UM PASTOR NA ZONA BOÊMIA

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Nos áureos tempos da Zona Boêmia¹ na Rua Padre Brito e adjacências, os bares e botecos do entorno tinham muito movimento durante o dia e mais ainda durante a noite e de madrugada, quando a mulherada punha-se à disposição para o árduo trabalho de satisfazer os sonhos eróticos da homenzarada, a maioria deles casados, e isso principalmente no auge da exploração do gado Zebu, quando correu muito dinheiro em Patos de Minas².

Certa vez, num dos afamados botecos, na esquina da citada Rua Padre Brito com sua colega Silva Guerra, o Zé Birosca saboreava uma das melhores pingas de então, a Segura o Tombo, destilada em Paracatu, e ainda uma porção de jiló recheado com toucinho e outros temperos que, muitos ainda se lembram e até as trabalhadoras do sexo adoravam, quando adentrou-se ao estabelecimento um daqueles pastores evangélicos fanáticos e mais chatos que o tal do chato, que era comuníssimo  na época e que hoje por sinal anda sumido, e o pastor, e não o ácaro, danou a passar lição de moral aos muitos presentes:

– Pecadores, adoradores de Satã, vocês ficam aí se encharcando de álcool para depois se fornicarem com as prostitutas. Se continuarem com esses malditos vícios, todos vocês, sem exceção, vão arder nas chamas do Inferno. O tempo é curto para a salvação de vocês. É curto, mas aqueles que agora desejam morar no Céu em companhia de Jesus Cristo e seu Pai, que digam em voz alta: Eu quero!

O relógio marcava quinze para as seis da tarde. Onze desocupados estavam presentes. Nenhum deles, incluindo o dono do boteco, se dignou dizer o eu quero. O pastor não desistiu e bisou o discurso. Nada. Enfim perguntou:

– Ninguém de vocês quer agora a salvação do Céu?

Foi o Zé Birosca que respondeu por todos:

– Não!

– Vocês vão morrer um dia e nesse dia preferem ir diretos para o Inferno ao invés do Céu? – indagou o pastor, mais irado que político quando ouve que querem acabar com seus privilégios.

E o Zé Birosca mais uma vez respondeu por todos:

– Quer dizer que não é para ir para o Céu agora, mas só depois de morrer? Ora, assim nós queremos, uai sô, até eu!

* 1: Leia “Prostituição”, “Frei Antônio de Gangi e Sua Investida Contra a Prostituição” e “Zona Boêmia e a Casa do Lázaro Preto”.

* 2: Leia “Gadomania: A Esperança do Zebu na Década de 1940”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 02/02/2013 com o título “Avenida Paracatu na Década de 1920”.

Compartilhe