JOSÉ RIBEIRO DE CARVALHO E O SINDICATO RURAL

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Como está constituída a nova diretoria do Sindicato Rural?

Presidente − Dr. José Ribeiro de Carvalho; 1.º vice − Delvar Amâncio de Araújo; 2.º Vice − Jairo Alves da Silva; 1.º Secretário − Dr. Sebastião Silvério de Faria; 2.º Secretário − Josalfredo Caixeta de Araújo; 1.º Tesoureiro − Pedro Maciel Guimarães; 2.º Tesoureiro − Olympio Borges de Queiroz.
Conselho Fiscal − Francisco Pinheiro de Campos; Dr. Arlindo Porto Neto, Dr. Mozart Pacheco. Delegados Representantes − Dr. José Ribeiro de Carvalho, Pedro Maciel Guimarães. Suplentes Diretoria − Anicésio Vieira Valadão, Arnaldo Queiroz de Melo, Paulo Lúcio da Rocha Magalhães, Valdir Nunes Castro, Dr. Zama Alves Tibúrcio, Vanir Amâncio, Modesto Ribeiro Borges. Suplentes Conselho Fiscal − Antônio Severino Sobrinho, Antônio de Oliveira Dias, Romero Queiroz Pereira. Suplentes Delegados Representantes − Hélio de Castro Amorim, Dr. Marconi Ribeiro de Barros.

O que o Sindicato pode oferecer aos seus membros?

O Sindicato tem condições de oferecer muito mais do que tem oferecido, mas para isto, é necessário que o agricultor se sindicalize, porque a força do órgão é proporcional à força que os sindicalizados lhe dão. Não adianta ter um Sindicato que é reconhecido, que é respeitado se os principais interessados que são os ruralistas não dão o seu apoio.

Quantos membros tem o Sindicato?

Temos no município de Patos de Minas 4.800 propriedades rurais e temos 1.800 sindicalizados, dentre os quais, muitos são de Lagoa Formosa, Presidente Olegário, Gumarânia e de outros municípios vizinhos. A minha primeira meta é fazer com que todos os agricultores do município se sindicalizem para que o Sindicato seja realmente forte.

O que tem sido oferecido no momento ao sindicalizado?

Apesar do pequeno número de sindicalizados e da consequente falta de força do Sindicato, ele tem oferecido bastante aos seus membros, através do FUNRURAL, assistência médica, assistência odontológica. Para vocês terem uma idéia, nesse último ano foram feitas em média 450 extrações dentárias e 280 reparações, por mês. Há uma série de outros benefícios, que só a gente estando lá dentro, para ver o que o Sindicato faz. Temos hoje, um funcionário que em convênio do Sindicato com a Administração Fazendária, extrai guias, proporcionando grandes benefícios aos sindicalizados que poupam tempo e dinheiro, evitando viagens a municípios da região, para conseguir tais guias.

Salvo engano, o Sindicato só está autorizado a extrair guias, quando a transação é isenta de ICM. Não seria possível estender esse benefício mesmo às operações sujeitas àquele imposto?

Realmente não tenho certeza se as guias somente podem ser extraídas quando isentas, mas creio que sim. Sua sugestão é muito interessante e vou anotá-la para tratar do assunto, pois será um grande benefício que o sindicato prestará aos ruralistas que têm propriedades em uma vasta região, sem prejuízo para os municípios onde se localizam as referidas propriedades.

Qual a fonte de renda do Sindicato?

Do imposto sindical e da anuidade, que hoje é de 1.000 cruzeiros. O que vale isso? O que se cobra das guias, não dá para pagar o funcionário que as tira. É por isso, que vamos atacar o problema, para valer, fazendo com que todos os agricultores sejam sindicalizados, para fazermos renda, para que o Sindicato venha a ter um advogado contratado, um contador contratado, para que o produtor rural encontre ali a orientação para os seus problemas de ordem jurídica, para os seus problemas com o imposto de renda e outros mais. Outra meta nossa é conseguir um ambulatório odontológico volante, para atender aos sindicalizados no meio rural, evitando sua vinda à cidade, mediante um rodízio de locais e dias. Com relação à assistência médica, já entrei em entendimentos com meu amigo Dr. Paulo José de Amorim que irá coordenar aquela assistência.

Que outro tipo de assistência, o Sindicato pode oferecer?

O Sindicato tem o dever de acompanhar a política agrícola e tentar resolver os problemas ligados a ela. Por exemplo, antes mesmo de minha posse, quando o presidente em exercício estava em viagem tive que resolver alguns assuntos. O Banco do Brasil está ai com sua carteira de descontos do órgão que é a garantia do preço mínimo fechada, o que é um absurdo. Telegrafei ao Ministro e ao Secretário da Agricultura e recebi um telefonema do Secretário pedindo mais informações para providências. Depois saiu uma onda ai, de que O Banco do Brasil não iria financiar para o grande produtor. Enviei telegramas pedindo informações, porque o Sindicato deve estar informado da verdade, para comunicar ao produtor. O Sindicato é um órgão que tem de acompanhar “pari-passu”, toda essa política agrícola, para defender os interesses de seus sindicalizados, mantê-los bem informados e tentar dar a solução, através da FAEMG, que é nosso órgão estadual.

Você pretende mudar alguma coisa na política do Sindicato?

Sim, o Sindicato precisa ser visto como Sindicato e não, simplesmente, como o órgão que faz a Festa do Milho. Esse negócio precisa acabar. Não estou dizendo que vamos acabar com a Festa do Milho, mas sim, com a imagem de que o Sindicato é somente isto. Quando aceitei a indicação de meu nome, quase à força, impus essa condição que foi aceita. Vamos criar várias assessorias para tratar dos vários setores e a primeira delas será encarregada da Festa do Milho, pois entendo que a função do Presidente é outra. Vamos criar outra assessoria para os problemas do FUNRURAL, pois na realidade, precisamos de um médico que nos auxilie e como já disse, o Dr. Paulo José de Amorim, que é meu amigo, aceitou a função de assessor naquele setor. Precisamos aproveitar o período que antecede as eleições, para conseguirmos vários benefícios, como ambulâncias e outros. Se todos os agricultores se agregarem ao Sindicato, sem dúvida alguma, ele será o órgão mais forte do município, que é essencialmente agrícola. Poderemos inclusive ajudar o governo na condução dos problemas rurais; o governo erra muito, mas acerta muito também, e os Sindicatos devem ser órgãos que ajudem a apontar não só os problemas, mas principalmente as soluções. Precisamos ser mais conscientes nas nossas reclamações para não corrermos os riscos de exagerar para chamar a atenção, mas que procuremos mostrar fatos reais para que se o governo quizer nos testar ele veja como verdadeiras nossas reclamações.
Não quero dizer que o ex-Presidente esteja parado, pois o Pedro¹ é um sujeito muito trabalhador. Ele está é realmente cansado: o sujeito enjoa, pois afinal de contas, ele está há nove anos como Presidente. Acho que ninguém deve ocupar um cargo por mais de uma gestão; tem que haver sempre a renovação, para que entrem idéias novas. Geralmente, o elemento que começa vai com muito entusiasmo até a metade de seu mandato e depois esfria, mas já é quase hora de entrar outro em seu lugar, com outras idéias².

O ruralista que reside em Patos e tem propriedade em outro município, pode ser sindicalizado aqui?

Eu tenho a impressão que somente pode ser sindicalizado aquele que é proprietário em municípios que não tenham Sindicato. É um assunto que vou estudar com urgência, porque inclusive, estamos sentindo o problema, em relação à nossa propriedade de Serra do Salitre. Teremos que estudar a possibilidade de que a assistência do FUNRURAL, seja centralizada em Patos que é polo regional.

Apesar dos seus esclarecimentos anteriores, não se é possível falar em Sindicato Rural, sem pensar na Festa do Milho? Existe alguma idéia para a próxima Festa?

Só existe por enquanto, uma conversa inicial, sobre a possibilidade de realizarmos aqui, um Festival Nacional de Música Sertaneja. O Oswaldo Amorim, que está como Diretor da Empresa Brasileira de Notícias (EBN), está nos ajudando; ficou inclusive de trazer aqui, pessoas para tratar do assunto. Acho isso espetacular, pois se conseguirmos, liquidaremos de vez, com o problema de shows, que é o que mais onera a Festa. O povo verá isso, pois vou publicar brevemente, o balanço da última Festa, que sempre foi feito rigorosamente em dia. Não conheço ninguém mais organizado que o Pedro, neste aspecto; ele não tem publicado os balanços por “birra” e raiva dos comentários, já que não existe a obrigação dessa prestação de contas. Além disso o Festival chamará a atenção de todo o país e estaremos dando ao nosso povo o que ele gosta, pois temos de nos orgulhar de ser caipiras e viver como tal, o que é muito gostoso e é de nossa índole. A Festa do Milho é do caipira e quem não quizer ser caipira, que não participe dela. Meu pensamento inclusive, é de que os bailes da Festa do Milho, sejam no estilo caipira, o que é muito mais divertido e fica mais barato para todos, em termos de roupas e  outras coisas. Posso até ser criticado pela sociedade, mas pouco me importo com isto.
Temos também, um plano de construir lá no Parque, um galpão grande e fechado, com estrutura metálica, para realização de shows, bailes e outras coisas, em recinto fechado. Não sei se isso será possível para a próxima Festa, pois é uma coisa muito cara.

Tem se falado muito na possibilidade de realizar duas festas distintas, uma da cidade e outra do Parque. O que você acha da idéia?

Se voltarmos um pouco atrás, antes da existência do Parque, vamos ver que o que tínhamos eram os desfiles dos carros alegóricos e principalmente dos colégios. Tínhamos também, alguns shows que eram feitos na rua e nada mais. Depois as coisas foram ficando muito caras, os colégios deixaram de apoiar, custo alto das alegorias e desinteresse dos alunos. Aliás, felizmente, neste ano, o desfile estudantil já melhorou demais.
Acho que a festa da cidade pode ser feita na mesma semana com uma programação bem feita e com entrosamento entre as duas coisas. O Parque é a fonte de renda para pagar a festa. Antigamente nós conseguíamos verbas do Ministério, da Secretaria, do INCRA e outras, que davam para realizar a festa, juntando-se ao resultado do show da URT. A Prefeitura não dava verba nenhuma e hoje ela participa com verba bastante alta. Então, o Parque tem que fazer renda para custear a festa; há muitos erros que precisam ser corrigidos. Por exemplo, aquele problema de entrada de carros com permanentes, pelo portão do fundo, precisa acabar, porque aquilo além de “furar” demais a renda da festa, principalmente porque, só recebe cartão de permanente, quem tem condições de pagar, traz sérios problemas para quem está dirigindo a festa e é procurado para conceder cartões. Vamos acabar com aquilo definitivamente. Vamos verificar quantos carros podem estacionar naquela área e mandar fazer igual número de cartões de permanentes, que serão vendidos para quem quizer ter o conforto de entrar por lá com quantas pessoas quiser. É uma questão de justiça, pois volto a afirmar, entra por ali quem pode pagar, enquanto que o de menores posses está pagando sempre. Podem estar certos de que aquilo vai acabar; doa a quem doer, porque sou o tipo do indivíduo que não me importo se falam bem ou mal de mim. Preocupo-me muito com minha consciência.

Como você veria a possibilidade de conciliar a festa na cidade e no parque, quando estando este funcionando o povo em geral se dirige para lá?

Depende muito da programação. Se houver na cidade, uma programação atraente, o povo vem. Não podemos é querer obrigar o público a ver aquilo que ele não quer. Há certas promoções que não atraem o grande público, nem que o parque esteja fechado. Há promoções para um público mais seleto.
Já fui muito contrário à realização da festa anualmente, hoje já não penso assim, pois vejo que aquilo é a forma de se divertir de nosso povo, principalmente do homem do campo e do povo mais simples. É o carnaval do homem do campo. É um período em que o povão se desliga de tudo para divertir. Reclama-se que está tirando dinheiro do povo mas é lógico que seja assim; aquele período de festa, corresponde às férias desse povo e nas férias tem-se que gastar.
É por isso, que penso na construção do galpão no Parque, para que se
possam levar para lá as boas promoções.
Agora, o problema da cidade, é conseguir promoções que agradem ao povo, como desfiles e outras. Porque quando isso acontece, o parque pode estar aberto, que ele fica vazio e o povo desce para a cidade.

Que sugestão você daria para minorar o problema criado, principalmente para os bares e restaurantes, com o esvaziamento da cidade, durante a festa e com a exploração dos referidos ramos no parque, por pessoas alheias ao nosso comércio?

Alguns comerciantes daqueles ramos, já estão entendendo e fazendo suas barracas no parque e é o que eles precisam fazer e se quiserem, o Sindicato lhes dará preferência.

Seria possível, realizar por exemplo, aquele “Encontrão-Cantar na Praça” dentro da programação da festa, dentro do Parque?

Claro. É uma idéia excelente, para mostrarmos o que há de arte no meio de nossa gente. Valorizaremos nossa arte, nossa cultura e nosso folclore e juntamente com a realização do Festival Nacional de Música Sertaneja, resolveríamos o problema dos shows, com preços muito inferiores. Bastaria que trouxéssemos um grande artista, como Luiz Gonzaga, por exemplo, para o encerramento.

Não haveria possibilidade de se introduzir na festa, alguma prova de esporte especializado, como por exemplo, uma grande corrida pedestre, ou ciclística, alguma coisa que marcasse realmente e que viesse a se constituir em uma tradição?

É outra idéia muito boa, que estou pronto a acatar. Aguardarei sugestões e colaboração para isto.

Não sabemos porque o Sindicato está ausente do Conselho Patense de Defesa da Comunidade há bastante tempo. Qual será sua posição diante do Conselho, você que é um dos seus fundadores?

Devo confessar que estou muito omisso em relação ao Conselho, como membro fundador e ativo não posso criticar o Pedro, que esteve também ausente durante esse tempo. Tenho tido uma série de problemas que me afetaram muito, mas devo resolvê-los brevemente e darei todo apoio ao Conselho.

Na Pesquisa-Debulha, seu nome tem sido indicado algumas vezes para o cargo de Prefeito. Como é que você se coloca politicamente?

De cara, respondo que não aceito nenhum cargo político. Eu não tenho espírito para ser político partidário, embora seja político, no verdadeiro sentido. Primeiramente, se eu fosse Prefeito de Patos, meu compromisso seria com o povo e com ninguém mais; não iria aceitar imposições de Câmara e nem de ninguém se eu estivesse consciente de estar agindo corretamente e nem iria abrir portas de gabinete para receber “seu fulano”, porque “seu fulano” tem meia dúzia de votos, mas está querendo bobagem. Eu iria sofrer “feito um danado” e acabaria sendo “posto para fora”. Reconheço que não tenho gabarito para ser político partidário.

Costuma-se comentar que geralmente as pessoas que têm condições realmente para ocupar cargos, acabam se esquivando com ponto de vista como o seu e que os dirigentes políticos acabam tendo que indicar às vezes, aqueles que não são os mais capazes. Você tem alguma sugestão para o problema político de Patos de Minas?

Tenho sim. A primeira coisa é formar diretórios de gabarito, onde cada membro pense com a sua cabeça e não com a cabeça do chefe político; diretórios independentes que sejam capazes de escolher bem os candidatos. Infelizmente o que se observa aqui, é que não tem havido essa independência. Basta que você veja aí os nomes dos que compõem os diretórios, para ver que eles estão fazendo a política de determinado chefe político.
Este trabalho teria que ser iniciado agora. O que tem acontecido aqui é que os líderes políticos “vão empurrando com a barriga”; simplesmente não falam nada; é a liderança do silêncio e quando o assunto tem que ser resolvido “na semana que vem”, começam a fazer reunião e aí “pegam um coitado” que aceita jogam-no no fogo e no outro dia, estão “metendo o pau nele aí na cidade”. Não apoiam e prejudicam. Eu vejo “meterem o pau” no Dácio e acho isso um absurdo porque ele foi jogado no fogo e depois ninguém foi lá, lhe oferecer coisa nenhuma e ainda reclamam.
Se o trabalho for feito com seriedade, eu sei que tem muita gente boa aqui, que aceitaria cargos, mas que precisaria ser trabalhada, pois isto não é coisa para última hora, para que houvesse tempo, para essas pessoas procurarem outras que iriam participar da administração. Mas o que acontece aqui é o contrário; vejo por exemplo, a briga da Câmara com o Prefeito e acho isso um absurdo. Afinal de contas, qual deve ser o interesse da Câmara? Não é que o Prefeito faça uma boa administração? Então, porque não unir forças, a bem do município? Está passando da hora.

Que sugestão você daria para o futuro de Patos de Minas?

Teria que pensar muito para isso, mas de momento vejo o problema do ensino. Seria muito bom que tivéssemos uma universidade, mas não devemos nos preocupar muito com isso não, porque já “temos muitos caciques e estamos precisando é de índios”. São mais importantes no momento, as escolas médias e sem dúvida, a principal é esta pela qual estamos lutando − a Agropecuária.

NOTA − Em sua gestão, José Ribeiro construiu: Tattersal Wilson Borges de Melo; paiolão; três pavilhões de equinos; palco de shows (continuidade); arquibancada; barracas de madeira da rua principal (entrada do parque); cinco galpões para exposição agropecuária; sede administrativa do Sindicato (inaugurada em 16 de maio de 1986); iniciou a informatização do Parque.

* 1: Pedro Maciel Guimarães.

* 2: Interessante é que José Ribeiro de Carvalho presidiu o Sindicato por 12 anos, de 1981 a 1993, quando assumiu Cilas Pacheco.

* Fonte e fotos 2 e 3: Entrevista de Dirceu Deocleciano Pacheco e João Marcos Pacheco publicada com o título “Dr. José Ribeiro de Carvalho − Presidente do Sindicato Rural de Patos de Minas” no n.º 31 de 31 de agosto de 1981 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.

* Foto 1: Arquivo do Sindicato Rural de Patos de Minas.

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