Tudo começou com a visita, em 1892, do pregador dominicano Frei Raimundo Alfonso. Estava ele no púlpito da antiga Matriz, numa pregação das Santas Missões, quando chamou aos brios os patenses para um retoque na igreja e, melhor seria, a construção de um novo templo, enfatizando que nem ao menos o povo possuía uma casa de Deus digna.
Estas palavras são interessantes porque a Matriz havia passado por uma reforma geral em 1875. Significa então que após 17 anos a igreja estava em “petição de miséria”. É o que se pode concluir. Sendo ou não sendo exatamente assim, o certo é que as palavras do frei realmente mexeram com os brios dos patenses. Tanto foi que o Dr. Olegário Dias Maciel lançou subscrição para a construção de nova Matriz.
No dia seguinte à pregação do Frei Raimundo, realizou-se uma reunião, sob a presidência do Vigário Pe. Getúlio que expôs os motivos e propôs a construção de um novo templo no Largo do Rosário¹ e que se organizasse uma comissão encarregada de arranjar donativos. A comissão foi organizada, presentes os homens mais influentes do município, mas a ideia não vingou. Vinte e cinco anos se passaram. Não se sabe efetivamente o que aconteceu, se pelo menos fizeram alguma reforma na Matriz antiga.
Em 15 de novembro de 1910 é lançado pelo jornalista e poeta Alfredo Borges o 2.º jornal editado e publicado em Patos, “O Commercio”. E foi através deste jornal que, em 1915, Deiró Eunápio Borges começou a trabalhar em favor da construção da nova Matriz, reavivando os ideais de então. A participação de Deiró foi tão marcante, que outro jornal da época, “O Riso”, em sua edição de 11 de dezembro de 1915, publicou uma matéria de Deiró onde ele incentiva a construção de uma nova igreja².
Somente em 1917 uma comissão começou a ser formada por Cônego Getúlio Alves de Mello para idealizar a construção da nova Matriz. Mas eis que o Cônego Getúlio falece dois anos depois. Com a morte do cônego em 1919, no ano seguinte é provisionado para seu lugar o padre Manoel Fleury Curado, a 15 de fevereiro de 1920. Uma das primeiras necessidades que o novo pároco sente é a da construção de um templo condizente com a sede da paróquia. Manda fazer alguns retoques na velha Matriz e em 1924 considera que é chegado o momento de agitar a idéia lançada por seu antecessor, da construção de novo templo. Logo encontrou um grande apoio financeiro de Abílio Caixeta de Queiroz. Parte do dinheiro necessário às obras estava arrecadada desde 1917.
A idéia contagiou o povo. O pároco jamais deixou que ela caísse no esquecimento. Assim, entrando nos anos de trinta, a idéia era quase realidade. Um projeto foi encomendado a João Boltshauser e Emanuel Giani, e emoldurado ao lado do batistério da velha Matriz.
Fato ainda nebuloso é a questão da escolha do local. Como foi relatado acima, o primeiro local aventado para a construção da nova Matriz foi o Largo do Rosário. É certo que houve uma mudança nos planos, o que prova um anúncio³ de uma casa comercial publicado na edição do jornal Gazeta de Patos em 07 de setembro de 1929, quando cita o seu endereço: Praça Antonio Dias (futura da ‘Nova Matriz’). E mais certo ainda, é que outra mudança de planos se deu e a Catedral de Santo Antônio foi construída na Praça Dom Eduardo.
Os patenses e os visitantes paravam para admirar o plano da obra. O bom sacristão José de Morais Pessoa apontava o quadro e vinha com uma de suas mirongas: “Do alto da torre o padre Fleury vai poder dar a benção com o povo de Santana assistindo, de lá…”. Em seguida fazia soar uma gargalhada característica, acompanhada da clássica sacudidela no primeiro braço que encontrasse ao seu alcance.
Barraquinhas, tômbolas, listas de subscrições, doações de todo tipo, permitiram que a 13 de junho de 1934 fosse lançada a pedra fundamental da nova Matriz de Patos. A solenidade teve discursos de Dom Luiz Maria de Sant’Ana, bispo de Uberaba, e do Dr. Euphrásio José Rodrigues.
No mesmo ato, o vigário leu os nomes da diretoria encarregada das obras: diretor, Cônego Manuel Fleury Curado / tesoureiro, Hugo José de Souza / 1.º secretário, farmacêutico João Gualberto de Amorim Junior (Zico Amorim)/ 2.º secretário, farmacêutico Teodorico Borges. Foram nomeadas duas comissões, distrital e citadina, para angariar donativos. O farmacêutico João Gualberto leu diversas atas das antigas comissões de construção da nova matriz, sendo a primeira delas feita pelo Dr. Olegário Dias Maciel, em 1892, e assinada pelas principais pessoas do lugar, e a última, da cerimônia que no momento se celebrava. Documentos, jornais e moedas circulantes da época foram depositados no bojo da pedra fundamental.
As obras, embora em ritmo lento, sofreram poucas paralisações. É de justiça deixar registrados os nomes de José Bithencourt e Justino Moreira – este morto em acidente, ao despencar-se de grande altura no interior da obra. Dois profissionais capazes que acompanharam os trabalhos por muitos anos.
Em 13 de junho de 1942 a nova Matriz é aberta, provisoriamente, ao culto. Em 13 de junho de 1954, já com o interior todo pronto, exatamente vinte anos após o lançamento da pedra fundamental, é aberta definitivamente. Em 23 de abril de 1955, a nova Matriz passou a ser denominada Catedral de Santo Antônio. E em 28 de setembro de 1961, quando da comemoração do Jubileu de Ouro Sacerdotal de Monsenhor Manuel Fleury Curado, foi solenemente sagrada pelo Arcebispo de Brasília Dom José Newton de Almeida, com presença do Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota e de vários bispos.
* 1: Havia uma pequena capela denominada Capela do Rosário em frente a Rádio Clube de Patos, motivo do local ser denominado Largo do Rosário. Veja esta capela em “Capela do Rosário”.
* 2: Leia o texto “Deiró Eunápio Borges e a Catedral de Santo Antônio”.
* 3: Leia o texto “Fonseca & Mello – 1929”.
* Fonte: Domínio de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.
* Foto 1: Do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, publicada em 09/02/2013 com o título “Nova Matriz em Construção na Década de 1940”.
* Foto 2: Vicente A. Queiroz.