TEXTO: JORNAL O TRABALHO (1907)
Hoje volto a rabiscar sobre este vasto Districto do Areado¹, chamando a attenção de quantos se interessam pelo bem estar do nosso torrão Brasileiro, e, principalmente deste vasto Municipio que jaz ainda inculto.
Estamos no começo das cultivações, mas muito afastados do Evangelho, vamos vivendo na ignorancia por culpa dos nossos peccados. Está bem alcance de todos, meditando um pouco, que onde chegam as verdades evangélicas, chegam a sabedoria, as riquezas e todo o bem estar, porque facilmente um povo evangelisado comprehende o poder da união e se aggrega como verdadeiros irmãos procurando o bem estar social, para grandeza da patria; e é o que cogitamos como verdadeiros patriotas junto aos Governos da Nação.
Tratam os Governos de disseminar a instrucção por toda parte; os verdadeiros ministros de Christo, como o illustre e caridoso Vigario desta Freguezia, esforça-se em ensinar a doutrina Christã; a illustrada Edilidade envia professores e professoras ás localidades do municipio que se acham desprovidas dos professores estadoaes; onde não se pode manter cadeiras publicas vão os professores particulares e assim vai-se derramando a instrucção religiosa e litteraria.
Cumpre que o povo, guarda do mesmo povo, não se cruze os braços collocando-se no indifferentismo. Illustre escriptor da America do Norte, disse: “Nação alguma se acha actualmente em melhores condições de grande desenvolvimento do que o Brasil, empregados que sejam os meios, mais praticos e adequados, sustentadas por direcção sabia e energica”.
Os que actualmente dirigem os destinos da Nação, do Estado e do Municipio, desejam que o nosso paiz se approxime o mais breve possivel da grande Nação N. Americana, na litteratura, industria, commercio e lavoura. Como nos havemos de approximar se formos desunidos e indifferentes? Nós seremos unidos, e lá no nosso humilde cargo, mesmo de inspector de secção devemos ser cumpridores dos nossos deveres em auxilio commum, para que a instrucção, a industria, a agricultura e o commercio se desenvolvam.
Grande futuro está reservado a este Districto. A sua riqueza natural, grande em mineraes, em terras de cultura, em pastagens, e, as importantes quedas d’agua que possuem os rios Abaeté, Areado, S. Bento, e outros ribeirões, quem duvidará brevemente serem aproveitadas?
Os Drs. Presidente do Estado e deste Municipio, para o nosso desenvolvimento agricola e industrial, cogitam em fundar neste Municipio uma “Fazenda Modelo”, onde, com as demonstrações praticas, instruirá os nossos municipes das vantagens mechanicas agricolas. Tratando o Governo de adquirir o local para a fundação da referida “Fazenda” será a occasião opportuna de mandar examinar a Fazenda do Chumbo² que pode ser aproveitada para aquelle fim, e talvez com grande vantagem, não só porque suas terras são uberrimas, como porque com esse estabelecimento haverá a divisão da Fazenda com os actuaes occupantes, por titulo gratuito ou oneroso, e, depois haverá a renda do imposto territorial, novos e velhos direitos dos 3% ao Estado e ao Municipio. Uma vez proprietarios os actuaes occupantes irá sucedendo a transmissão da propriedade, valorizada as terras e os rendimentos certos.
Graças a Deus, o Areado vai mudando de face repentinamente. O templo, que outr’ora alguns religiosos com muita difficuldade procuravam reparar e ornar, vivia sempre em ruina; e presentemente acha-se bem asseiado, paramentado e mobiliado, devido ao zelo inexcedivel do digno Vigario.
As auctoridades judiciaes do Districto vão cumprindo bem os seus deveres; pena é que esteja continuando por tanto tempo a supressão da linha do correio da cidade para a séde do Districto, e as correspondencias officiaes tão difficeis de chegar áquelles que são encarregados de distribuir justiça.
* 1: Em 12/07/1876 a lei provincial n.º 2329 criou o distrito de Dores do Areado, mas o povo deixou o “Dores” de lado e ficou só com o Areado. Em 07/09/1923 a lei estadual n.º 843 mudou o nome de Dores do Areado para Chumbo. Mas o nome não pegou, e o distrito de nome oficial Chumbo continua sendo referenciado como Areado.
* 2: Leia “A Fazenda do Chumbo”, “Documento Sobre a Fábrica de Ferro do Areado” e “Fábrica de Ferro do Areado”.
* Fonte: Texto publicado com o título “Areado” na edição de 12 de maio de 1907 do jornal O Trabalho, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.
* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.