TEXTO: RENATO DIAS MACIEL (1944)
O dr. Luiz Amaral, em uma das reuniões que precederam a de fundação da Sociedade Rural do Alto Paranaiba, disse que a lavoura de nossa terra, constituia uma classe numerosa e poderosa, mas muda.
O ilustre publicista foi feliz em sua expressão, porque a mesma traduz uma realidade. Tres mil e seiscentos contribuintes do imposto territorial tem o nosso Municipio, cuja base econômica está inteiramente assentada na lavoura e na pecuaria. Pois bem, tres mil e seiscentos contribuintes, representam tres mil e seiscentas familias, ou mais ou menos vinte mil pessoas ligadas á terra. Acrescente-se a este numero, o do total dos rendeiros, trabalhadores diaristas etc., e ver-se-á que quasi noventa por cento da população vive da agricultura e da pecuaria. E esta população, se tem a sua representação política, não teve a sua representação economica.
Ora, por estranho que pareça, em nosso país, a direção do estado, teve um objetivo nitidamente economico, guiando-se quasi sempre por ideologias exoticas que prejudicavam e prejudicam o curso de nossa evolução economica. Os homens que constituiam as elites dirigentes sabiam muito do que passava nas terras de França, nas planicies da Alemanha, ou no parlamento inglês, e procuravam aplicar aos nossos problemas soluções européias. Somente a atilada inteligencia do preclaro sr. Getulio Vargas, entre os nossos estadistas, vislumbrou que outro era o caminho.
Dai a sua politica sindical que visa, acima de tudo, dar voz às varias forças economicas, no intuito de colaborar com poderes publicos na solução de seus problemas, e, numa face idealistica e humana, resolver todos os dessidios inevitaveis que se levantam com choque dos interesses individuais ou coletivos.
Processa-se, sob a orientação governamental a sindicalização do país. Nos grandes centros todas as categorias economicas já se sindicalizaram com notaveis resultados de ordem coletiva e nacional. A lavoura que espera anciosa a promulgação do codigo rural, é a ultima das grandes classes a se mover.
No presente momento, em quasi todos os grandes centros do interior do país, os lavradores e pecuaristas se agrupam, antecipando-se ao codigo rural, numa demonstração aos poderes publicos de que a maior classe economica do Brasil tambem quer ser ouvida.
Há em Guaratinga, uma ancia imensa de progresso, uma atitude varonil e confiante dos seus homens ante o futuro. Os seus fazendeiros, lavradores e boiadeiros estão na vanguarda deste movimento para frente, e querem fazer-se ouvir na defesa de seus interesses que são, indubitavelmente, os interesses gerais, dada a imensa maioria que representam. E os fazendeiros, e boiadeiros que hoje, entre nós se chamam de “Cascas-grossas”¹, movimentaram-se e fundaram a Sociedade do Alto Paranaiba, entidade que tem o objetivo de coordenar todas as forças economicas da lavoura e da pecuaria do Municipio de Guaratinga, e dos outros Municipios que geograficamente se sitiam nas nascentes do rio Paranaiba; e cuja vida economica está intimamente entrelaçada.
A testa do movimento está a figura do sr. Amadeu Dias Maciel, cuja fibra de lutador é conhecida. Auxiliam-no figuras expressivas, da classe e da sociedade, cujos nomes constituem abono certo á vitoria da causa.
A sociedade foi fundada a 1.º de julho e conta já com quasi quatrocentos associados, esperando os seus organizadores dentro em pouco atingir o numero de mil.
O nosso jornal registra o acontecimento como fato marcante na nossa evolução para o futuro, e sauda os fundadores, hipotecando-lhes a sua inteira solidariedade².
* 1: Leia “Movimento Dos Casca-Grossa”.
* 2: Leia “Sindicato dos Produtores Rurais”.
* Fonte: Texto publicado com o título “A Lavoura se Movimenta” na edição de 09 de julho de 1944 do jornal Folha de Patos, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho.
* Foto: Os Casca-Grossa, do livro Domínios de Pecuários e Enxadachins, de Geraldo Fonseca.