O telefone chegou ao Brasil em 1877. O primeiro aparelho foi fabricado nas oficinas da Western and Brazilian Telegraph Company, especialmente para D. Pedro II. Foi instalado no Palácio Imperial de São Cristóvão, na Quinta da Boa Vista, hoje o Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Em Minas Gerais a primeira concessão foi obtida em 1882, para uma rede telefônica em Ouro Preto. Em 1891, foi concedida permissão para linhas ligando as cidades de Leopoldina, Cataguases e São Paulo de Muriaé. A ligação entre Rio e Minas aconteceu em 1895. Em 19 de julho de 1913 o Decreto n.º 3.961 regulou as condições sob as quais o governo do Estado permitia as concessões do serviço telefônico feitas desde o ano anterior. A partir dali, várias outras cidades estabeleceram suas redes.
As autoridades patenses estavam antenadas com o Decreto n.º 3.961. Exatos 2 meses após sua regulação, na sessão da Câmara Municipal de 19 de setembro, Dr. Euphrasio José Rodrigues e Clarimundo José da Fonseca Sobrinho pedem auxílio de 2:500$000 para a construção de uma linha de Patos ao arraial de Lagoa Formosa, obrigando-se logo que for inaugurada, entregá-la à Câmara, como fazendo parte de seu patrimônio. Esta linha foi realmente efetivada através da Lei n.º 161 daquele mês.
A primeira linha telefônica do Município entre a Sede e o arraial de Lagoa Formosa foi um modernismo muito bem recebido. As discussões sobre seus benefícios eram constantes, e procurou-se logo regulamentar seu funcionamento. Na sessão de 13 de janeiro de 1914 foi apresentado projeto propondo incorporá-la ao Município, como proprietário e sob as seguintes condições: será mantida pela Câmara e custeada pelas rendas gerais do Município; serão nomeados empregados para as estações telefônicas, recebendo cada empregado 150$000 anuais e 10$ de suas estações; cobrar-se-á a taxa de $500 pagos adiantadamente de recado transmitido; não pode demorar mais de 10 minutos no aparelho; será gratuito o telefonema às autoridades policiais, judiciais e municipais, para serviço público. Esta regulamentação foi oficializada através da Lei n.º 162 de 16 de janeiro.
Entusiasmadas com a novidade, outras localidades começam a reivindicar a maravilha que aproxima os povos. Na sessão da Câmara de 06 de maio, o vereador José Pereira Guimarães apresenta projeto autorizando o Agente do Executivo a construir outra linha, desta feita de Patos ao distrito de Santana, indo até as divisas do Município de Patrocínio, o que foi oficializado através da Lei n.º 164 de 18 de maio.
Com as duas linhas telefônicas em funcionamento, em pouco tempo as autoridades perceberam que a expansão do meio de comunicação era mais do que necessária para aproximar da Sede as outras comunidades. Pelo vereador Euphrasio José Rodrigues foi apresentado projeto autorizando o Agente do Executivo a auxiliar com a quantia necessária à construção de um ramal partindo de Lagoa Formosa até a sede do distrito de Areado. Na sessão de 10 de janeiro de 1916 a Comissão de Fazenda e Obras autorizou o Presidente a auxiliar a construção de linhas de Patos aos distritos de Areado e Santa Rita (Presidente Olegário), podendo despender até a importância de seis contos pelas verbas dos mesmos distritos, fato efetivado através da Lei n.º 180 de 14 de janeiro. Deste mesmo dia, a Lei n.º 181 autoriza o Agente Executivo a despender a quantia necessária com a substituição dos postes de linha telefônica desta Cidade à sede do distrito da Lagoa Formosa.
O ano de 1916 foi um marco para a telefonia mineira. A Companhia de Telephone Interestadoaes, a principal empresa de telefonia no Estado de Minas, tornou-se um dos ramos da Rio de Janeiro and São Paulo Telephone Company, mais tarde Companhia Telefônica Brasileira (CTB). Em 1929, várias cidades mineiras ainda possuíam redes telefônicas não integradas no sistema CTB. Várias redes foram então reconstruídas e uma grande rede interurbana passou a integrar Minas à principal rede.
Com a modernização da comunicação via telefone, um respeitado comerciante patense vislumbrou a possibilidade de incorporar mais uma atividade aos seus negócios. Em setembro de 1917, o vereador Euphrasio José Rodrigues, por parte da Comissão de Obras Públicas, requer urgência sobre o parecer referente ao requerimento de José de Sant’Anna, o Capitão Juca, pedindo 25 anos de privilégio para exploração, uso e gozo de uma rede telefônica em Patos. Em sessão de 26 de setembro, Dr. Euphrasio apresentou projeto autorizando o Agente Executivo a auxiliar com dois centros telefônicos a qualquer empresa particular que se proponha a assentar telefones na cidade ou no distrito de Santana e, bem assim, fazer ligação com os distritos nas linhas já existentes, o que foi oficializado através da Lei n.º 201 de 02 de outubro. O campo estava aberto para o Capitão Juca. Em 16 de outubro, o negócio foi fechado: a Lei n.º 207 autoriza o Capitão a tocar o empreendimento.
Sob o título “Rede Urbana de Telefones”, o jornal “Cidade de Patos” em sua edição de 23 dezembro de 1917, noticiou:
O Snr. Agente Executivo Municipal acaba de assignar o contracto para a execução de mais este importante melhoramento a ser introduzido nesta Cidade. O concessionario do respectivo privilegio tem já encommendado todo o material necessário, contractado o installador e está envidando todos os esforços para que o serviço fique terminado e seja entregue ao uzo publico, dentro do menor espaço de tempo possivel.
O Snr. Cap. José de Sant’Anna, jà por muitos titulos credor de estima e da admiração dos patenses, dotando agora a nossa Cidade desse novo elemento de progresso, com sacrificio de avultado capital e sem vizar immediatas compensações pecuniarias, ao mesmo tempo que se revela um espirito emprehendedor e progressista, patenteia aos seus conterraneos um acendrado amor pela sua terra natal, honrando deste modo as tradições de sua casa, de sua illustre familia e a memoria de seu venerando Pae [Joaquim José de Sant’Anna] que foi um dos fundadores de Patos e de cujo progresso foi incançavel propugnador.
A Patos de 1918 já possuía eletricidade (inaugurada em 14 de agosto de 1915) e, consequentemente, os devidos postes espalhados pelas ruas da cidade, mesmo que ainda poucos. Aproveitando esta pequena infraestrutura já existente, Cap. Juca Santana não perdeu tempo e distribuiu os fios de suas linhas telefônicas por estes postes. Mas o vereador Agenor Dias Maciel não concordou com o procedimento do Capitão. Em 03 de junho ele apresenta um projeto, aprovado, que autoriza o Agente do Executivo a entrar em acordo com o concessionário do serviço telefônico para retirada dos fios dos postes de iluminação na Rua Olegário Maciel (onde havia a presença de mais postes) e outras, onde seja conveniente, colocando postes especiais para tal. O projeto foi transformado na Lei n.º 217 em 05 de outubro. Não há registros sobre quando, como e se realmente o serviço foi efetuado.
Como foi dito anteriormente, o Cap. Juca adquiriu por 25 anos a concessão da rede telefônica em 16 de outubro de 1917, através da Lei n.º 207. Torna-se então interessante e ao mesmo tempo intrigante um parecer que foi aprovado sem debate na sessão da Câmara Municipal de 21 de janeiro de 1920. Este parecer opina que todos os artigos do projeto de exploração do serviço telefônico por José de Sant’Anna sejam referendados. Pelo projeto José de Sant’Anna teria o “… privilégio exclusivo por (25) vinte e cinco anos, contados do dia da inauguração do serviço, para exploração, uso e gozo de uma rede telefônica nesta Cidade”.
No final de 1918, vindo de Estrela do Sul com a esposa, chegou a Patos um personagem que revolucionaria o sistema de transporte rodoviário na cidade: José Rangel. Empreendedor de monta, José Rangel não perde tempo e em 1920 adquiri do Capitão Juca Santana a concessão de telefonia de Patos, o que torna mais interessante ainda a sessão da Câmara Municipal de 21 de janeiro de 1920 citada no parágrafo anterior. Rangel deu nova organização ao serviço e em 1921 tinha um serviço interurbano interligando Patos a Carmo do Paranaíba e outros lugares por onde passavam seus transportes, como Catiara, Santana, Brejo Bonito e Serra do Salitre. Fazendeiros, entre outros o Dr. Itagiba Augusto da Silva e o sr. Antônio Tolentino, tiveram linhas particulares, ligando suas fazendas à cidade, com grandes benefícios para as populações, notadamente da Cachoeira e do Sertãozinho.
Em 09 de março de 1933, José Rangel se transferiu para Belo Horizonte e posteriormente para o Rio de Janeiro. O que aconteceu com o sistema de telefonia patense após a saída de Rangel é uma incógnita, principalmente pela extinção do interurbano e falhas constantes nas ligações locais. Assim permaneceu até o início da década de 1950. Neste tempo, um grupo de empresários resolveu recuperar, a princípio, somente a telefonia urbana. Em 30 de novembro de 1951, os empreendedores José Roriz da Costa, Abner Afonso de Castro, Genésio e Mário Garcia Roza, Bernardino Corrêa Costa Júnior, Sebastião Alves do Nascimento, Benedito de Melo Amorim e Antônio Ferreira Maciel constituíram a TEPAMISA – Companhia Telefônica de Patos de Minas S/A. com o capital inicial de Cr$ 1.000.000,00 para atender as despesas com a compra e instalação de toda a aparelhagem, o que foi subscrito imediatamente, perfazendo 182 acionistas fundadores. A Ericson do Brasil cuidou das instalações, dos 500 primeiros aparelhos urbanos, inaugurados em 31 de outubro de 1954. Em novembro de 1962, ampliou-se para 1000 aparelhos.
A TEPAMISA prestava um bom serviço local, mas o povo, lembrando que em 1913 foi instalada uma linha interurbana Patos-Santana, não se conformava com o retrocesso. Foi um período em que Patos não se comunicava com o país. Mas eis que em janeiro de 1967 a Companhia Telefônica de Patos de Minas S/A foi encampada pela Companhia de Telefones Brasil Central (CTBC). A referida incorporação tornou-se possível em virtude da venda de 70% do total de ações ordinárias pertencentes ao Dr. Herbert Hengler. A diretoria, na época da incorporação, era composta pelo Dr. Herbert Hengler, Dr. Benedito Corrêa Loureiro e D.ª Iracema Maciel de Castro.
Em 22 de fevereiro de 1967, após dezesseis anos sem interurbano, o vereador Olegário Caetano Porto dá alvissareiras notícias sobre o que está sendo realizado para a instalação de tal serviço, que será realizado dentro de algum tempo. Este algum tempo se estendeu por 15 meses. Finalmente, em 24 de maio de 1968, o serviço interurbano voltou a fazer parte do dia-a-dia dos patenses e uma nova era de modernidade se instalou na cidade. Enfim, Patos de Minas voltava a se conectar com o país e pouco tempo depois com o mundo.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fontes: História da Telefonia no Brasil, de Wellington Bonit; Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca; Uma História de Exercício da Democracia – 140 Anos do Legislativo Patense, de José Eduardo de Oliveira, Oliveira Mello e Paulo Sérgio Moreira da Silva; Patos de Minas: Capital do Milho, de Oliveira Mello.
* Foto 1: Joseboas.blog.br.
* Foto 2: Arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam, publicada em 17/07/2015 com o título “Mesa Telefônica da TEPAMISA na Década de 1960”.