ZONA BOÊMIA EM 1995: REVITALIZAÇÃO E VALORIZAÇÃO

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BA zona boêmia de Patos de Minas passa por um processo de desativação, desencadeado há alguns anos pela coragem e visão de corretores e empresários. Hoje os donos de empresas que adquiriram terrenos e se instalaram na região central da zona – Ruas Padre Brito e José de Santana (entre Dr. Marcolino e Barão do Rio Branco) – têm bons motivos para comemorar. Seus imóveis valorizaram entre 150% e 500%, desde que a prostituição começou a mudar de endereço.

“Ganhou dinheiro quem comprou imóveis no local e os donos de casas noturnas que decidiram desativá-las”, conta o corretor e empresário Leonardo José da Silva, proprietário da Léo Imóveis. Ele fala com conhecimento de causa. Há três anos, Leonardo adquiriu por cerca de 18 mil dólares, o prédio onde funcionava a Pensão da Lé, uma das mais famosas e frequentadas casas de encontros da zona boêmia. “Esse imóvel tem 400 m² e agora vale quase R$ 100 mil”, comemora Léo. O corretor se considera um dos responsáveis pelo fim da prostituição na Rua Padre Brito, onde só existe um pequeno foco atualmente. Além de comprar, ele também intermediou muitas vendas de casas ocupadas pelos conhecidos “redevus”.

Quase todas as casas de encontro da Rua Padre Brito foram transformadas em pontos comerciais ou sedes de pequenas indústrias. Outras, foram simplesmente fechadas ou demolidas pelos novos proprietários. “Num futuro muito próximo, essa será uma das áreas mais nobres da cidade”, aposta um dono de terreno no local. Interesses à parte, a previsão não é um sonho, principalmente porque a rua fica a pouco mais de 200 metros da Prefeitura e do Fórum.

As ruas José de Santana e Padre Brito já abrigaram mais de 60 casas de encontros. Hoje, restam cerca de vinte. Mas nos últimos anos não foi só de endereço que a prostituição mudou. As casas de zona, com portas abertas para todos os interessados (e curiosos) estão desaparecendo.

Na Rua José de Santana, a situação é parecida, pelo menos no trecho que vai da Doutor Marcolino até a Barão do Rio Branco. Cerca de 12 empresas já se instalaram ali, a maioria nos últimos cinco anos. A maior delas é a Ducks Uniformes, uma das principais indústrias de confecções da cidade. “Fui o primeiro a me instalar com uma firma no quarteirão central da zona”, se orgulha o proprietário da Ducks, Sancho Matias. Segundo o industrial, o primeiro terreno da empresa foi adquirido em 1989, numa sociedade com Antônio Andrade, do Grêmio de Judô Oton Rego. “Muita gente me chamou de doido, criticou minha decisão, mas fui com a empresa para a zona sem nenhum preconceito e construí o prédio com o Antônio Judô”, observa Sancho. Em 1991, ele adquiriu mais um terreno no local, para ampliar a sua fábrica. O imóvel, de 360 m² custou apenas 2.500 dólares – “o preço de uma moto pequena”.

“Se pudesse, teria comprado toda a zona”, brinca o empresário e serralheiro Osmar Elias da Silva, que instalou sua empresa no início da zona boêmia em 1965. Ele foi o primeiro empresário a se interessar pelos terrenos baratos, no centro da cidade. “Eu vi que o negócio das mulheres não iria atrapalhar o meu, e que a localização podia aumentar minha clientela”, explica o proprietário da Serralheria Santa Inez. O senhor Osmar Elias tem orgulho do pioneirismo e garante que nunca teve qualquer problema com as vizinhas prostitutas. “Sempre trabalhei à noite, fiz até muitos serviços para elas e nunca tivemos qualquer atrito”. Ele atuou também como incentivador dos outros empresários. “Aconselhei muita gente a trazer seus negócios para cá, porque o ponto era muito bom”, comenta Osmar.

Em Patos de Minas, o chamado “comércio do prazer” se disseminou por vários bairros, em casas que oferecem maior discrição, mulheres jovens, bonitas e maior conforto aos clientes. Geralmente, elas têm muros altos e um porteiro, para controlar a entrada; se localizam em bairros mais afastados ou em chácaras. Na maioria das vezes, essas casas de encontro são conhecidas pelos nomes de suas proprietárias: Marilda, Lurdinha, Boiadeira, Lia, Joaninha e outras. Algumas são nominadas como casas de massagem ou boate – Big House e Tropical, por exemplo. As garotas são como funcionárias e devem obediência à dona da casa.

“As meninas que trabalham comigo cobram entre R% 70,00 e R$ 100,00 por um programa”, conta a gerente da House Massagens, uma casa de encontros localizada na Rua Barão do Rio Branco. Segundo ela, suas garotas são documentadas, vão ao ginecologista todo mês, tomam anticoncepcionais e só têm relação com os clientes que usam camisinha.

A gerente está no ramo da prostituição há mais de 20 anos e só trabalha com “profissionais” de fora, porque as “meninas da própria cidade trazem problemas”. Ela admite que o mercado de prostituição caiu muito nos últimos anos, por causa da liberação sexual e o surgimento da Aids. Mesmo assim, garante que seus clientes são profissionais liberais e empresários. A maioria das garotas de programa têm entre 20 e 25 anos, mas existem mulheres mais velhas também. Elas são orientadas e treinadas para divertir o cliente e fazer com que ele gaste também com bebidas. A frequência de parceiros é variável. “Às vezes, ficamos até três dias sem clientes. O movimento é maior nos fins de semana e durante a quaresma”, revela a gerente da House.

Embora muitos anos depois, outro que acreditou no local foi Noraldino Borges de Oliveira. Desde 1993 sua empresa – a Atacadista Kolosso – está instalada onde funcionava a Pensão da Lé (esquina da José de Santana com Padre Brito). “No começo, tive que aturar muitas brincadeiras, mas confiei na potencialidade do ponto”, observa o comerciante. “Essa área é muito central, não tinha por que ficar abandonada, sem empresas”, acrescenta.

Interessado direto na desativação da zona boêmia, o empresário Artur Gonçalves da Silveira, proprietário do Café Cristal, tem tomado a iniciativa de “limpar” a região. Até agora, ele já comprou 10 imóveis na área do comércio de prostituição. “Quase todas as casas que comprei foram desmanchadas, porque isso facilita a desativação de outros pontos”, afirma Arthur Gonçalves.

O certo é que a desativação de uma casa de encontros acaba facilitando o fechamento de outra. O mesmo acontece com a instalação de empresas no local. Depois da chegada da Ducks e do Grêmio de Judô, cerca de outras oito firmas se instalaram no quarteirão central da zona. Cada sede de empresa construída representa a eliminação de dois ou mais prostíbulos de uma só vez. O resultado é a instantânea valorização dos imóveis.

* Fonte: Texto de Dércio Rodrigues publicado com o título “Zona Boêmia Valorizada” e subtítulo “Empresas fazem prostituição mudar de endereço” na edição de agosto/setembro de 1995 da revista Phatos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: De Slideplayer.com, meramente ilustrativa.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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