Eu não sei porque, mas sempre que chega a festa do milho eu me lembro do dia de finados. Existe uma semelhança muito grande e eu fico sem saber se é fruto da minha imaginação ou se existe alguma coisa de realidade.
Querem algumas provas?
Vamos lá: – 1.º) No dia de finados a gente chega no cemitério e vê um mundo de túmulos limpinhos, caiados, cheio de flores. Na festa do milho, o prefeito manda caiar todas as ruas centrais, ainda que os buracos continuem. A cidade fica limpinha que dá gosto.
2.º) No dia de finados, o comércio fica totalmente parado, pois o movimento vai todo para o cemitério e haja dinheiro para se comprar pipocas, picolés e outras coisas. Na festa do milho o comércio fica morto, pois tudo se concentra no parque de exposição. E haja “barão” para suportar as despesas que advêm.
3.º) Um terreno no cemitério custa um dinheiro tão alto que os pobres e os lavradores caem na cova rasa, “a única que lhes toca neste latifúndio”. O aluguel de uma barraca, no paiolão, custa um dinheiro tão alto que precisa que tudo custe o olho da cara senão não sobra dinheiro para o locatário.
4.º) No dia da festa, os porteiros são os vicentinos que têm uma arrecadação para manutenção dos pobres. Ali, a cobrança é compulsória. No dia de finados, ainda os vicentinos, pedem uma ajuda espontânea aos que entram no cemitério.
5.º) No dia dos mortos, ainda que em silêncio, a gente nota que o cemitério está em festa e cada um visita o túmulo de sua preferência. No dia da festa, ainda em silêncio, a gente sabe que a cidade está em festa, e cada um visita a barraca de sua preferência.
Com tudo isso, nós somos obrigados a observar que estão matando os vivos de nossa terra, para depois chorar pelos mortos. O comércio, o povo da roça e da cidade, os visitantes e os patenses que aqui voltam, ficam, a cada festa, mais decepcionados. Eles pedem sugestões mas não adianta. Caipiras por caipiras, fiquemos com os nossos. Maus artistas como os que vêm, façamos espetáculos com as pratas da casa.
Será fácil fazer-se uma festa popular com pouco dinheiro, mas para isto é preciso que advenha a democracia, para acabar com a monarquia sindical e com as informações contraditórias de nossa imprensa falada.
Agora só nos resta esperar o 2 de novembro e vamos reviver a festa que se acabou.
* Fonte: Texto de Rafael Gomes de Almeida publicado na coluna Da Minha Fazenda Grande da edição de 02 de junho de 1979 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto: Cartaz oficial da Festa do Milho de 1979, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.