TEXTO: JORNAL CIDADE DE PATOS (1916)
Andam pelo Cinema¹ desta cidade, umas mulheres Fantomas²; enthusiasmadas pelos Fantomas da scena ellas abraçaram a profissão, com uma differença porem, que Fantomas furtava braceletes e ellas furtam corações. Encontrei outro dia um rapaz; estava inconsolavel, perguntei-lhe o que tinha; elle encarou-me com os olhos de louco e disse: O que tenho, queres deveras saber o que tenho?
Falta-me o coração, pois no cinema uma Fantomas m’o roubou.
E não te dirigiste a policia perguntei. Sim já dirigi-me a policia, fiz mais até, contratei por minha conta propia os habeis dectectives, ninguem ainda conseguio pôr-lhe a mão; hontem encontraram uma que pelo meneios se assemelhava com ella; pediram-lhe cortesmente que tirasse o capuz, e eu que de parte já me alegrava em ver restituido o meu coração, cahi no desanimo, olhei para o seu rosto, ella era uma Fandor³.
Estas Fantomas apparecem todos os domingos no cinema com seus veos mysteriosos, e quando ellas apparecem tão gentis e graciosas, as mulheres casadas sentem correr-lhes pelas costas um formigueiro e olham de soslaio para seus maridos, que graves e empertigados parecem não vel-as, quando na realidade tem para ellas todos os cinco sentidos. As solteiras não riram os olhos dos namorados, tudo por causa das Mulheres-Fantomas.
Para evitar mais furto de corações a policia tomou uma medida seria prohibindo que as mulheres fossem ao cinema embrulhadas com écharpes, afim de serem mais facilmente reconhecidas as delinquentes; fica portanto estabelecido que dóra avante toda mulher que for ao cinema com a cabeça embrulhada em uma écharpe é Fantomas, e a policia tem ordem de engaiolal-a para succego publico.
Juve.
* 1: Na época, o único cinema de funcionamento regular era o Cine Magalhães do Cel. Arthur Thomaz de Magalhães, inaugurado em 10 de maio de 1913 no local onde hoje é o prédio da Rádio Clube de Patos.
* 2 e 3: O articulista deste texto cita os nomes Fantômas e Fandor e o assina como sendo Juve. Certamente foi uma brincadeira com personagens da literatura. “Fantômas” é um personagem francês fictício, criado por Marcel Allain (1885–1969) e Pierre Souvestre (1874–1914). Ele é totalmente cruel, não dá misericórdia e nem é leal a ninguém, nem mesmo a seus filhos. É um mestre dos disfarces e aparece usando várias identidades, muitas vezes de pessoas que ele matara. Fantômas lança mão em seus crimes de técnicas bizarras e improváveis tais como inúmeros ratos, cobras gigantes e encher quartos de areia. Nas tramas, Fantômas tem um filho chamado Charles, que numa das aventuras recebeu uma nova identidade (Jerôme “Fandor”) pelo jornalista francês “Juve”, obcecado em capturar o cruel facínora.
* Fonte: Texto publicado na edição de 04 de junho de 1916 do jornal Cidade de Patos, do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
* Foto e fonte literária: Wikipédia.