Numa moeda grega remontante ao ano 36 antes de Cristo, está impressa a forma de um cão muito semelhante ao Dogue Alemão de hoje. Supõe-se, pois, que suas origens sejam helênicas. Não sem razão foi intitulado “O Apolo dos Cães”. Mas têm-se notícias dele mais precisas e indiscutíveis alguns séculos depois. Efetivamente, em 407, a Alemanha, a Gália, parte da Itália e da Espanha foram invadidas pelo antigo povo asiático dos Alanos, que trazia consigo uma espécie de poderosos cães Mastins. Na Alemanha, sobretudo, estes magníficos animais capazes de lutar vitoriosamente com ursos e javalis causaram admiração e, desaparecidos os bárbaros invasores, foi iniciada uma seleção cruzando estes Mastins com os Galgos irlandeses. Resultaram aqueles cães de grandes proporções, delgados, ágeis, belos que hoje são conhecidos no mundo exatamente com o nome de Alanos. Na Inglaterra, ao contrário, são conhecidos como Dinamarqueses, mas os Alanos não têm nenhuma relação com a Dinamarca.
A raça esteve presente na primeira exposição de cães da história, realizada em 1863, na cidade de Hamburgo, Alemanha, inscrita sob dois nomes diferentes: Dogue Dinamarquês (Danish Dogge – cães de pelagem branca e preta) e Dogue de Ulm (Ulmer Dogge – pelagem marrom, tigrada, preta ou cinza). Um grupo de juízes cinófilos julgou impossível distinguir uma raça de outra, e em 1880, as duas raças foram unificadas sob o nome de Dogue Alemão (Deutsche Dogge), denominação hoje reconhecida pela FCI. Em 1888 foi fundado o clube oficial de criadores e em 1891 foi escrito o primeiro padrão rácico, que sofreu pequenas alterações até o dia de hoje. Um de seus grandes entusiastas foi o chanceler alemão Bismarck, que criou a raça por quase 60 anos, e estava sempre acompanhado de um ou mais de seus cães. Um deles, Tyras, chegou a atacar e derrubar um diplomata russo que discutia acaloradamente com Bismarck.
É um cão gigante que reúne o aspecto nobre com a robustez, a força com a elegância. A altura mínima do macho deve ser de 80 cm, a da fêmea de 72 cm, mas será mais apreciado o exemplar que superar estas medidas. Além disso, seu peso deveria se aproximar dos 60 kg. Tem cabeça alongada, estreita, com uma acentuada depressão frontal e focinho bastante largo, pescoço comprido e musculoso, membros anteriores em perfeito prumo, posteriores com coxa larga; pés redondos, unhas curtas e escuras. A cauda, de comprimento médio, atinge a ponta do jarrete. Os olhos são redondos, geralmente escuros, com expressão viva de inteligência. Os dentes, brancos e bem desenvolvidos, devem fechar-se em tesoura. Todos os Dogues Alemães têm pelo curto, espesso, aderente e lustroso, com cinco variantes de cores: Preto, Dourado (Castanho), Azul, Tigrado e Arlequim. Mesmo em cruzamentos entre as variedades corretas, eventualmente podem nascer filhotes com cores fora do padrão, como Merle (cor de fundo cinza com manchas pretas irregulares, aparece com frequência nos cruzamentos da variedade arlequim; sua reprodução é proibida devido ao risco de surdez e cegueira associado ao gene merle).
As orelhas são naturalmente caídas, porém em muitos países é comum a “conchotomia”, cirurgia para tornar as orelhas eretas. Esta tradição tem origem na época em que a raça era utilizada para caça: as orelhas longas eram cortadas para evitar ferimentos na luta com suas presas. O corte utilizado na época era curto, como o que é visto atualmente no Pit Bull. Posteriormente, a cirurgia tornou-se primariamente estética, tornando-se habitual o corte mais longo (conchotomia parcial). Esta cirurgia deve ser feita no cão ainda filhote, por cirurgião veterinário especializado. O pós-operatório é trabalhoso, pois o cão precisa usar talas por semanas ou meses, até que as orelhas estejam totalmente eretas. No Brasil, a cirurgia foi proibida pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária.
Como é comum em cães de porte gigante, os Dogues Alemães têm uma expectativa de vida relativamente curta, por volta de 6 a 8 anos, embora em casos raros alcancem até 14 anos de idade. As causas de morte mais comuns são torção gástrica, cardiopatias e câncer. Entre os tipos de câncer mais comuns na raça estão o osteosarcoma, linfomas e tumores mamários.
O estômago do Dogue Alemão é longo e sujeito à Síndrome da Dilatação Vólvulo-Gástrica, também conhecida como “torção gástrica”. Nesta situação o estômago dilatado gira sobre si mesmo, impedindo a drenagem estomacal, consequentemente comprimindo a circulação e a respiração. Os sintomas comuns são inchaço abdominal, prostração, mucosas pálidas e dificuldade respiratória. É uma situação de emergência, pois leva à morte em poucas horas. O cão nestas condições deve receber cuidados veterinários imediatamente, já que o único tratamento possível é cirúrgico. Para evitar o problema, as refeições devem ser moderadas, fracionadas em duas ou três porções diárias, e em horários determinados. Também deve-se evitar que o cão beba muita água ou faça exercícios após as refeições.
Pelo porte, também são propensos a apresentar displasia coxofemoral. É uma doença de forte caráter genético que causa dores e dificuldade de locomoção. Portanto, antes de reproduzir cães desta raça, é importante fazer exames em ambos os pais para reduzir a chance dos filhotes desenvolverem o problema. Excesso de exercício, dieta desequilibrada e sobrepeso em animais em crescimento podem favorecer o desenvolvimento da doença.
De temperamento equilibrado por natureza, torna-se agressivo apenas quando as circunstâncias o exigem, principalmente quando o dono é ameaçado por estranhos. Mas é um cão bom, afetuoso, paciente. O Dourado é mais delgado e mais impetuoso, por isso seu temperamento é mais vivo. O Arlequim é o mais pesado e revela-se mais fleumático e menos rápido na execução de ordens.
Na sua longa existência, o Dogue Alemão foi: cão de combate, de caça, de passeio, de guarda, de defesa pessoal. Hoje é utilizado como cão de guarda, mas é procurado principalmente pelas suas qualidades de beleza e de cordialidade, hóspede decorativo de jardins.
Na cultura popular, provavelmente o representante mais famoso da raça é o personagem do estúdio Hanna-Barbera, Scooby-Doo. Criado pelo designer Iwao Takamoto, Scooby não é exatamente um representante típico da raça. Takamoto explicou que antes de criar o personagem, conversou com um criador de Dogues Alemães, que descreveu a aparência ideal da raça. Após isso, resolveu desenhar Scooby-Doo de forma oposta, com pernas tortas, queixo proeminente e uma cor não aceita pelo padrão. A cantora pop Lady Gaga utilizou Dogues Alemães Arlequins em vários de seus videoclipes. Infelizmente um dos cães usados, Rumpus, teve uma morte precoce aos 5 anos de idade.
* Fontes: Cani, de Gino Pugnetti, e Wikipédia.
* Foto: Nossosamadosanimaispets.blogspot.com.