No dia 4 do corrente, a hora em que o carcereiro e um soldado (o unico de que se compõe o nosso destacamento), faziam entrar na prisão um sentenciado conduzindo agua, os outros presos, previamente ajustados, avançaram sobre o carcereiro, que é um velho sem forças, derrubaram-n’o, e armados de páos que tiraram dos cavalletes que lhe serviam de leito, arremessaram sobre o soldado e espancando-o conseguiram evadirem-se.
Fugiram quatro criminosos, sendo: João Eleuterio e Paulino de tal, condemnados a 19 annos de prisão, por crime de morte; José Vianna, vulgo Xediu, autor de um barbaro assassinato, condemnado a 7 annos de prisão e Miguel de tal, vulgo Miguel Banha, que aguardava julgamento.
Não nos surprehendeu o occorrido, pois ha mais tempo já o podiam ter feito, visto como o nosso destacamento consta de um soldado e um cabo commandante.
Do alto destas columnas já temos, por vezes, feito sentir ao Snr. Dr. Chefe de Policia a necessidade de ser augmentado o numero de praças no destacamento desta cidade, mas s. excia. ou não nos leu, ou não ligou importancia.
Eis ahi o triste resulttado; quatro criminosos de importancia soltos neste vasto sertão e talvez para sempre isentos da acção da justiça.
Os crimes se reproduzem de um modo assombroso; quasi todos dias temos a registrar assassinatos, disturbios e roubos, e os delinquentes, impunes, continuam nas suas façanhas, ameaçando a vida e a propriedade do cidadão.
Para quem appellar? Para a auctoridade local? Esta não tendo soldados nem para a guarda da cadeia, como ha de agir? Como ha de manter a ordem, prender os criminosos e sobre elles fazer vibrar com energia a acção da lei?
Appellamos para o Sr. Dr. Chefe de Policia aquem compete, como auctoridade superior, velar pela segurança publica, e remediar esses males que se avolumam trazendo em sobresalto toda a sociedade.
* Fonte: Texto publicado na edição de 1.º de março de 1908 do jornal O Trabalho, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Consistencia.org.
