engraçado è que ainda certos “petit maitres”, descarregam as suas armas com toda a sem cerimonia, e ainda têm a coragem de o propalarem aos quatro ventos: “dei aquelles tiros para insultar fulano”. Bonito! Alem de uma acção tão hedionda ainda diz com toda a enphase o fim de seu vil papel. A estupidez chegou ahi e… parou…

Outra hora, em pleno dia, sem mais nem menos, uma mulher da vida alegre, lá por coisas de somenos importancia, com toda a força de seus pulmões berra, em pleno largo, insultos e palavrões a quem quer que seja; e por isso fica…

E’ preciso que se ande cauteloso para não se expor, ora a um insulto d’aqui, ora a um chingatorio d’alli. Se houvesse bons mantenedores da ordem, um bom policiamento isso não se daria: não se ouviria dizer que F. matou B.; que F. esbordoou B.; que F. deu tantos tiros para insultar a B.; que F. chingou, em pleno largo, a B.; e finalmente, que F. abusou de sua profissão para requer o maior respeito etc. etc.

Esses perturbadores da ordem e do socego das familias, já deviam ter recebido os seus quinhões, residindo lá no novo chateaux, gozando as delicias do xadrez. Mas, infelizmente assim não acontece.

Foram essas as impressões que teve, no pouco tempo em que ahi esteve em seu torrão natal o

João Borges Netto.

Ouro Preto, 1-5-1914

* Fonte: Texto publicado com o título “Impressões” na edição de 14 de junho de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Gartic.com.br, meramente ilustrativa.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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