Zama Maciel, filho de Farnese Dias Maciel e sobrinho de Olegário Dias Maciel, escreveu este texto sobre a elevação da Vila de Santo Antônio dos Patos à condição de Cidade:
Em 1890, a Câmara Municipal da Vila de Santo Antônio dos Patos aprovava uma moção apresentada por Sesóstris Dias Maciel (Major Gote), então vereador-presidente, na qual estava o apoio do Município ao novo regime, isto é, à República, proclamada meses antes em consequência de um movimento militar. Essa moção recebeu um voto contra, a do austero vereador Olímpio Borges. Antônio Dias Maciel, chefe do Partido Liberal, majoritário do Município, havia sido agraciado, em 1888, com o título de Barão de Araguari, honraria que não chegou a receber de mãos do Imperador por motivos vários, salientando-se as dificuldades de ordem material que era a ida à Côrte. O principal artífice do Município, já com 66 anos, julgou ser oportuna a sua retirada da política na fundação do Partido Republicano.
Assumia a chefia do novo Partido o seu filho Farnese Dias Maciel que o dirigiu embatido até sua morte, em 1949, depois de 59 anos de liderança.
O primogênito do Cel. Antônio Dias Maciel, o engenheiro Olegário Dias Maciel, representava a política de seu pai na Assembleia Provincial, desde 1880. Homem de grande cultura e profundo bom senso, tornou-se logo figura exponencial da política mineira, aliando-se a homens que viriam, na 1.ª República, ocupar os mais altos postos da administração.
Olegário, que não era orador, não podia ser classificado como político aliciador de votos. Essa parte da máquina política pertencia a seu pai e a seus irmãos Farnese e Gote.
Olegário foi eleito Deputado à Assembleia Constituinte de Minas Gerais. Estava assim assegurada à Vila de Santo Antônio dos Patos um lugar de destaque na vida política do Estado. Na região, somente Paracatu e Araxá (Virgílio de Melo Franco e Montandon) possuíam representantes. Terminada a elaboração da Constituição Mineira, o Congresso transformou-se em Assembleia Ordinária. Uma de suas primeiras tarefas foi a divisão administrativa do Estado, a primeira a ser feita na República.
Prevalecia ainda o regime que viera de Portugal, isto é, os Municípios eram criados com a denominação de Vila e só depois de preenchidas certas exigências, recebia a dignidade de Cidade. No Brasil, algumas Vilas tornaram-se centenárias para alcançar a ambicionada posição de Cidade. A nova lei mineira impunha certas condições à recepção das honrarias da Cidade. A Patos de 1892 era pequena, pobre e distante. Não podia portanto receber o título de Cidade, embora já fosse sede de comarca, desde 1884.
O velho Antônio Dias Maciel, interpretando o desejo de seu povo, escrevia a Olegário que pleiteasse o título de Cidade para a Vila. Houve, então, a batalha nas Comissões da Câmara e Senados Estaduais.
Para se contentar a Olegário e a outros Deputados foi a Vila de Santo Antônio dos Patos elevada à categoria de Cidade com o mesmo nome. A Lei é de 24 de maio de 1892.
A Vila foi criada pela Lei 1.291, de 30 de outubro de 1866, e instalada em 29 de fevereiro de 1868. (A vida dos municípios é contada da instalação e não da criação.) Patos, portanto, permaneceu como Vila pelo pequeno período de 48 meses. Esta particularidade da história de nossa cidade me foi relatada por Olegário Dias Maciel. Em 1933, na Fazenda Floresta, em Juiz de Fora, conversando com Wenceslau Braz, perguntei-lhe sôbre o assunto, já que o grande brasileiro, há poucos dias falecido, fôra membro do Congresso Constituinte e tomara parte nas deliberações.
O insigne mineiro confirmou em tudo o que lhe dizia e acrescentou passagens jocosas nas negociações para se fazer a pequena Vila do Alto Paranaíba uma Cidade. A fórmula encontrada foi elevar-se à categoria de Cidade tôdas as Vilas onde residisse um deputado. Estendia-se assim à República nascente um costume da Península, pelo qual um nobre ou Bispo não podiam morar em Vila por não condizer com a dignidade de que se investiam.
Patos, nesta época, não possuía mil habitantes. Em 1914, no censo então levantado pela Prefeitura, verificou-se uma população urbana de 1.500.
Olegário Dias Maciel teve, pois, a satisfação de ver a sua pequena Vila tornada Cidade em ato que mais foi uma distinção à sua pessoa. Essa distinção ele a transferiu à terra que o viu crescer e que sempre soube projetar, pelo calor de sua ação e inquebrantável fôrma moral.
* Fonte: Texto de Zama Maciel publicado na edição de 24 de maio de 1967 do jornal Folha Diocesana, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
*Foto: Olegário Dias Maciel, do livro Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.