Tudo começou com Os Cascas Grossas¹. No dia 12 de março de 1943, uma caravana de 38 homens e 4 mulheres saiu de Patos de Minas com destino ao Rio de Janeiro. Foi organizada por políticos e fazendeiros da cidade e região (Lagoa Formosa e Guimarânia). A finalidade: levar ao Presidente da República, Getúlio Dorneles Vargas, o pedido da construção da “tão sonhada Estrada de Ferro”. O Município passava por um momento muito difícil, carecendo de transportes suficientes, para levar a boa safra. Todos eram fazendeiros abastados, sendo então chamados “Os Cascas Grossas”. Só que a estrada de ferro nunca chegou a Patos de Minas².
Os fazendeiros cascas grossas, não tendo o respaldo político que esperavam, organizaram-se e, com a liderança de Amadeu Dias Maciel, fundaram em 1.º de julho de 1944, a Sociedade Rural do Alto Paranaiba³, transformada em 23 de setembro de 1945 em Associação Rural de Patos de Minas, tendo como idealizadores, além os seguintes cidadãos: Abner Afonso de Castro, Afonso Queiroz, Amadeu Dias Maciel, Armando Thomaz de Magalhães, Flausino Pacheco Lou, Hercílio Trajano da Silva, Ílio Morais Prata, João Rodrigues da Silveira (Negrinho de Freitas), José Caixeta Frazão, Moacir Viana de Novais, Mozart Afonso de Oliveira, Pedro Pereira dos Santos, Philadelfo José da Fonseca, Saint Clair Pacheco, Sebastião Alves do Nascimento, Sebastião de Castro Amorim, Vicente Pereira Guimarães (Vicente Mandu).
Assim como a reivindicação para a vinda da estrada de ferro não obteve sucesso, a Associação não se assentou adequadamente nos trilhos, ficando ociosa pouco tempo depois. Com o passar dos anos o ideal foi reaparecendo, até que em 1956 a Associação Rural voltou às atividades. Sobre o assunto, a edição de 15 de janeiro de 1956 do jornal Tribuna de Patos publicou a seguinte matéria:
Coroando de êxito a iniciativa de diversas personalidades diretamente ligadas à nossa agricultura, organizou-se há poucos dias na cidade a Associação Rural de Patos de Minas, entidade que agirá nos moldes dos diversos sindicatos de classes existentes, e que terá como objetivo principal a unificação dos srs. produtores rurais em torno de um ideal único. Dentre suas diversas finalidades, podemos ainda destacar o fornecimento de assistência técnica gratuita aos associados, venda pelo preço de custo de sal, arame e gêneros de comprovada necessidade à vida de uma fazenda, e, mais tarde, a organização de uma cooperativa agrícola, que virá defender de modo direto aos interêsses da classe. Será adotado um sistema de cotas, a serem vendidas num limite máximo de 5 a cada associado, permitindo assim que todos os sócios tirem proveito dos indiscutíveis benefícios que serão trazidos pelo armazém, já que cada cota dará direito à compra de uma determinada quantidade de mercadoria.
A primeira diretoria já eleita para a Associação Rural de Patos Minas está assim constituída: Presidentes de honra: Dr. José Soares Gouveia e Abner Afonso de Castro; Presidente: Sebastião Alves do Nascimento; Vice-Presidente: Pedro Pereira dos Santos; 1.º Secretário: Otacílio Pelluzo de Almeida; 2.º Secretário: Agnaldo Romão Borges; 1.º Tesoureiro: Walter Nascimento; 2.º Tesoureiro: Armando Tomáz de Magalhães; Conselho Consultivo: Afonso Queiroz, Vicente Pereira Guimarães, Randolpho Borges Mundim, Flausino Pacheco Lou, José Luiz de Barros, João Gonçalves da Silveira, Octávio Dias Maciel, José Queiroz de Canedo e José Peres de Lima; Conselho Técnico: Dr. José Maria Cruz, Dr. Moacir Viana, Dr. Fernando Luiz Lopes, Eurípedes Pacheco, Luiz Apolônio da Silva e Jairo Geraldo Nogueira.
Depoimento de João Vieira Caixeta – João Lazinho:
Não participei da primeira comissão de fundação da Associação Rural, em 1945. Após a fundação, entretanto, houve um período em que as atividades foram paralisadas. Sua reativação aconteceu em 1956. Foi a partir dessa época que eu me tornei um de seus associados. Eram os mesmos sócios fundadores e, agora entravam, também, o Alderico Vaz Vieira e eu. Quero ressaltar que é um privilégio ter sobrevivido a todos os meus companheiros. Eles plantaram uma boa semente que germinou e continua dando bons frutos. Patos de Minas, naquela época, tinha sua economia basicamente vinculada à agropecuária, mas eram inúmeras as dificuldades que os produtores enfrentavam na hora de financiar a produção e comercializar os seus produtos. A Associação Rural foi criada para unir os produtores rurais – criadores de gado e agricultores, aumentando a força e o poder de compra e da comercialização dos produtos agropecuários, tentando diminuir as dificuldades.
Como enfatiza a matéria do jornal Tribuna de Patos, a Associação foi criada para agir nos moldes dos diversos sindicatos de classe existentes. Porém, os Sindicatos eram Entidades somente de trabalhadores, tais como: dos Ferroviários, dos Bancários, dos Comerciários e outros. Todos eles estavam vinculados ao Ministério do Trabalho que, naquele tempo era, também, da Previdência Social. Os bens patrimoniais desses Sindicatos, caso deixassem de existir, seriam revertidos para aquele Ministério.
Por lei, os Sindicatos não podiam e não podem exercer atividade comercial, somente social, de defesa dos direitos de seus associados.
Depois de funcionando assim, houve um ato normativo, estabelecendo que os Produtores Rurais, também, deveriam agrupar-se em Sindicatos e não mais em Associações – como vinha ocorrendo – e que, as Associações Rurais já existentes deveriam mudar seus Estatutos, transformando-se em Sindicatos.
Sendo assim, através da Portaria n.º 1228, de 12 de dezembro de 1956, a Associação Rural de Patos de Minas se transformou em Sindicato Rural de Patos de Minas. A atividade comercial relacionada com produtos agropecuários foram transferidos para a Cooperativa Mista Agropecuária de Patos de Minas, fundada em 20 de abril de 1957, abrangendo a mesma área de associados da então Associação Rural.
Em 29 de abril de 1999, o Sindicato, em Assembleia Extraordinária, mudou a sigla para Sindicato dos Produtores Rurais de Patos de Minas. Seguindo orientação da FAEMG – Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais, a Entidade passa a abranger fins de estudos ligados a coordenação, desenvolvimento, proteção e representação legal da categoria econômica dos ramos da agropecuária e do extrativismo rural, de atividades pesqueiras e florestais, independente da área explorada. Incluiu-se, ainda, a agroindústria no que se refere às atividades primárias, inspirando-se na solidariedade social, na livre iniciativa, no direito de propriedade na economia de mercado e nos interesses do país.
* 1: Leia “Movimento Dos Casca-Grossa”.
* 2: Leia “Carta do Dr. Euphrásio José Rodrigues Para Olegário Dias Maciel Sobre a Estrada de Ferro”, “Dr. Euphrásio Escreve Sobre a Estrada de Ferro e a Violência”, “Questão da Estrada de Ferro, A”.
* 3: Leia “Sociedade Rural do Alto Paranaiba: Embrião do Sindicato dos Produtores Rurais”.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Fontes: A Festa do Milho Através dos Tempos, de Marialda Coury; jornal Tribuna de Patos, do arquivo do Laboratório de História do Unipam.
* Foto: Institucional.