VENDINHA DO NHÔ CAPISTRANO, A

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Lá para as bandas da comunidade de Contendas, fica a fazendinha do Nhô Capistrano, pertinho do Córrego do Brejo, que ele sempre afirma categoricamente que nos idos tempos de sua juventude costumava pescar dourados de mais de 10 quilos e que hoje quando consegue fisgar umas dez piabinhas já se dá por satisfeito. E ele explica:

– Antigamente os córregos e ribeirões dessa região eram fartos de água e de peixes. Acontece que foram desmatando, desmatando, desmatando e as nascentes secando, secando, secando e com isso os córregos estão cada vez com menos água, e com isso, claro, os peixes somem.

Certo dia ele pensou com seus botões:

– Tem aquele cômodo pertinho da estrada que tô usando só pra guardar milho. Se eu montar uma vendinha nele vai ser melhor negócio do que ficar acordando de madrugada pra tirar leite, cansei disso.

Com a concordância da mulher e a ajuda financeira dos dois filhos formados residentes em Belo Horizonte, ele reformou o cômodo e o transformou numa vendinha até que muito simpática. Óbvio, que o início foi de pouquinho movimento, mas com o passar do tempo a vendinha ficou muito conhecida e, pela simpatia do Nhô Capistrano, tornou-se muito movimentada. E nessa, de muito movimento, surgiu um problema: troco. Um amigo lhe sugeriu que fizesse como muitas lanchonetes e padarias em Patos, que na falta do troco total, completava com balas. Aprovando a ideia do amigo, Nhô Capistrano fez questão de caprichar no aviso que afixou bem na entrada do comércio.

Mas eis que, não mais que de repente, o movimento da vendinha começou a diminuir, dia após dia. Nhô Capistrano passou a reparar que muitos clientes chegavam até a porta e, sem ele entender o porquê, davam meia volta e iam embora. Conversava muito com a esposa e não conseguia descobrir o motivo do sumiço dos clientes. Será que ele atendera mal um deles e a notícia se espalhou? Será que uma mercadoria estava estragada sem ele perceber e o povo ficou sabendo? Será que por inveja de um dos concorrentes da região foi divulgada alguma notícia ruim sobre a vendinha?

Num domingo à tarde, com o comércio fechado, recebeu a visita do amigo da sugestão. Após ouvir as lamúrias do Nhô Capistrano, foram até a vendinha para tentar descobrir algo de errado que pudesse estar afugentando a clientela. Não precisou nem abrir a porta e imediatamente o amigo descobriu o motivo que estava afastando os clientes. O problema estava no aviso que o Nhô Capistrano colocou bem na entrada do estabelecimento a respeito dos trocos:

– Quem não colaborar no troco leva bala.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.

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