Para se ter uma ideia da família, numa manhã fria de junho, Juciara, a mãe do Claudinho, resolveu comprar um par de sapatos Brogue Baeza Whisky de legítimo cromo alemão. Rodou pelas lojas das Ruas Major Gote, Olegário Maciel, General Osório e outras, até que finalmente encontrou numa delas um que lhe agradasse. Muito atencioso, o vendedor fez questão de esclarecer que, mesmo usando o número correto, durante dois ou três dias o calçado poderia apertar um pouquinho, um cadiquinho só, mas que depois ficaria muito macio e confortável. A resposta da mãe do Claudinho foi sublime:
– Sem problemas, hoje é terça-feira e eu só vou usá-lo no sábado.
Saindo da loja satisfeita com a compra, a mãe do Claudinho encontra com uma amiga que portava uma linda blusa de lã. Encantada, pede todas as referências possíveis sobre a veste. A mãe do Claudinho ficou pasma quando a amiga lhe informou que foram necessárias seis ovelhas para confeccionar aquela blusa que veio direto da butique mais chique do Rio de Janeiro. Boquiaberta, Juciara comentou:
– Deus do Céu, ovelhas confeccionando blusas, onde vamos chegar com esse progresso!
Enquanto isso, na sala de aula da Escola Estadual Professor Modesto, o jovem de 10 anos Claudinho puxou papo com uma coleguinha e a professora não gostou. Ela então pergunta ao garoto que nome se dá a alguém que continua a falar sem o interesse dos outros. O Claudinho respondeu na bucha:
– Professora.
É óbvio que os pais receberam notificação de mau comportamento do filho. E eis que ele, o Claudinho, passando pela porta do escritório do Norberto, o pai, escuta algumas palavras de uma conversa daquele com o tio que o deixou preocupado:
– O caso é sério e por isso estou com dor nelas.
Claudinho correu e contou para a mamãe. Esta também se preocupou, logo imaginando que o marido está com um problema sério de saúde e não quer contar. Ansiosos, esperaram pela retirada da visita. Quando se deu, dispararam para o escritório. Mãe e filho querendo saber qual o problema de saúde do Norberto e onde é que mais doía. E a cada palavra da Juciara e do Claudinho, o sorrido do Norberto aumentava. Até que mãe e filho ficaram sem entender. O Norberto explicou:
– Que gracinha de vocês pensando que estou doente. Não é nada disso, é que eu afirmei ao Antônio que o problema de falta de comando aqui em Patos de Minas é sério, muito sério e que não há homem com coragem e pulso para combater nossas mazelas. Como eu fiquei sabendo pelo próprio Dr. Dornelas que ele seria candidato, prometi meu voto baseando-me na sua seriedade, pulso forte e por amar Patos de Minas. Por isso, nas próximas eleições, vou votar no Dr. Dornelas. E conto com você, Juciara.
O riso dos três foi longo e farto.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.