CRIME, ZOMBARIA E MISTÉRIO COM A LÁPIDE DE JOSÉ FURTADO DE ARAÚJO

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LÁPIDELuciana Esteves da Fonseca é 1.ª Tesoureira e administradora da página do Facebook da Sociedade Recreativa Patense. Em 23/04/2015 ela enviou ao EFECADEPATOS a seguinte mensagem:

Olá, meu nome é Luciana, sou diretora da SRP e administradora desta page. Acompanho suas publicações há muito tempo, e há algumas semanas atrás, fiquei surpresa com uma coisa que observei, e gostaria de saber se você sabe algo a respeito. Nasci e passei a maior parte da minha vida nas imediações da Praça Dom Eduardo, e só agora vi uma lápide sobre aquele “palanquinho” que fica em frente ao CNSG. Ali é um túmulo? Quem foi José Furtado de Araújo? Este é o nome que está lá… e porque naquele local? Ou será alguma brincadeira de mau gosto que fizeram?

No outro dia, em visita ao local indicado por Luciana, foi verificada a presença da lápide – depauperada pelo tempo – que apresenta o nome de José Furtado de Araújo com data de nascimento e falecimento (18/06/1883 – 06/05/1961) e os seguintes dizeres:

Saudade de sua esposa Laura Francisca de Jesus e seus filhos José Maria, João, Manoel, Manoela, Laura, Pedro, Jocelin, Joaquim, Aristeu, Lindaura. A morte nos separa dos entes que amamos com ternura no mundo, porém a fé nos ensina que alem seremos novamente unidos, para nunca mais nos separar. Stº. Agostinho.

Qual o motivo da presença da lápide de José Furtado de Araújo naquele local que não é túmulo? Luciana, quando se perguntou “Ou será alguma brincadeira de mau gosto que fizeram?”, estava já adivinhando. Um funcionário do Colégio Nossa Senhora das Graças (Escola das Irmãs) afirmou que aquela lápide havia surgido do nada e que só poderia ter sido roubada do cemitério e colocada lá.

Se a lápide não estava no local adequado, que é no túmulo do José, de onde foi roubada? Cemitério Santa Cruz? O funcionário deste, Murilo de Lima Maciel, muito solícito, apresentou os dados necessários registrados. E aqui se inicia um mistério, numa época em que o gentil Murilo ainda não havia surgido em Patos de Minas. Mesmo com dados digitalizados, há ainda o arquivo de cartões de registros datilografados dos tempos antigos, velhos cartões amarelados. Num deles, no verso, consta o nome José (xxxxx) Soares de Araújo, assim mesmo, rasurado, como proprietário de um Registro de Carneiro/Jazigo Perpétuo com os seguintes dados: processo 38.417 de 05/02/1963; pago Cr$ 2.555,00; talão 695; conhecimento 49 de 07/03/1963; localização Setor C, quadra 15, Ala 1. A seguir vem um espaço para registrar os sepultamentos. E neste espaço está datilografado o nome de José Furtado de Araujo, sepultado em 07/05/1961 com o n.º 09.435.

A coisa se complica quando no anverso do cartão amarelado está registrado o nome de “José Furtado de Araujo Junior” com o mesmo número de sepultamento anterior (09.435), sepultado na mesma data (07/05/1961) e agora com as seguintes características: 78 anos, casado, cor branca, filho de José Furtado de Araújo e de D. Maria Madalena de Jesus. Está demarcado o seu território no cemitério: Setor C, Quadra 15, Ala 1, Túmulo 8, Livro 21, folha 225. Ainda neste anverso tem a observação: terreno requerido.

Por lógica dedução, José Furtado de Araujo foi sepultado em 07/05/1961 e o jazigo comprado por José Soares de Araujo em 07/03/1963. Mas, e o sepultamento do “Júnior” no mesmo dia? Será que pai e filho foram sepultados no mesmo dia? Seria este Junior filho do José da lápide? Mas como, se na lápide não consta o nome do Junior? E mais: na lápide consta o nome de “Laura Francisca de Jesus” como esposa de José Furtado de Araujo, mas no cartão consta que o Junior é filho de “Maria Madalena de Jesus”. E se este Júnior tinha 78 anos, quantos anos teria o pai? E o retrato danificado, é do José ou do Junior? Enfim, qual a relação de José Soares de Araujo com os dois sepultados? Incompreensível!

Assim como incompreensível foi para Murilo constatar a ausência da lápide no jazigo. E mais incompreensível ainda quando seus olhos se depararam com o retrato em auto relevo de José danificado. É evidente que tentaram destruir a imagem do morto. Por que o serviço não foi concluído?

De acordo com o artigo 210 do Decreto-Lei n.º 2.848 (07/12/1940), violar ou profanar sepultura ou urna funerária (destruição, subtração ou ocultação de cadáver) dá pena de reclusão de um a três anos e multa. A profanação pode se dar no intuito de furtar artefatos da sepultura (como lápides) ou ornamentos pessoais de valor que tenham sido enterrados junto com o corpo do defunto. Considerados como ladrões de túmulos e sepulturas, muitos deles chegam ao cúmulo de atentarem contra o tal artigo 210 e roubarem os próprios cadáveres. E quem surrupia um cadáver de seu leito eterno tem lá seus motivos, incompreensíveis para nós outros. Quanto às lápides, elas não têm valor econômico substancial, mas esse tipo de furto deixa as famílias das pessoas já falecidas muito comovidas. No caso presente, furtaram apenas a lápide para depositá-la noutro lugar.

Afinal, que mistério envolve o roubo da lápide de José Furtado de Araújo ou José Furtado de Araújo Júnior para depositá-la em outro lugar fora do cemitério e a tentativa de destruir seu retrato presente no túmulo? Como disse a Luciana, seria apenas uma brincadeira de mau gosto? Se foi, bota mau gosto nisso. Poderia ser alguém ou várias pessoas inimigas da família do morto? Todo o processo é realmente um enorme mistério, desagradável mistério!

* Texto e fotos (24/04/2015): Eitel Teixeira Dannemann.

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