Edilson Corrêa da Mota e Hudson Rangel de Souza Mota, tendo Kleber Lima como Coordenador do Projeto e Pesquisa, escreveram o livro Motta & Mota, publicado em 2007 pela Da Anta Casa Editora. É a história da criação e evolução da família Mota em Patos de Minas e adjacências. Além da genealogia familiar, os autores descrevem um fato histórico talvez conhecido somente pelos patenses mais veteranos: a empresa Fábrica de Ferro do Areado.
São poucos os relatos sobre a mineração no Município de Patos de Minas, assim como são escassos os registros sobre as iniciativas e atividades de mineração tentadas e levadas a efeito no então Distrito do Areado, hoje denominado Distrito do Chumbo, que, no início do século XX, entre 1900 e 1930, contava com uma população considerável. O comércio era relativamente de monta, na sede e área rural, contando com farmácias, armazéns, selarias, sapatarias, ferrarias e bem mais tarde até com fornecimento de creme de leite para laticínios.
Numa reunião da Câmara Municipal de Patos de Minas, realizada em 16 de abril de 1883, foi lido ofício do Presidente da Província comunicando à Câmara que o Engenheiro Crisphiniano Tavares havia reclamado junto ao Governo Imperial que as gentes daquelas paragens impediam os serviços das jazidas de galena da Fazenda do Chumbo. Indício de que houve, realmente, uma fábrica de ferro na região, conforme demonstram alguns documentos (estes documentos estão transcritos no livro, alguns datados: 1890, 1895 e 1901). E atesta também os trabalhos do Engenheiro Crisphiniano Tavares, que era popular e ainda contou com o apoio dos moradores do lugar.
O Engenheiro alemão Wilhelm Ludwig von Eschwege, que trabalhou no Gabinete de Mineralogia S.A. quando veio para o Brasil também pode ter trabalhado na região, juntamente com três parceiros: o Engenheiro francês Jean Antoine Dissandes de Monlevade (chegou ao Brasil em 1817), Antonio Olinto dos Santos e Costa Sena. Consta no livro História de São Gotardo, de José Gonçalves Ferreira, que descobriram minérios de ferro, prata platina e chumbo na região das vertentes dos Rios Abaeté e Indaiá onde os dois, antigamente, tinham o mesmo nome de Abaetés. Provavelmente, Eschwege tenha sido o primeiro certificador desses minérios na região e também o incentivador da mineração de ferro em Areado e nas minas de chumbo lá existentes.
Três sócios investiram determinado capital na Fábrica de Ferro do Areado, um lugar distante da sede do município. Talvez não buscassem alta produção, e focaram-se no mercado local com a produção de instrumentos de trabalho agrícola. Eram eles o Dr. Antonio Zacarias Álvares da Silva¹ (Barão do Indaiá), que foi vereador em Patos de Minas e possuiu fazendas em Santana de Patos e mais tarde foi grande político em Dores do Indaiá; Capitão Francisco José da Motta e o Engenheiro Crisphiniano Tavares. Não sabemos se tiveram incentivos do Imperador do Brasil, que num certo período incentivava as minerações e siderurgias por todo o país.
Há um documento² da Câmara da Vila de Patos ao Governo de Minas, datado de 22 de abril de 1881, sobre ensino profissional e indústria. Num dos parágrafos está escrito: “Existe, porém, em começo, na mesma Freguesia, na Fazenda das Caboclas, uma fábrica para a fundição de ferro, organizada por uma companhia particular, composta dos senhores Chrispiniano Tavares, Antônio Zacharias Alvares da Silva e Francisco de Paula Oliveira; existe anexo ao estabelecimento em começo uma grande mina de ferro, de primeira qualidade, e segundo alguns ensaios feitos pelos senhores drs. Manoel Thimóteo e Olegário Dias Maciel, o mineral bruto foi calculado em 75%”.
Naquela época era difícil possuir e usar bens de ferro no país. Um rolo de arame costumava ser equivalente a um hectare de terras, como demonstram pesquisas em inventários de fazendas da região. Os fazendeiros, para proteger as suas casas e animais, faziam valas e muros de pedras. Um destes típicos muros se destaca nas divisas de Patrocínio, Cruzeiro da Fortaleza e Guimarânia, no local denominado de Chapadão de Ferro.
As jazidas de ferro da Fábrica do Areado eram de pouca quantidade, localizadas na Fazenda Fábrica e Gameleira, no hoje Distrito de Pindaíbas, à margem direita do Córrego da Cabocla, abaixo da barra do Córrego do Buracão. A área da fundição ficava distante das pedras de ferro. Por isso era necessário o transporte através de animais de cargas e ainda em carros de boi. Quanto a objetos produzidos na fábrica sabe-se tão somente de uma torquês e vestígios de peças corroídas pelo tempo, no próprio local onde funcionava a fábrica.
O jornal “O Trabalho”, na sua edição n.º 14, de 11 de março de 1906, comenta sobre a exploração de minério na região: “Com relação à indústria mineralógica temos desperdiçado, mesmo dentro do nosso município, incalculáveis riquezas que aí jazem à espera de exploração. E essa, se não se faz, é tão somente devido quer à ignorância de seus possuidores, quer à falta de capitais, quer à falta de garantias, pois se qualquer empresa tentar a exploração delas, logo teríamos seus proprietários, por não lhes poder aquilatar o valor, a pedir por elas o que não valem”.
* 1: Leia “Antonio Zacarias Alvares da Silva”
* 2: Leia “Documento Sobre a Fábrica de Ferro do Areado.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto 1: Local onde era a área de processamento.
* Foto 2: Torquês produzida na fábrica em exposição no MuP.