Problema sério aconteceu há algumas semanas em uma das escolas públicas estaduais de Periquitinho Verde, mas que só agora se tornou conhecido do povão porque vocês sabem como são as coisas em cidade pequena, não é mesmo? Principalmente quando gente importante, aquela do andar de cima, está metida bem no meio da confusão.
Pelo que se ficou sabendo, tudo começou quando dona Conceição Zoroastro, professora de português no grupo escolar onde aconteceu o episódio ora relatado, preparou a prova final que seus alunos deveriam fazer. Tirando as perguntas relativas à parte gramatical, pois elas nada têm a ver com o caso, a redação pedida, com um máximo de trinta linhas e valendo um bom número de pontos, deveria abordar, ao mesmo tempo, temas como monarquia, sexo, religião e mistério. Ou seja: uma mistura completa, só para complicar a vida dos que precisavam de nota mais alta.
Aparentemente, isso parece ser uma rematada tolice, uma besteira sem tamanho, porque como a monarquia ainda sobrevive apenas em alguns poucos lugares do mundo, ela interessa, também, a bem pouca gente, e mesmo assim muito mais como curiosidade que por qualquer outro motivo. Afinal de contas, acho que abaixo da linha do equador podem ser contados nos dedos os que estão dispostos a entoar com cara séria o “Deus salve a Rainha”, e acredito que ainda vai sobrar dedo!… Por sua vez, religião não combina com o sexo liberado e escancarado que é praticado nos dias de hoje por quem joga no time de lá, no time de cá, e no time do meio, enquanto mistério é um assunto que o povo já não se mostra disposto a aceitar como cordeirinho porque foi isso o que ele aprendeu com o jornalismo bisbilhoteiro, para uns, ou investigativo, para outros, que prevalece atualmente nos órgãos da imprensa diária e nas revistas semanais. Acontece que a professora Conceição achou que tinha que ser desse jeito, e como ela era a dona da matéria, e por isso mesmo detentora da palavra final sobre o assunto, foi desse jeito mesmo que ficou sendo.
No dia e hora do exame os alunos primeiro ficaram sabendo que estariam liberados tão logo respondessem às questões propostas, depois receberam as folhas impressas, e por fim trataram de cumprir suas tarefas. Passados poucos minutos, o Joãozinho, afilhado predileto do prefeito local Noraldino da Costa Penteado, também conhecido como Nhonhô Trambique, levantou-se de sua carteira, foi à mesa da professora, entregou sua prova e saiu imediatamente da sala. E foi aí que o tumulto começou. Porque a professora Conceição ficou curiosa com a presteza do Joãozinho, deu uma passada de olhos em sua redação e quase caiu da cadeira, escandalizada com o que acabara de ler.
Passado o susto inicial, a mestra entregou o comando da turma de alunos a uma outra professora e escafedeu-se da sala em passadas rápidas, rumo ao gabinete do diretor do educandário, onde os dois ficaram trancados por um bom tempo. Quando saíram, a decisão estava sacramentada: o Joãozinho seria reprovado, e como se isso não bastasse, seu pai deveria providenciar a transferência do menino para qualquer outra escola, lá mesmo em Periquitinho Verde ou até mesmo na China, porque a verdade é que nenhum dos professores do educandário, ou dos membros da associação dos pais, perderia sequer uma hora de sono em conseqüência do que acontecesse dali para frente.
Mas o pai do Joãozinho discordou da decisão, e como ele era primo do prefeito Noraldino, que por sua vez se dava muito bem com o senhor governador do estado, sua reclamação a quem de direito logo começou a movimentar a roda da política, e por causa disso, tanto professora como diretor foram intimados a se explicarem na Secretaria Estadual de Educação.
Foi nessa hora que o caso se tornou público, ganhou espaço nos jornais, o prefeito cutucou o chefe do governo estadual, e como esse vislumbrou a possibilidade de tirar algum proveito daquele desentendimento educacional, determinou que a audiência fosse realizada o quanto antes, e seu resultado divulgado pela imprensa como demonstração inequívoca de que o Estado que ele administrava não era nenhuma casa da mãe Joana.
Do que aconteceu nessa reunião é suficiente dizer que a prova do Joãozinho foi apresentada ao secretário e lida por ele, que no final de tudo considerou que o aluno estava certo, mesmo tendo usando em seu trabalho uma palavra pouco refinada, mas mesmo assim conhecida e dita por todo mundo, e por isso mesmo decidiu substituir o diretor da escola, transferir a professora para um outro colégio, e garantir ao pai do menino que ele não precisaria procurar lugar para o seu filho estudar.
O que ninguém soube explicar foi como uma cópia da redação que causou tanto embaraço acabou sendo colocada à disposição de quem quisesse, e por isso se ficou sabendo que o texto problemático, falando ao mesmo tempo dos temas monarquia, sexo, religião e mistério, dizia apenas o seguinte: “Mandaram a rainha tomar no c… Meu Deus! Quem terá sido?”