TUMULTO NO SINDICATO DOS TRABALHADORES RURAIS EM 1985

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A2Antes mesmo de ser concretizado, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais vinha causando muita confusão. Wilson Piau, por exemplo, que como funcionário da CEAPS começou a fazer reuniões com a classe no sentido de orientar a fundação da entidade, declarou à nossa reportagem que sofreu até ameaça de morte, através de telefonemas anônimos. Conforme nos disse, muitas vezes foi aconselhado a paralisar a movimentação em torno da criação do sindicato, por amigos receosos de que as ameaças viessem a ser cumpridas. Outro fato que contrariava a intenção de se criar o órgão era a infiltração de vários partidos considerados como da esquerda radical, como o PC, PCR e PT. Aliás, muitos fatores fizeram com que gerasse uma mal estar em relação a este Sindicato, e criasse um clima alterado no decorrer da reunião, que foi realizada no PTC, para que fosse sacramentada a sua fundação. Há poucos dias do evento o vereador Romero Santos deu entrevista à imprensa e acusou o prefeito Arlindo Porto e os dois deputados de dificultarem a criação do Sindicato, pois não viu atendido o pedido de alguns caminhões requisitados à prefeitura para fazer o transporte dos trabalhadores da zona rural até o PTC. Esta atitude do vereador foi como acender o estopim de uma bomba que mais tarde viria a explodir por outros motivos. Tanto o Deputado Federal quanto o Deputado Estadual negaram que estariam contra a criação do Sindicato, e em entrevista à nossa reportagem José Mendonça de Morais chegou a duvidar da sanidade mental do vereador quando nos disse que “Eu refuto a acusação do vereador Romero Santos, porque ele quer apenas tumultuar a nossa situação. Ele é um rapaz desajustado e todo mundo sabe disse. É um homem desiquilibrado e tanto ele acusa como defende”.

Diante deste tumultuado quadro que se formou, ninguém conseguiu evitar que a reunião realizada para a criação do Sindicato, contando com a presença de aproximadamente 300 pessoas, número bem inferior ao que era esperado, se transformasse numa espécie de comício, onde os inúmeros políticos presentes desfilaram extensos e aguerridos discursos. Apesar das agressividades dos pronunciamentos, ninguém causou maior impacto do que o advogado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Carmo do Paranaíba, Lagoa Formosa, e, também, provavelmente, de Patos de Minas, Belchior Guimarães Alves, que depois de agradecer a todos os presentes se dirigiu às pessoas dos dois deputados patenses com essas palavras, “Agradeço também a presença dos nossos deputados nos quais votei na última eleição e nunca mais votarei”. Daí em diante a coisa já prometia ficar muito séria e como de fato ficou. Logo depois de fazer seu discurso, a palavra foi concedida ao deputado José Mendonça, que solicitou a permanência do advogado, que já se retirava do local e mais tarde explicou que precisava pegar o ônibus para Belo Horizonte, e corria o risco de perder o horário.

Antes disso, porém, José Maria Vaz Borges saiu da condição de expectador em que se encontrava, pois já havia feito seu pronunciamento e aos gritos pediu a Belchior para mostrar os calos da mão que o advogado havia citado em seu discurso. A reação do Deputado Estadual foi a gota d’água, e também aos gritos, Belchior respondeu dizendo que “como advogado dos trabalhadores rurais eu preciso apenas saber escrever para condenar homens como V. Exa.”. Neste ponto o tumulto foi geral, e José Maria respondeu que o advogado era um “vagabundo”, no que foi rebatido como “safado”. Enquanto isto, Wilson Arnaldo Pinheiro, do PC, pelo microfone, e como organizador da mesa, tentava controlar a situação. Retirado quase à força por seus companheiros Belchior saiu aos berros contestando os insultos de José Maria. No meio da balbúrdia, José Afonso, um dos candidatos à presidência do Sindicato se levantou e gritou que “O deputado que foi ali para armar confusão merecia a mão no pé do ouvido”. José Maria tomou a ofensa, desafiando-o a fazer o que dissera, e levantou-se disposto a partir para a briga, no que também foi controlado pelos seus companheiros. Quando, enfim, tudo foi controlado o Deputado Federal José Mendonça de Morais utilizou-se do tempo que lhe pertencia, mas que até então não havia sido utilizado, e fez um discurso ponderado, onde solidarizou-se com os trabalhadores rurais e alertou para que o Sindicato viesse a ser apenas o instrumento de defesa daqueles que dele participassem. José Mendonça salientou a necessidade da união da classe, mas lembrou que como homens de bens os trabalhadores não poderiam extrapolar os limites das leis. Tanta confusão acabou ofuscando a figura de Iraci Francisco de Oliveira, da Fazenda Canavial, que, de acordo com a votação, ficou sendo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Patos de Minas.

* Fonte: Texto publicado na edição de 22 de dezembro de 1985 do jornal Correio de Patos, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Patosnoticias.com, meramente ilustrativa.

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