JOÃO BATISTA DIAS MACARRÃO

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DSC02683O substantivo masculino macarrão, a contragosto, foi apelido de João Batista Dias durante muitos anos. Até que um dia se tornou oficialmente parte de seu sobrenome por uma necessidade deveras justificável. “Aqui em Patos tem mais dois João Batista Dias. Vira e mexe isso causava confusão, por isso em 1980, através de aprovação judicial, consegui incorporar o Macarrão ao meu nome. Aí nunca mais deu problema”. E Macarrão é mais um exemplo daqueles forasteiros que adotaram Patos de Minas como sua cidade e também mais um daqueles infindáveis exemplos de cidadãos que não tiveram problema algum em trabalhar ainda garoto, muito pelo contrário, se engrandeceu com isso tornando-se pessoa honrada e respeitada.

João Batista Dias Macarrão nasceu na cidade mineira de Bom Despacho em 26 de janeiro de 1938, um dos 14 filhos do casal Joaquim Antônio de Oliveira e Jovina Dias Teixeira. O pai trabalhava como boia fria nas fazendas da região. A mãe, como doméstica. Na tentativa de melhorar de vida para oferecer mais conforto aos filhos, o casal foi trabalhar na fazenda de Otávio Dias Maciel (filho de Farnese Dias Maciel) na localidade de Cascata, município de Presidente Olegário. Na oportunidade, Macarrão tinha um ano e seis meses de vida. Um ano depois, a família se mudou para Patos. Joaquim continuou trabalhando em fazendas, às vezes como meeiro, e a esposa como doméstica.

No quesito educação só conseguiu completar o primário, no Grupo Escolar Marcolino de Barros. Como os pais precisavam de ajuda financeira em casa, ele e alguns irmãos trabalhavam de engraxate e guardador de lenha. “Se não me engano eu tinha uns 10 anos. Naquele tempo não existia fogão a gás, era só fogão a lenha. Era comum caminhões entregarem lenha nas portas das casas. Aí eu fazia o trabalho de levar toda a lenha para o quintal da casa. Era um caminhão todo dia. Aí, lá pelas seis horas da tarde, eu ia pra porta do Cine Tupã para engraxar sapatos. Como a rua não era asfaltada, sempre tinha sapato pra engraxar, né”.

Foi nessa época dura de guardar lenha e engraxar sapatos que surgiu o famoso apelido. “Eu tinha meus 12, 13 anos e gostava muito de comer macarrão. Um dia já anoitecendo, depois de guardar lenha no Hotel da Luz, fui tomar uma sopa de macarrão lá mesmo. E comi muito, como sempre, porque era de graça, né. Depois fui participar de um programa de calouros na Rádio Clube de Patos, que ainda funcionava na Rua Major Gote, onde é hoje o Banco Mercantil. Era a disputa do cordão, uma nota de dinheiro amarrada no meio de um fio de 3 a 4 metros. A disputa era cada menino ir comendo uma ponta do cordão. Quem chegasse primeiro na nota ficava com ela. Eu já estava chegando nela, mas engasguei e vomitei todo o macarrão do Hotel da Luz no peito do meu concorrente, que era o Paracatu, que foi um tintureiro aqui. E quase todo mundo que estava lá também vomitou por causa da cena. A partir daí, começaram a me chamar de macarrão. E quanto mais eu achava ruim, mais me chamavam de macarrão. Até que fui obrigado a me conformar e depois de muitos anos passei a gostar de ser chamado de macarrão, tanto é que hoje faz parte do meu nome”.

Veio o ano de 1952 e surgiu o primeiro emprego oficial, no comércio de José Carvalho (Casa Santa Isabel) localizado no Edifício Ponto Chic. Pouco depois, para aumentar a renda, começou a trabalhar à noite como garçom no Bar Recreativo, de propriedade do irmão José Dias. “Na época estavam construindo Brasília e muitos ônibus que iam para lá passavam por Patos e o Bar Recreativo era parada para almoço. O José Dias chegou a servir mais de 300 refeições por dia. Foi um bom rendimento e eu também lucrei bastante”.

Foi nessa época, mais precisamente em 1955, que o esporte entrou para sempre na vida de João Batista Dias Macarrão. “Eu tive uma experiência com o futebol jogando como goleiro no Mamoré. Mas o que me agradava mesmo era o ciclismo. Em 1957, o Tiro de Guerra promoveu a primeira corrida de bicicletas da cidade. Lógico que eu participei e, melhor ainda, ganhei, e o prêmio foi uma bicicleta novinha. Foi a primeira de muitas, muitas mesmo, pois ganhei corridas demais e, um grande orgulho, só perdi duas corridas”. Sim, foram sem conta as vitórias de Macarrão, considerado o atleta que mais projetou o nome de Patos de Minas nacionalmente. E ele não ficou só no ciclismo, pois em 1964 passou também a praticar o atletismo em corridas de rua, modalidade que também lhe rendeu inúmeras vitórias nos vinte e cinco em que praticou os dois esportes em competições oficiais e sempre tremulando a bandeira de Patos de Minas.

Enquanto Macarrão praticava seu esporte favorito, em 1961, outro irmão, Antônio Oliveira Dias, em conjunto com Antônio Venceslau Filho, fundaram a Sociedade Eletrodias Ltda., localizada na esquina das ruas Major Gote e Olegário Maciel. E lá foi ele auxiliar o mano no trabalho do novo empreendimento. Cinco anos depois, em janeiro de 1966, Macarrão adquiriu a cota de Antônio Venceslau, tornando-se sócio do irmão. A Eletrodias foi um polo de referência em seu ramo de negócios em Patos de Minas e região. Serviu com dignidade a população até 1998, quando encerrou suas atividades.

digitalizar0001Ajudar o semelhante é outra característica marcante na personalidade de João Batista Dias, que atuou na causa Vicentina durante muitos anos. “Neste trabalho com o pessoal Vicentino, o que mais me trouxe satisfação foi a construção de 16 casas para os necessitados. Quando uma casa antiga era demolida, a gente pedia o material e com ele construí uma casinha simples em lotes doados pela Prefeitura. Tiramos muitas famílias de verdadeiros barracos e oferecemos um lar mais confortável”.

Duas outras obras tiveram a participação decisiva de Macarrão. “Em 1969, ou 1970, foi por aí, o Monsenhor Fleury resolveu fazer uma reforma geral na Catedral de Santo Antônio e foi lá em casa me convidar para ajudá-lo. Se não me engano, eu, o Inácio Queiroz, o Ataíde do Doca e o Geraldinho Ferreira, mais outros que não me lembro agora, formamos uma comissão para arrecadar dinheiro e material de construção. Conseguimos o suficiente para reformar toda a Catedral e ainda construir o pátio que fica na frente dela, que era tudo de terra.” A outra obra foi a reforma geral do Grupo Escolar Marcolino de Barros, acontecida entre junho e dezembro de 1982, por uma exigência da Secretaria de Estado da Educação para a implantação do segundo grau na escola, conseguida nos mesmos termos da Matriz.

O PTC – Patos Tênis Clube, entre 1982 e 1997, esteve sobre a regência de João Batista Dias Macarrão. Primeiro como Secretário do presidente Durval Ramos, depois como comandante chefe. E logo no início enfrentou um grande problema na construção do Ginásio Poliesportivo. “Houve um problema entre a Prefeitura e a empresa que construiu o ginásio, e ele ficou inacabado e o PTC com uma enorme dívida. Então sugeri ao Durval que promovesse bailes com o Baiano para arrecadar dinheiro, terminar a obra e pagar a dívida. Foi um enorme sucesso e conseguimos nosso objetivo”. Já na presidência, Macarrão promoveu uma série de melhoramentos no clube, conseguindo aumentar o número de sócios de 400 para 2600. Foi uma época em que times de basquete, vôlei, atletismo e natação participavam e ganhavam muitos torneios pelo interior mineiro e até fora do Estado, com mais de 200 sócios atletas. Outro fator que colaborou para os melhoramentos e a mantença saudável do clube foram os bingos. “Os bingos foram um sucesso, com carros e muitos outros bons prêmios. Fizemos em conjunto com a Mamoré e a URT. Arrecadamos muito e até conseguimos construir o Panorâmico Tropical Clube, o PTC 2, lá no Bairro Jardim Panorâmico.

Um fato inusitado que vislumbrou a popularidade de Macarrão em Patos de Minas se deu em 1982. A revista A Debulha promoveu uma enquete para destacar os nomes preferenciais dos patenses ao cargo de Prefeito. “Eu fiquei muito surpreso e gostei demais, porque fui o mais lembrado, com 84% das indicações muito mais à frente do Arlindo Porto Neto que foi o eleito. Mas eu nem pensava em entrar para a política, por isso não participei”. Mas na próxima administração, o eleito Antônio do Valle Ramos o convidou para ser seu Vice. Desta feita Macarrão aceitou e teve grande contribuição na área social, construindo mais de 100 casas no Bairro Jardim Aquarius e outras tantas nos Distritos.

O ano de 1994 foi trágico para João Batista Dias Macarrão. Apesar da aparência saudável e atlética aos 56 anos de idade por causa de suas constantes atividades esportivas, uma síndrome genética acumulou colesterol em suas veias durante décadas, sem ele saber, pois, sentindo-se vigoroso, não se preocupava em fazer exames clínicos pelo menos de vez em quando. Foi então que um infarto quase o levou à morte. Operado em Belo Horizonte, recebeu três pontes de safena que o reconduziram à uma vida normal. Tanto que após o encerramento das atividades da Eletrodias, labutou durante oito anos num garimpo no município de Coromandel. Hoje, aos 77 anos, controla o colesterol, faz duas horas de academia por dia e complementa com longas e serenas corridas. O resto do tempo é consumido ao lado do enorme grupo de amigos e admiradores.

Macarrão foi casado com Maria Augusta de Lima (cerimônia realizada em 26 de janeiro de 1969), filha de Ivo Lima e Isolina Ferreira, que ele considera como seus “outros” pais. O casamento se encerrou em 2001, quando amigavelmente se separaram. Tiveram dois filhos (Ivo e João Marcos) e atualmente um neto (Davi).

* Texto e Foto 1 (01/12/2015): Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto 2, do arquivo de Macarrão: Numa corrida realizada durante as festividades da Festa do Milho de 1965, após mais uma vitória, Macarrão percebeu que durante as voltas um garoto, que ele não se lembra mais quem é, estava torcendo por ele. Quando cruzou a faixa, Macarrão o pegou e o colocou no guidom da bicicleta para juntos comemorarem a vitória.

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