O violinista Anísio Dias despontou com sua arte no final dos anos 1970. A revista A Debulha entrevistou o músico e publicou a matéria (com o título “Um Violão Clássico”) em seu primeiro número de 15 de maio de 1980:
Por que a ideia do recital?
Eu fiz um curso. E este curso nos dá a experiência que a gente nunca espera em conservatórios, professores. Lá eu recebi um incentivo muito grande do professor que tive. E vi que o negócio era dar recitais, fazer apresentações.
Quer dizer que a influência básica foi o curso?
É, deu muita experiência. Aperfeiçoamento técnico. Foi a partir do curso que veio a ideia do recital.
Os recitais serão de música só suas, ou de outros autores?
Não, no início eu quis fazer somente com minhas músicas. Depois, conversando com meu irmão, que já tem uma certa experiência neste setor, resolvi fazê-lo com músicas minhas e de outros compositores.
Você tem uma certa preferência pelo clássico. Por quê?
Foi influência familiar mesmo. Tenho um irmão que gosta muito de clássico. E quando eu tinha 12 anos comecei a ter gosto por música em geral. Ouvindo os discos, senti que coincidia com a minha sensibilidade.
Cita para a gente em síntese os compositores que você mais admira e prefere.
Gosto mesmo é de compositores que trabalham com meu instrumento – o violão – Villa Lobos, coincide demais com meu gosto. Pois o instrumento dele era o violoncelo. Entre outros, Beethoven, Chopin, Bach, Alaúde, aí também já pelo estilo de música.
Então vamos ser mais nacionalistas. Dos compositores brasileiros, além de Villa Lobos, há algum outro que você admira?
Carlos Gomes, compositores regionais como: João Pernambuco, Catulo da Paixão Cearense. Dos brasileiros apenas 2 ou 3 seguiram mais o clássico. Agora, dos regionalistas gosto de todos. Clássicos brasileiros são poucos.
Sua 1.ª apresentação para o público aqui em Patos foi quando?
Não levando em conta apresentações em colégios, foi na I Semana de Arte. Fiz apresentações como arranjador, não ligado diretamente ao que gosto, que é o clássico, mas à música popular.
Do recital, participará mais gente além de você?
Convidei dois amigos, que sempre conviveram comigo e valorizam a música clássica, apesar de gostarem mais da música brasileira. O Eduardo – flautista e o Marcos – no cavaquinho.
Financeiramente você vive de aulas de violão. Como é a aceitação do povo de Patos?
Alunos não faltam. Mas o problema é que a maioria dos alunos quer aprender violão durante 6 meses, para tocar em festinhas. E isso não me interessa.
Você entrou num campo muito interessante em Patos. Parece uma “crise” de aprender a tocar violão. Pensam que é “roupa”, aparência. Você faz uma certa separação do pessoal que você dá aula, não é?
Separo. Eles deixam muito de valorizar a arte e pegam o violão como se fosse uma fase. Não dão valor à arte em si. Acontece também, que há muitos professores de violão, que aprendem a tocar em 6 a 7 meses e já começam a dar aula, deixando muitas vezes de aprofundar mesmo no assunto.
Anísio, você tem preferência por alguma música? Música sua.
Toda música que a gente faz, consideramos boa. Mas com o tempo, podemos ter uma preferência. “Entardecer – afinação em ré”, feita para uma amiga que mora nos EEUU é minha preferida.
Em se tratando de divulgação da cultura em Patos, você acha que os órgãos existentes aqui vêm cumprindo este papel?
De jeito nenhum. Não tem nada relacionado à arte.
Quais os meios de comunicação (divulgação) que você encontra aqui?
Muito poucos. Jornais. Só batalhando e pedindo mesmo. Porque procurar, eles não procuram.
Na mesma edição da revista, há a matéria ANÍSIO – “UM VIOLÃO CLÁSSICO”:
Aconteceu nos dias 9 a 10 de maio p.p., no TELHADO, o recital de violão do compositor patense ANÍSIO DIAS GONÇALVES. Realmente agradou. Atingiu todo o público que compareceu ao Telhado, desde jovens até os mais velhos. Já era hora dos patenses valorizarem com mais afeto o jovem Anísio, pelo seu talento, dedicação e esforço. Vale ressaltar sua interpretação de “Abismo de Rosas”, que foi perfeita. Também merecem destaque, as composições do próprio Anísio, que adaptaram-se por inteiro ao seu estilo clássico, com melodias altamente harmoniosas.
* Fonte: Revista A Debulha de 15 de maio de 1980, do arquivo de Dácio Pereira da Fonseca.
* Foto: Edição n.º 10 da revista A Debulha, de 30 de setembro de 1980, do arquivo de Dácio Pereira da Fonseca.