A instalação oficial da Vila de Santo Antônio dos Patos, em 29 de fevereiro de 1868, foi motivo de muita alegria para os patenses. Afinal, foram emancipados. Em contrapartida, desagradou muitos interesses contrários. O Município sofreu por alguns anos com terceiros que queriam aniquilá-lo, ou mesmo suprimi-lo. Tão amiúdes se tornaram, que a desilusão foi tomando conta dos líderes do povo.
O código de posturas do Município, submetido à Assembleia em 1873, esperava aprovação. Esta tardava. A Câmara, já desanimada, ainda faz uma última tentativa, como podemos sentir no ofício que remeteu ao legislativo provincial:
A Câmara Municipal da Vila de Patos vem respeitosamente representar à Nobre Assembleia Legislativa desta Província de Minas Gerais, que, se não resolver suprimir a mesma Vila, e sim restituir-lhe os diversos direitos dela desmembrados, se digne aprovar o código de posturas que, em o ano próximo passado teve a honra de submetê-lo à discussão e aprovação da mesma Assembleia.
O ofício traz a data de 03 de junho de 1874, e as assinaturas do presidente Antônio Dias Maciel e dos vereadores Antônio Theodoro de Mendonça, Eliziário José Joaquim de Andrade, José Alves Pereira e João Antunes Campos.
Prosseguia o esbulho. Em meados de 1875, a situação tornou-se crítica. O legislativo patense que, até então, assistia impassível às mudanças prejudiciais ao Município, resolve, em sessão de 07 de julho de 1875, remeter enérgico protesto à Assembleia Legislativa. Sob a presidência do vereador João Antunes Campos, a memorável sessão contou com as presenças dos vereadores Manoel José Caixeta, Joaquim Pereira de Queiróz, Paolino Santos Pitanguy, José Alves Pereira e Eliziário José Joaquim de Andrade, deliberando que se pedisse à Assembleia a restituição de quatro distritos que as legislaturas foram, paulatinamente, tirando do Município.
Textualmente, enumeraram os distritos:
O primeiro desmembrado foi os Alegres, que em 1870 passou para Paracatu. O segundo foi o Carmo, que distante desta Vila 8,5 léguas, foi em 1871, transferido para o Araxá, que fica a 21 léguas, com quatro rios, três sem pontes, além de maus caminhos. O terceiro foi Santa Rita, a 4 e meia léguas de Patos, que em 1872 passou para o Paracatu, a 30 léguas, com os rios Paracatu, Santa Catarina, Escuro Grande, Traíras, Escuro Pequeno e Santa Isabel, todos muito maleitosos. O quarto é a Paróquia de Santana, que em 1873 foi para o Patrocínio, a nove léguas, quando demora de Patos 4,5. E neste mesmo ano (1875) restaurando a Vila de São Francisco das Chagas do Campo Grande, ainda se tirou de Patos o distrito de Areado.
Este documento corajoso do legislativo patense pode ser considerado como um dos únicos que, no período provincial do Município, se remeteu aos poderes mais altos, exigindo respeito aos direitos do povo. Principalmente, quando termina assim:
Vê, pois a nobre Assembleia que Patos ficou reduzido a zero!!! Contando somente Vila de dois distritos, esta Câmara vem pedir à Assembleia um paradeiro a esses males, qual o de fazer a restituição do que lhe pertencia, por ser de justiça.
Por algum tempo, ainda permanecemos ao talento daqueles que tudo faziam para arrasar o Município. Somente a 18 de outubro de 1878, pela lei 2.460, era criada a Comarca de Santo Antônio dos Patos, composta dos termos de Santo Antônio dos Patos e Carmo do Paranaíba. Em 1880, coube a um homônimo de um dos lutadores da emancipação de Patos – o vice-presidente da Província, Joaquim José de Sant’Anna – a homologação da lei 2.656, de 4 de novembro, restituindo ao Município de Patos os distritos de Areado e Santa Rita.
Após 12 anos de expectativa, os patenses tinham, finalmente, aberta a estrada de seu irrefreável progresso.
* Fonte: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.
* Foto: Culturabrasil.org. Na mitologia grega, Sísifo foi condenado por Zeus a rolar uma grande pedra de mármore com suas mãos até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível. Por esse motivo, a tarefa que envolve esforços inúteis passou a ser chamada “Trabalho de Sísifo”. O exemplo é apenas para demonstrar as dificuldades que os patenses enfrentaram durante muitos anos após a emancipação com a instalação da Vila. Ao contrário da mitologia, eles conseguiram fixar a pedra no cume da montanha.