UM CRIME CONTRA A CIDADE

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ATEXTO: OSWALDO AMORIM (1976)

Passo pela Praça do Mercado e vejo, com tristeza e revolta, um novo atentado contra a cidade, que está a exigir do Prefeito Waldemar da Rocha Filho a mesma coragem e decisão reveladas no episódio da Rua Ouro Preto e que a salvaram de um estúpido estreitamento.

Pretendia continuar escrevendo sobre a conveniência da estatização do fosfato, tão importante para a economia brasileira quanto o petróleo. Mas não posso me calar diante desse crime contra a cidade e cuja denúncia não pode ser adiada, pelo risco de se tornar um fato consumado. Tenho que gritar enquanto é tempo. E Deus queira que consiga levantar a opinião pública e motivar a pronta ação do prefeito.

Por onde vai prosseguir a ampla rua Agenor Maciel, varando os terrenos do antigo pomar do saudoso Juca Santana, começa a subir os alicerces de uma construção que, se não for bloqueada a tempo, irá roubar largo espaço à rua.

Seria cômico se não fosse sério: Justamente quando a cidade mais precisa de vias largas, devido à visível multiplicação dos veículos, procura-se estreitá-las, para ampliar os lucros imobiliários. Ora, quando o principal meio de locomoção de Patos de Minas era o cavalo, nossos antepassados rasgavam ruas, praças e avenidas amplas. Agora que a cidade cada vez mais se enche de carros e caminhões, riscam-se ruas estreitas e se esquecem as avenidas e as praças. E até becos repontam aqui e ali, a descaracterizar o traçado de uma cidade famosa pela largueza de suas vias públicas.

Entre a parte antiga e a nova da cidade há uma nítida diferença. A última, pela necessidade dos tempos atuais, deveria ser incomparavelmente mais ampla. Mas, ironicamente, acontece exatamente o contrário. A parte nova, de modo geral, nem sugere a amplidão da antiga.

Voltando à rua Agenor Maciel, quero chamar a atenção do leitor para um ponto básico. Quando se vai espichar uma rua, tomam-se por padrão as medidas anteriores. Daí para mais. Nunca para menos.

Além disso, é preciso observar que a rua Agenor Maciel é a única rua paralela à rua Padre Caldeira, que se alonga desde a praça da Rodoviária até a entrada da Vila Garcia. Seu prosseguimento melhorará a comunicação entre as praças da Rodoviária e do Mercado com a saída para a Mata dos Fernandes, na Vila Garcia e do nascente bairro anexo¹, criado pelo Tonico do Amadeu, com o centro da cidade.

Este não é o primeiro atentado na área da praça do Mercado. O primeiro foi o próprio Mercado, que ocupou a praça. Claro que se tinha de construir o Mercado, um bem para a cidade. Mas não em cima de uma praça, um mal irreparável. E logo ali perto se fez a Estação Rodoviária² em cima de outra praça tradicional. Mais acima perpetrou-se o provavelmente maior crime já cometido contra uma cidade: a destruição da bonita e aprazível mata do Juca Santana, que deveria ser o nosso Parque Municipal.

É preciso um basta a tanto egoísmo, tanta insensibilidade e desamor a Patos de Minas, que devemos amar não por ser bela e importante, mas sobretudo por ser nossa.

* Fonte: Texto publicado na edição de 29 de abril de 1976 do Jornal dos Municípios e republicado na edição n.º 24 do jornal O Tablóide de 29 de março de 1997, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.

* Foto: Redeclaret.com.

* 1: Referência ao atual bairro Jardim Centro.

* 2: Referência à antiga Estação Rodoviária na Praça Desembargador Frederico.

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