Até pouco tempo atrás, se alguém perguntasse quem é João Batista Pacau, ou simplesmente Pacau, poucos dariam a resposta correta. Hoje, aos 27 anos, o maratonista Pacau conseguiu tornar-se conhecido não só no meio esportivo, como também em todo o País pelas suas vitórias em campeonatos importantes. Esta fama veio como um relâmpago, mas não afetou a sua simplicidade e seu relacionamento com amigos e família.
Pacau começou a correr em 1982 e como ele mesmo conta, foi muito difícil se destacar como profissional porque fazia quatro atividades ao mesmo tempo: estudava, corria, trabalhava como sapateiro e fazia caratê. Há cinco anos atrás, ele resolveu abandonar os estudos ao concluir o segundo grau, à profissão de sapateiro, que executou durante oito anos, e o caratê, para dedicar-se exclusivamente às corridas. “Não me arrependo nunca por ter optado pelo atletismo”, enfatiza.
Em toda sua atividade profissional, um dos marcos mais importantes foi o seu primeiro patrocinador, DF Esportes de Brasília, no ano de 1987. Com o dono da empresa, Iolando Amorim, e o treinador Francisco Xavier, ele aperfeiçoou o seu atletismo. A primeira vitória veio também sobre este patrocínio, na corrida de cinco quilômetros de pista em Brasília, no mesmo ano. “Este treinador me mostrou que eu era um maratonista e começou a me orientar para as corridas dentro de minha especialidade, mas disse que eu deveria começar a participar de maratonas com 28 anos”, lembra Pacau.
Em 1988, ele retornou para Patos de Minas, onde passou a treinar sozinho. Neste ano, participou de competições em Minas gerais e em São Paulo. Foi nesta época que começou a despontar como atleta profissional na região e no Estado, com vitórias em Araguari, Uberlândia e Patrocínio. Sua primeira corrida pelo time do Cruzeiro foi em Governador Valadares, em 1988, quando obteve o 4.º lugar. “Não deu para acertar com o dirigente a minha contratação para a equipe”, lembra Pacau. Dois meses depois, conquistou o segundo lugar na maratona do Rio, com percurso de 16 quilômetros e as coisas mudaram de figura. “Foi quando o dirigente do Cruzeiro voltou a me procurar e estou na equipe desde 1989”, acrescenta.
Da Corrida de São Silvestre, Pacau participou quatro vezes. A sua melhor colocação foi no ano passado, quando conquistou o 25.º lugar na classificação geral, 11.º entre os brasileiros e 3.º entre os mineiros. A sua projeção maior, no entanto, foi neste ano (1991), com a vitória na Maratona Internacional de Brasília, em abril, e a Rio Maratona, no mês passado, que teve um percurso de 42 quilômetros e 195 metros e aproximadamente 5 mil atletas. Como prêmio da maratona de Brasília, Pacau ganhou uma viagem de ida e volta para disputar a Maratona de Nova York. “Alguns amigos meus tentaram me desanimar para esta corrida dizendo que tinha mais de 30 mil corredores. Não adiantou. Eu vou correu assim mesmo”, afirma. Só que antes desta disputa ele irá participar de maratonas em todo o País. A próxima será em Belo Horizonte, no dia 14 de setembro, com percurso de 42 km e 195 metros, a mesma quilometragem da corrida de Nova York, que acontecerá no dia 03 de novembro. Ele é patrocinado pela Cerâmica Paranaíba, empresa patense e recebe uma contribuição da Prefeitura Municipal para suas viagens e hospedagens em outras cidades.
Ao longo de cinco anos de carreira, Pacau conquistou cerca de 80 troféus e 50 medalhas, os quais vão estar em exposição na galeria do Centro Municipal de Cultura no próximo mês. De todos ele destaca um troféu recebido em Araguari em 1986, que é quase do seu tamanho (1,74m).
Pacau treina sozinho pela manhã e à tarde, todos os dias, correndo 35 quilômetros. Os pontos preferidos para este treinamento são a Serra do Mamão (a oeste de Patos de Minas), uma fazenda a noroeste, outra à sudeste, na região do Leal e na Lagoa Grande, na cidade. Ele não faz uma dieta especial. Alimenta-se de frutas, verduras, lactobacilos e principalmente, de alimentos com tempero moderado.
O sucesso do maratonista não mudou em nada a sua personalidade. Pacau continua sendo uma pessoa simples e batalhadora. “Muita gente disse que eu ia mudar. Continuo o mesmo”, salienta o atleta, acrescentando: “a maratona de Brasília mexeu com todo mundo na cidade, menos comigo e com a minha família”. Pacau é filho único de Marieta Tolentino e Antônio Pacau e tem sete irmãs. Ele casou-se há seis anos com Eneida Aparecida Braga Pacau, com quem teve um filho, Daniel Washington, de cinco anos. Atualmente Pacau mora no bairro Sebastião Amorim, mas informa que já está construindo sua casa própria no bairro Santa Terezinha, com o dinheiro que ganhou nas corridas e com a ajuda da Cerâmica Paranaíba e da Prefeitura Municipal.
Não é só Pacau quem vai participar da Maratona de Nova York. Uma equipe da Super Rádio Patos fará a cobertura total de sua corrida, na cidade americana. O projeto jornalístico envolve a transmissão ao vivo da maratona, no dia 3, a veiculação de 10 boletins por dia dos preparativos do atleta nos Estados Unidos, além de divulgação e cobertura diária das atividades, treinamentos e competições do maratonista patense. A viagem de Pacau acontecerá dia 26 de outubro. Esta antecipação é para que possa se adaptar à baixa temperatura que vai estar fazendo na época.
* Fonte: Texto publicado com o título “O relâmpago Pacau a caminho de Nova York” na edição de 27 de junho de 1991 do jornal Folha do Paranaíba, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.