Ele nasceu em Patos de Minas no dia 28 de agosto de 1910. Seus pais foram Deiró Eunápio Borges e Maria Caixeta de Amorim Borges; sua esposa, Maria Madalena e seus filhos Maria de Magdala, Celina, Petrônio, Luiz Augusto (falecido), Deiró Neto e as gêmeas Maria Augusta e Maria Auxiliadora. Os netos são treze.
Sua infância foi cheia de travessuras. Em 1917 estudou no Grupo Escolar Marcolino de Barros, dirigido pelo seu tio e padrinho Modesto de Melo Ribeiro. Suas professoras, Josefina Cândida Viveiros e Zoraida Pinheiro. “Recebi o diploma com quase 15 anos de idade, aprovado com a nota Simplesmente. Um dia fiquei de castigo e por isso me escondi debaixo de uma carteira. Todos deixaram o prédio e eu fiquei trancado no Grupo Escolar, até que meus pais me acharam. Tive meu dia de artista quando fiz parte de um teatro. Subi empurrado para o palco e boas gargalhadas saudaram meu desempenho que resumiu-se à seguinte declamação: Fui andando num caminho/e encontrei uma coruja/Pisei no rabo dela/ela me chamou de cara suja (Do livro Deiró a Deiró). Muitas lembranças da loja Casa da Economia, do meu tio Virgílio Borges (hoje, Hotel Magnífico). Frequentei a escola do professor Rodarte, que era onde hoje está o prédio da loja Eletrolar. Ali conheci a palmatória, uma tábua cheia de furos com a qual se batia na palma da mão do aluno, como castigo”.
Deiró Borges trabalhou na tipografia de Laurindo Borges, onde se editava o Jornal de Patos. Também foi trocador das jardineiras do senhor Rangel, que explorava o transporte de passageiros Patos-Catiara. Em 1929 ele estudou no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte, transferindo-se depois para o Colégio Dom Lustosa, em Patrocínio, onde terminou o curso ginasial. Isso em 1933. Do colégio de Patrocínio as velhas lembranças. “Roubar jabuticaba no pátio do colégio dos padres holandeses”.
Formou-se em Direito em 1938, militando na Comarca de Patos de Minas e João Pinheiro. Transferiu-se em 1945 para Belo Horizonte, onde trabalhou no Banco Nacional de Minas Gerais. Em 1955 ingressou por concurso na magistratura, desempenhando suas funções de Juiz Municipal nas cidades de Presidente Olegário e São Gonçalo do Abaeté. Anos depois passou a 2.º Juiz de Direito, até se aposentar em 12 de janeiro de 1978. “Naquela época fazia-se muitos inventários. Os advogados que acompanhavam os enterros eram tidos como interessados em pegar as causas. Meus colegas e grandes amigos: Dr. Joseph Borges de Queiroz, meu primo; Dr. José Fonseca; Dr. Edson Pinheiro; Dr. Geraldo Tomás de Magalhães; Dr. Geraldo Ferreira dos Santos. Presidi o primeiro júri na comarca de Presidente Olegário. O Fórum tem o nome de meu pai, Deiró Eunápio Borges”.
Deiró Borges casou-se em 18 de julho de 1941 com Maria Madalena, na residência de seu sogro Ilídio Caixeta de Melo, sendo celebrante o cônego Manoel Fleury Curado. O casal residiu em João Pinheiro, transferindo-se depois para Belo Horizonte só retornando a Patos em julho de 1954. Ao completar as bodas de prata o casal Deiró e Madalena recebeu as bênçãos nupciais, e na mesma ocasião sua primeira filha, Maria de Magdala, casou-se com João Bosco Rodrigues. O celebrante foi o saudoso padre Almir Neves de Medeiros.
No livro “Deiró a Deiró”, é contado o seguinte caso pitoresco: “Eu presidia a audiência sobre uma questão de divisas, a testemunha dizia que o autor da ação tinha medo do réu, que era bravo e tinha um clavinote. Aí perguntei-lhe: – O que é um clavinote? – Arma de fogo muito grande e timive, que expele um tirão. – Qual o efeito do tiro de tal arma? – Se é dado no cerrado, abre uma riduvia!”
Deiró relembra as festas religiosas de Santo Antônio e N. Sra. Abadia. “As procissões eram muito concorridas e os roceiros vinham de longe para as festas. Morei próximo ao largo da Matriz e tenho muitas lembranças. A banda de música Santa Cecília era comandada por meu tio, maestro Augusto Borges. As retretas aconteciam na praça da matriz (igreja hoje demolida). Lembro-me quando lançaram a pedra fundamental da nova catedral, em 13 de junho de 1934. Monsenhor Fleury Curado veio para Patos no ano de 1920”.
Deiró Borges destaca os bailes inesquecíveis que eram realizados durante sua mocidade. Eles eram organizados nas casas de família e os pais levavam suas filhas ficando de olho nos galanteadores das meninas-moças.
Pelo seu belíssimo caráter e personalidade marcante, o Dr. Deiró, aos 86 anos, é um exemplo dignificante de trabalho em prol da Justiça. Vocês, leitores, são testemunhas de cada passo que temos dado na busca, pesquisa e resgate de nossas raízes. Cada visita feita tem nos trazido gratas recordações e momentos inesquecíveis. Pensamos no futuro recordando o passado, e aos poucos, mas incansavelmente, vamos reunindo dados sobre costumes e tradições de nosso povo, e resgatando as lembranças das pessoas que ao longo do tempo trabalharam pelo progresso desta nossa terra abençoada. As gerações futuras irão ler, algum dia, as páginas deste jornal, e através delas poderão, em alguns minutos, conhecer a trajetória heroica e deslumbrante de mais um “grande homem”. Dr. Deiró Eunápio Borges Júnior, GENTE DA GENTE.
* Fonte: Texto de Marialda Coury publicado na coluna Gente da Gente da edição n.º 28 de 26 de abril de 1997 do jornal O Tablóide, do arquivo de Fernando Kitzinger Dannemann.