ÉGUA TREINADA

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O pessoal do Distrito de Chumbo, popularmente conhecido como Areado, conhece demais da conta umas lindas escarpas que tem num trecho da estrada de terra que sai da dita localidade e entre tantas ramificações chega à BR-365. Zona rural, repleta de pequenas e médias propriedades, povo hospitaleiro, na Sede um comércio varejista de toda espécie que fornece o muito além do básico à população.

Nesse ambiente bucólico, há muito tempo o cumpadre José se interessou por uma égua Campolina do cumpadre João, vizinhos de propriedade numa região lá para aquelas bandas conhecida como Fazenda Bebedouro, próximo ao Córrego do Moinho. O que mais impressionou o José é que a égua Campolina do cumpadre João era ensinada, quer dizer, treinada para obedecer dois comandos básicos: andar e parar.

Após seis meses de tentativas, João mantinha-se irredutível em não vender a égua que tanto estimava. Nesse tempo, ela foi prenha por um garanhão estiloso de um amigo de cerca. Quando a cria veio ao mundo, tão linda e garbosa como a mãe, João começou a ceder, e depois da potra desmamada, José conseguiu convencer seu cumpadre a lhe vender a égua Pérola, passando-lhe os dois comandos bem explicadinho:

– Pra ela andar não precisa cutucar e nem balançar a rédea, basta dizer “amém”, e pra parar não precisa puxar com força o freio, é só dizer “pronto”.

Uma vez por semana, apesar da razoável distância, José fazia questão de ir à Sede do Distrito com sua Pérola. E toda vez que da estrada avistava as escarpas sentia um desejo imenso de ir até lá com sua montaria para apreciar com ela a beleza da paisagem. Certo dia, lá foi ele, todo feliz da vida e ainda municiado de um binóculo para apreciar cada detalhe daquela natureza. Saindo da estrada principal, passou por uma cancela e foi subindo o morro em meio à vegetação rala e arbustos típicos do Cerrado. Foi então que notou a imensa nuvem negra se formando para os lados de sua fazenda, caracterizando a vinda de uma chuvarada brava. Coriscos começaram a riscar o céu e, sem pestanejar, José resolveu que o melhor seria deixar a visita ao topo da escarpa e galopar para a fazenda.

Quando ia manobrar o animal para o retorno, um imenso clarão surgiu adiante e segundos depois um estrondo ensurdecedor. A égua Pérola, assustadíssima, iniciou uma carreira em direção à descida íngreme da escarpa. Deu um branco em José e ele esqueceu o comando para parar a égua que não arrefecia a corrida nem com o freio puxado quase lhe rasgando a boca. Já próximo ao barranco, veio a luz:

– Pronto!

Imediatamente a Pérola parou, a poucos metros da pirambeira. Emocionadíssimo, José olhou para o céu e agradeceu:

– Amém!

Comenta-se por lá que a Pérola não resistiu à queda, o José depois de três meses hospedado no Regional conseguiu se safar, vendeu a fazenda, comprou uma mercearia em Patos de Minas e conversar sofre equinos perto dele é briga na certa.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 01/02/2013 com o título “Casa do Hugo – 1”.

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