ANTÔNIO PAULO XIMENES DE MORAES

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Antônio  Paulo Ximenes de Moraes,  o “Doutor Ximenes”, nasceu na cidade de Campanha, sul de Minas Gerais, no dia 12/06/1914. Segundo filho de João Paulo de Moraes e Maria das Dores Ximenes de Moraes, teve três irmãos: Maria José, Ermelinda e João Paulo. Ainda jovem, foi nomeado funcionário dos Correios e Telégrafos de sua cidade natal. Em 1932, transferiu-se  com a família para Belo Horizonte, continuando a estudar e trabalhar como telegrafista. Aprovado no vestibular da Faculdade de Medicina de Minas Gerais, graduou-se em 1938.

Com 13 dias de formado perdeu o pai, assumindo então os deveres de chefe de família. Com o casamento de sua irmã Maria José, em 1940, com o delegado de polícia Dr. Eduardo Miranda, e tendo como primo o juiz de direito Dr. Ernani de Moraes Lemos, ambos em Patos de Minas, veio conhecer esta cidade, a convite, no dia 01/08/1940, e dela nunca mais saiu. Chegou aqui, trazendo um esterilizador a álcool, meia dúzia de pinças, um fórceps, estetoscópio e um aparelho de medir pressão arterial.

Muito bem recebido pelos colegas que então atuavam na cidade (João Borges, Eufrásio Rodrigues, Geraldo Rezende, Paulo Brandão, José Olímpio Borges, Dolor Borges e Durval Borges de Melo), iniciou seu trabalho com os parcos recursos de que dispunham. Orientado pelos mais antigos, foi aprendendo a suprir a falta dos exames complementares de que necessitavam pela teoria aprendida na escola e nos anos de especialização em Belo Horizonte. Segundo ele, quando aqui chegou, e ainda durante algum tempo, um hospital só era procurado em casos raríssimos, quando não era possível um tratamento domiciliar. Os pacientes da zona rural, ao contrário do que fazem hoje, chamavam o médico em suas fazendas, onde o atendimento era bastante precário. Viajando em estradas esburacadas e lamacentas, em lombo de animal, e às vezes até a pé, era assim que os médicos chegavam à casa do paciente. Nesta labuta permaneceu por uns 15 anos, quando então foram chegando mais médicos, abriram-se as “Casas de saúde”, o atendimento foi melhorando e a cidade evoluindo.

Casou-se em 19/06/1943 com Júlia Regina da Fonseca Brandão, que passou a assinar Júlia Brandão de Moraes, então com 22 anos de idade, nascida e criada em BH, filha do escritor João Lúcio Brandão, que conhecia o interior só por informações dadas pelo noivo. O casal começou sua vida a dois morando em uma pensão familiar de propriedade de Geralda Pessoa, com cujos familiares manteve laços afetivos durante toda a vida. Dos nove filhos gerados, dois faleceram precocemente, e a quarta filha, Maria Luiza, falecida aos 32 anos, deixou o casal muito abatido, mas mesmo assim, curtiram bem os 15 netos. O Dr. Ximenes lamentou, até o dia de seu falecimento, a perda da esposa em 1990, aos 68 anos de idade. Sobrevivem-lhes os filhos Maria Marta, Maria Tereza, José Henrique, Antonio Paulo, Maria do Rosário e João Luiz.

Como médico, atuou aqui durante 42 anos. Contava ele que o único meio de comunicação com o resto do mundo era através do correio que saia e chegava três vezes por semana, um precário serviço de telégrafo. Como meio de transporte, um “trem-de-ferro” que saia de Catiara (150 Kmdaqui) e chegava a Belo Horizonte após 23 horas de viagem, quando tudo corria bem. Atuando ainda como radioamador, juntamente  com  a  esposa, prestava  serviços  para todos que os procuravam em casa, nos horários mais diversos.

Trabalhando no Hospital Regional Antônio Dias, instalou aos poucos um pequeno laboratório de análises clínicas, conseguindo trazer um moderno aparelho de Raios-X, não envidando esforços, também, para evitar a falta de medicamentos e atendimento aos pacientes, indigentes em sua maioria. Após 20 anos dedicados àquele hospital, período de tempo em que muito lutou para mantê-lo funcionando, aposentou-se como seu Diretor-Clínico.

Algumas vezes, em noites de céu claro ou de lua cheia, ele, os  filhos  e  a esposa iam ao pátio interno do Hospital Regional, com luneta, e ali recebiam noções de astronomia do Bispo Diocesano, Dom José André Coimbra. Após as missas que ali eram rezadas, as freiras do Hospital regavam as flores do pátio, com a água que  haviam  lavado  os paramentos litúrgicos da capela. Nessa época, os jardins internos do hospital primavam pela beleza e cuidado.

Como membro atuante do Conselho da Comunidade, reivindicava para o Município maior atenção de todas as autoridades que o visitavam. Foi também o braço direito de sua esposa na luta pelas obras sociais, principalmente na construção e manutenção da Casa das Meninas. Na política, foi candidato em 1962, pelo PDC (Partido Democrata Cristão), ao cargo de prefeito de Patos de Minas, tendo como seu companheiro de chapa o Dr. Benedito Corrêa da Silva Loureiro (o eleito foi Pedro Pereira dos Santos). Essa agremiação política fora criada pelo padre Almir Neves de Medeiros, na tentativa de amenizar a relação entre UDN e PSD. Os comícios nesta campanha política eram feitos em cima de um caminhão do seu amigo e correligionário, Clóvis Simões da Cunha.

Anos depois, candidatou-se ao cargo de vereador. Não foi eleito certamente porque não pediu a ninguém um único voto, tendo apenas comunicado sua candidatura aos eleitores. Mesmo assim, recebeu 636 votos dos que o escolheram como o candidato certo, resultado que trazia guardado em seus pertences. Recebeu o título de Cidadão Honorário Patense em 1966, das mãos do então prefeito Pedro Pereira dos Santos. Dedicado ao esporte, foi presidente do Esporte Clube Mamoré entre os anos de 1950 a 1954, responsável pela confecção de seu estatuto e documentação em geral, inclusive a escritura, dando ao time seu primeiro título importante, a Copa Patos de Minas. Contava ele que naquela época, não se podia fazer um jogo entre o Mamoré e o time rival, URT, pois o mesmo acabava em briga. Diante disto, ele marcou uma partida entre as duas equipes, anunciando que quem quisesse brigar poderia  fazê-lo á vontade, pois a “turma do deixa-disso” não iria atuar. O jogo terminou normalmente, sem qualquer discussão.

Como um dos sócio-fundadores do Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Fátima, implantou e manteve o laboratório de análises clínicas até o seu afastamento, em 1981. Após 42 anos de trabalho nesta cidade, encerrou sua carreira de médico no dia 12/06/1981, quando foi homenageado pela Associação Médica de Patos de Minas. Aposentado, dedicou-se totalmente à família até seu falecimento no dia 28 de Setembro de 1993, aos 79 anos. Mas sua luta não foi em vão, pois em julho de 2011 o seu neto José Rodolfo, que ele criou desde os três meses de idade, formou-se em Medicina pela Universidade Federal de Uberaba.

* Texto e foto: Antônio Paulo Ximenes Filho.

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