Se meus tijolos não estiverem enganados, nasci no início da década de 1960, quando a boemia nessa região já estava entrando na decadência e começava uma atividade totalmente oposta, as Folias de Reis. Era comum, no início do mês de janeiro, as Folias se apresentarem com suas cantorias em muitas casas. Eu me lembro que vieram muitas vezes, porque o pessoal que eu abrigava era muito religioso. Quase todas as casas por aqui eram bem simplesinhas, algumas verdadeiros casebres, e eu, pode acreditar, naquela época era uma das mais ajeitadinhas. Havia muito pasto, muito barro ou poeira nas ruas e muitos carros de bois levando caixão pro Cemitério Santa Cruz¹. Devagarinho, mas num ritmo constante, um tal de progresso foi asfaltando as ruas, as casas simples foram cedendo lugar pra casas melhores e agora todas vão ceder lugar para os edifícios. Isso é fácil de entender. O que não consigo entender é que ano após ano fui deixando de ser uma residência normal para me tornar um depósito de tranqueiras. Que é que é isso, sô, rapara bem como está a minha frente, repleta de tranqueira de tudo quanto é tipo. Não vou nem dizer como está o meu interior. Resultado: eu que era até engraçadinha, agora sou essa feiura toda. Judiação comigo, pelamordedeus, sem piedade alguma. Infelizmente, não posso fazer absolutamente nada para mudar essa situação, pois é a sina de todo imóvel. Hoje estou assim, sei lá como estarei amanhã. Aliás, sei: muito pior. Deixa estar, deixa a minha hora chegar e estarei para sempre fazendo parte da História de Patos de Minas. E deixarei saudade!
* 1: O imóvel localiza-se na Rua José de Santana entre suas colegas Joaquim das Chagas e Barão do Rio Branco.
* Texto e foto (22/08/2024): Eitel Teixeira Dannemann.