MANOEL CAIXETA DE MENDONÇA

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DSC02499O apelido Manezinho acompanha o cidadão Manoel Caixeta de Mendonça desde antes do tempo em que começou a jogar futebol no infantil da URT aos onze anos de idade. O time não foi uma escolha pessoal, mas uma verdadeira imposição paterna. “Meu pai era fervoroso defensor da UDN e o pessoal do Mamoré era PSD. Então ele disse que se eu quisesse jogar futebol jamais poderia ser no arquirrival da camisa verde. Então obedeci e fui para a URT”.

Nascido em Patos de Minas na Fazenda Limoeiro no dia 10 de dezembro de 1936 é um dos seis filhos de Oscar Mendonça e Matilde Caixeta, casal que labutou arduamente para criar a família. O pai trabalhava na agência dos Correios e Telégrafos como guarda-fio, fiscalizando a fiação do telégrafo que ia até o distrito de Alagoas. “Fui várias vezes a cavalo com ele até Alagoas conferindo a linha do telégrafo, às vezes debaixo de muita chuva e lama. Era um trabalho muito importante para evitar interrupções nas linhas”.

Aos sete anos, já morando com a família na cidade e estudando no Grupo Escolar Marcolino de Barros, Manezinho ia praticamente todas as tardes à Fazenda Limoeiro. “Lá eu levava comida em enormes gamelas para meus tios que trabalhavam na roça. Aproveitava e trazia na bicicleta cachos de banana que vendia na cidade. Foi assim, desde cedo, que comecei a trabalhar para ter meu dinheirinho”.

Antigamente a Praça Antônio Dias era conhecida como Larguinho do Joãozinho Andrade, por causa do famoso comércio de João Borges de Andrade¹ que funcionava na esquina com a Rua Major Gote. Era naquele espaço que o jovem praticava seu esporte favorito com uma turma de amigos. E entre os estudos e o lazer, era preciso “trabalhar” para ganhar uns trocados. “O Jacques Ambrósio tinha uma irmã, D. Nenê, que fabricava biscoitos e pão de queijo. Como ela gostava muito de mim, me chamou para fazer entrega de seus produtos que eram muito vendidos. Então, era muita entrega e assim ganhava um dinheirinho e ainda de vez em quando ganhava biscoitos e pão de queijo que era uma festa lá em casa”.

Como a condição financeira da família era modesta, Manoel Mendonça deixou os estudos quando completou o primário para trabalhar mais assiduamente. Arrumou uma caixa de engraxate e foi trabalhar em frente ao Edifício Ponto Chic. “Juntando o que eu ganhava na entrega de biscoitos e com o engraxate dava para assistir todos os domingos as matinês do Cine Tupã e ainda comprar muitas coisas”.

Em 1952, com 16 anos de idade, Manezinho já tinha saído do infantil e migrado para o juvenil da URT. O técnico era Vítor Barcelos e o presidente Leopoldo Mundim, sócio na empresa de ônibus São Cristóvão. Enquanto ganhava títulos com a camisa azul, foi na São Cristóvão, a convite de Leopoldo, o seu primeiro emprego oficial: cobrador. As viagens nas jardineiras tradicionais da época eram duras, para Paracatu e Araguari, geralmente das seis da manhã às dez da noite, em estradas ora poeirentas, ora lamacentas. Manoel não confirma, mas parece que foi neste emprego que seu tino comercial se aflorou pela primeira vez. “Eram viagens muito cansativas com pouquíssimas paradas. Reparei que alguns passageiros sentiam sede. Então tive uma ideia. Quando eu dormia em Araguari ficava no Hotel Central. Ao lado tinha o bar do Sr. Lazinho. Ai eu perguntei a ele se me emprestava uns cascos de guaraná daqueles pequenos para vender no ônibus. Na maior boa vontade ele emprestou um engradado, sem gelo mesmo. Antes de chegar na metade da viagem eu já tinha vendido tudo. Logo eu passei a levar dois engradados. Aí o motorista ficou com ciúme porque achava que eu estava ganhando mais dinheiro que ele”.

Na época do trabalho na empresa São Cristóvão, Manezinho começou a jogar no time de adultos da URT, que não era denominado de “profissionais” como hoje, já que o futebol era amador. “A gente não ganhava absolutamente nada e ainda tinha que levar a chuteira. Eu ainda levava a camisa de treino porque não gostava de usar aquelas camisas suadas e com cheiro nada agradável. Mesmo assim era prazeroso jogar bola com toda aquela turma de craques. Quando tinha jogo e eu estava em Araguari, o Leopoldo Mundim pagava um avião pra me buscar. Bons tempos onde fiz inúmeras amizades. Pena que poucos ainda estão vivos. Parei de jogar aos 30 anos de idade quando o futebol começou a se profissionalizar e vir jogador de fora. Não agradei e parei. Ainda joguei um pouco no São Vicente a convite do Tião do Jaime e no Marta Rocha”².

Em 1955, Manoel Mendonça foi servir o Tiro de Guerra. Cumprida a missão, aos 19 anos de idade sua vida começou a tomar um rumo certeiro em busca da estabilidade financeira. “Meu pai ia muito no armazém do Geraldo Machado para prosear. Um dia o Geraldo falou para ele construir um cômodo pra mim, pois ia me dar alguns produtos para começar um negócio. Meu pai então construiu um pequeno cômodo lá na Praça Antônio Dias, muito pequeno, 4 por 4. O Geraldo me deu uma lata de querosene, uns dez pacotes de macarrão, umas três garrafas de pinga, um pacote de fumo. Assim fui tocando o pequeno negócio, aumentando as prateleiras e quantidade de mercadoria até surgir o meu armazém propriamente dito, o Mendonça”.

MANEZINHOCom 23 anos, Manezinho se casou com Lourdes Gonçalves dos Reis. “A família da Lourdes morava perto do campo da URT e eles iam aos jogos. Num deles a conheci. Fiquei amigo da família. Casamos em 05 de dezembro de 1959”.

O Armazém Mendonça até hoje é lembrado pelos mais antigos. E estes recordam dos “bons tempos da caderneta”. “Fui quem mais teve caderneta na cidade, mesmo havendo outros armazéns muito maiores que o meu. Eu entregava de bicicleta, depois comprei uma lambreta. Enquanto eu entregava, minha irmã ficava no armazém. Depois arrumei um funcionário pras entregas. Depois consegui algumas representações que melhoraram o negócio. Um grande impulso foi quando comecei a vender o milho híbrido da Agroceres, com a força dos amigos Vanir Amâncio e José Ribeiro de Carvalho, este na época gerente da Agroceres. Como a rodoviária era ali perto, o pessoal da roça vinha aqui comprar o milho e eu entregava e embarcava nas jardineiras. Assim o povo se acostumou a comprar milho comigo. Fui o maior vendedor de milho Agroceres de toda a região”.

No final da década de 1960, Manoel Mendonça considerou que deveria aproveitar o negócio do milho híbrido e enveredar mais profundamente por esse caminho, abandonando o ramo de gêneros alimentícios. Em parceria com José Ribeiro de Carvalho e Hélio Amorim, montou uma empresa de produtos agropecuários, a Casa do Agricultor, que funcionou na Rua Teófilo Otoni entre as praças Antônio Dias e Desembargador Frederico. “Lá vendia muito sacaria, em falta nas lojas da época. Nós vendíamos milho para Pará de Minas, Bom Despacho, Belo Horizonte. Chegamos a ter dois caminhões de entrega. Até o Felício Brand, ex-presidente do Cruzeiro, foi nosso freguês comprando milho para sua fábrica de macarrão”.

Poucos anos depois, em 1971, José Ribeiro de Carvalho estava à frente de outro negócio lucrativo, a Cereais Patureba, empacotadora de feijão. “Eles não estavam dando conta do negócio. Como o Zé Ribeiro era meu sócio na Casa do Agricultor, me chamou pra ser sócio da Patureba com 10%. Não aceitei. Aí ele ofereceu igualdade. Eu devia estar com 35 anos. Aí fechamos a Casa do Agricultor e eu fiquei só na Patureba”.

O tino comercial de Manoel Caixeta de Mendonça alavancou os negócios da Cereais Patureba. “Compramos uns lotes na Rua Ouro Preto, próximo ao Cemitério, e montamos uma máquina de beneficiar arroz comprada do Pacífico Soares. Foi um bom negócio porque ainda os lotes não eram valorizados, ficava longe do centro. Vendemos muito arroz e feijão empacotado para São Paulo. Naquela época era só feijão roxinho. Aí começamos a vender adubo, fizemos até depósito nos lotes. E era eu que tocava os negócios. Foi o início da Terrena de hoje”.

Em 1985, Manezinho vendeu sua parte na Patureba para o José Ribeiro, que acabou por ser o mandatário da hoje Terrena Agronegócios. O afastamento teve o seu objetivo. “Eu estava cansado daquela vida de empresário, queria em pouco de sossego, queria mexer com fazenda e pescar muito, coisa que até hoje é meu lazer preferido”.

Manoel Caixeta de Mendonça, aos 79 anos de idade, se considera um homem feliz e realizado profissionalmente. “A melhor coisa pra mim é ver meus três filhos (Luciano, Rosana e Lourival) criados e retos na vida e a convivência com amigos de longa data, seja nas pescadas ou simplesmente batendo papo tomando uma geladinha. Ah, tenho também cinco netos”. Perguntado sobre a juventude de hoje, ele faz cara de poucos amigos. “Veja só, eu comecei a trabalhar garoto ainda. Para ter meu dinheiro já trabalhava com sete anos, estudava e trabalhava. Muitos homens daqui que se tornaram honrados começaram cedo também. Então, antigamente você podia trabalhar, não importando a idade. Hoje o jovem não pode trabalhar. Se ele não trabalha, não tem seu dinheiro. Então o que ele faz? Não precisa nem responder, né, está aí pra todo mundo ver”.

NOTA: Manoel Caixeta de Mendonça faleceu em 30 de janeiro de 2024.

* 1: Leia “João Borges de Andrade”.

* 2: Leia “Marta Rocha Futebol Clube”.

* Texto e foto 1 (07/10/2015): Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto 2: Manezinho em 1960 nos tempos de jogador da URT, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann, publicada em 29 de maio de 2014 com o título “Cinco Craques da URT de 1960”.

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