DEIRÓ EUNÁPIO BORGES − 1

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004“Aos nove de maio de mil oitocentos e oitenta, baptizei solenemente a Deiró, filho legitimo de José Antônio Borges e de D. Seraphina Correia Borges, nascido a vinte de abril do mesmo anno. Foram Padrinhos, Antônio Dias Maciel e Flaviana Maciel. E para constar mandei fazer este que firmo. O Vigario Padre Getulio de Mello”.

Por esse assentamento podemos notar que o Sr. Deiró Eunápio Borges era filho de um dos primeiros Borges chegados em Patos, vindo de Formiga, que foi o Cap. José Antônio Borges.

Deiró Eunápio Borges estudou as primeiras letras na escola do grande educador, prof. Modesto de Melo Ribeiro, transferindo-se depois para Diamantina, Mariana e Uberaba. Sempre foi aluno compenetrado, inteligente e educado, demonstrando desde a infância grandeza de caráter. Adquiriu grande bagagem intelectual, não tendo, contudo, concluído o curso superior. Em que pese não ter se formado em Direito exerceu, mais para servir do que com intuito de lucro, a advocacia criminal, produzindo defesas perante o júri local, defesas que sempre atraíam grande presença para ouvir a sua argumentação segura a par de uma alocução fácil e grande cultura naquele ramo de Direito.

Em Patos estabeleceu-se como comerciante. Exerceu a profissão por muitos anos em sociedade com seu irmão Cap. Virgílio Borges. Profundamente religioso, católico praticante, vicentino por muitos anos, foi um dos iniciadores do movimento para a construção da Nova Matriz, iniciando entendimentos com o então Bispo de Uberaba Dom Eduardo Duarte Silva para organização de comissões encarregadas de angariar fundos para a concretização daquele magnífico ideal de dotar-se Patos de Minas de um templo, à altura de seu progresso¹.

O jornalista José Maria Vaz Borges, em 1956 assim se expressou a respeito da figura ímpar de Deiró Eunápio Borges: “Vereador à Câmara Municipal em 1936, a sua passagem ali deixou as marcas inconfundíveis de uma personalidade superior: a vocação maior e transcendente a identificar o homem com a causa pública, com o bem comum. Depois de uma vida inteira dedicada ao trabalho, à família, à sociedade e ao Município, deixou à sua descendência a herança única de um patrimônio moral grande e a prova inelutável de que se pode viver superiormente, humildemente sem as glórias efêmeras do poder ou as rutilâncias fugazes da riqueza. Foi, enquanto viveu, o chefe político da oposição patense, e até hoje sua falta de faz sentir nas hostes oposicionistas. Punha os interesses da comunidade acima dos proveitos políticos, conduzindo a oposição com grandeza de caráter tal que não foi compreendida pelo povo, porque era evoluída demais para a época. Nosso País até hoje marcha lentamente para a verdadeira Democracia. Imagine-se naquele tempo, onde os vitoriosos esmagavam, por assim dizer, os derrotados”.

Pela sua ponderação, equilíbrio e clarividência e, precipuamente, pelo seu apêgo à lei e à justiça tornou-se verdadeiro condotieri, alçado pelas forcas mais representativas do município como orientador do Partido Popular de Patos que, em oposição à situação local, sempre nos moldes da maior elevação, atuou nos prélios eleitorais de nossa terra. Sereno, compreensivo, de uma energia branda mas perseverante, desfraldou a bandeira
oposicionista que empunhou drapejando nos quadrantes do município, bandeira cujo dístico participaria do ideal romano “Legum servi sumus ut liberi esse possimus”

E tais foram as virtudes e predicados de valor que o extremaram sobremaneira no meio em que viveu que, passada mais de uma década de sua morte², mais acentuou-se na lembrança de seus amigos, contornos nítidos de sua personalidade de esbata, esmaecendo, as prevenções de que lhe tenham sido contrário, ouve-se reiteradamente a afirmação geral de que Deiró Eunápio Borges foi paradigma de morais e cívicos princípios, exemplo seguido pelos seus pósteros. E quem o conheceu ou participou da personalidade ímpar de sua formação, de seu alevantado ideal, pode atestar de como fora um homem de trabalho, chefe de família, político, jornalista e homem de sólidas convicções cristãs, dele podendo-se dizer, em seus últimos momentos, como S. Paulo na 2.ª Epístola a Timoteo, Cap. VI, vers. VII: “Combati o bom combate, acabei a minha carreira e não perdi a fé.”

O Decreto Estadual n.º 5.518, de 15 de junho de 1960, assinado no Palácio da Liberdade em Belo Horizonte por José Francisco Bias Fortes e Juarez de Souza Carmo, determina em seu art. 1.º: É dado o nome de “Deiró Eunápio Borges” ao Fórum da Comarca de Presidente Olegário.

* 1: Leia “Deiró Eunápio Borges e a Catedral de Santo Antônio”.

* 2: Deiró faleceu em 24 de dezembro de 1942.

* Fonte: Edições de 24 de maio de 1969 e 24 de maio de 1971 do Jornal dos Municípios, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Do livro Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.

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