CIRANDAS DE RAFAEL GOMES DE ALMEIDA – II

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Patos de Minas, a capital do milho, pode também ser qualificada como a capital da imprensa ecumênica. Não sei se os leitores observaram, mas com a paralisação do “Jornal dos Municípios” os informativos são dirigidos por padres e agora a “Debulha” vem sendo comandada por pessoas que, pelo trabalho religioso, ocupam destaque na Igreja Presbiteriana. Graças a Deus, os nossos jornais e a nossa revista se harmonizam de tal forma, que, alegremente, a gente canta a ciranda: Na “Folha” um aviso no “Boletim” um adendo. O milho lá no “Correio” quem “Debulha” é o reverendo! (15/07/1980)

Penso que o maior acontecimento patense em 1980 vai ser o comentário sobre as Folias de Reis, principalmente, depois que o Oswaldo Amorim deu aquela cobertura nacional sobre o acontecimento. Mas ao que tudo indica, as folias vão mudar de nome e deixarão de ser “Folias de Reis”. E a ciranda traduz: Me dê uma nota de cem para que lhe volte dez, pois as Folias de Reis serão Folias de Réis! (15/07/1980)

A Democracia é muito importante. É ela quem dá vida a três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Mas acontece que mesmo sendo bem vista, pode apresentar deformações, pois dos três poderes, os dois primeiros representam o povo. E assim, é que se conta que, na captação de água do Rio Paranaíba para ser tratada, houve uma dificuldade por causa da lei da gravidade. E um vereador cirandou: Se a gravidade atrapalha, por causa que eu não sei, a gente tem “quórum” bastante pra revogar esta lei! Um outro vereador, mais precavido e “melhor informado”, retrucou ao seu colega e cirandou: Dá licença de um aparte, e que não me leve a mal, mas esta lei, se não me engano, tem caráter nacional! Diante do impasse, o problema foi levado ao Executivo que, para não fugir da roda, também entrou na ciranda: Prefiro me resguardar, por “questão de consciência” e não examino a matéria, pois me falta competência! Os fatos se desencadearam com tal ardor, que o caso foi levado ao Poder Judiciário, hiper acumulado de serviço, depois da aposentadoria de dois dignos paladinos de nossa justiça. Mas como “o caso exigia urgência”, a ciranda continuou: Com tamanha “gravidade”, que o meu saber não alcança, sugiro que se recorra a mandato de segurança! Finalmente, quando o povo tomou conhecimento da questão, fez-se uma roda grande e todo mundo cantou: O voto, pra que o voto?! Palavra que já não brinco: abaixo a Democracia e que volte o AI-5! (31/07/1980)

Outro dia um médico muito conceituado em nossa cidade, me perguntou o que estava acontecendo na Câmara que a Rádio não parava de falar em “reunião muito tumultuada”. Depois apurou-se que os vereadores estavam exigindo do Prefeito placas para as ruas sem nome e obediência cronológica da numeração. O médico me advertiu: “Rafael, o dia que a Dona Filomena morrer, nós vamos ter que trocar o nome da cidade, pois tem rua aqui em Patos, com nome de gente que nunca se ouviu falar. Colégio também.” E é nesta volta que se ciranda: Mulher de luta serena, neste projeto me empenho: Patos será Filomena e seremos “filomenhos!” (31/07/1980)

Muita gente tem sugerido que a imprensa patense saia do marasmo e parta para o otimismo. Eu concordo, mas jornalismo registra fatos e atos de uma gente e uma época e como a coisa anda meio “ferrete”, a gente ciranda com otimismo, trazendo um pé na frente e outro atrás: Se o rio correr pra cima, quando o fogo não queimar, e se chover chuva seca, a coisa vai melhorar! (31/08/1980)

“A Debulha” tem mostrado o crescimento demográfico de nossa cidade. Felizmente, são poucas mortes e muitos nascimentos, mas os nascimentos são tantos que até se fala em mudar o nome da cidade. E a ciranda traduz: Se a crise nos assola, quando todos andam fartos, os patos de minha terra vão ceder lugar aos partos! E a gente segue rezando, buscando bênçãos divinas, pois patos já não existem e surgem “partos de Minas”.

* Fonte: Revista A Debulha, do arquivo de Dácio Pereira da Fonseca.

* Foto: Afabricadedesenhos.worpress.com.

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