TEXTO: JOÃO BORGES NETTO (1914)
Depois de ter, segundo a expressão cá da terra, queimado bem as pestanas em cima dos livros, resolvi tambem, magnânimo leitor, dar o ar de minha graça, escrevendo para as columnas do “O Commercio” alguns rabiscos…
Antes, porem, de entrar em meu assumpto, cumpre-me solicitar aos caros e gentis leitores um pouco de benevolência, para este que ora começa ensaiar os seus primeiros passos no jornalismo.
“Fabricandi nat faber” dizem os entendidos da lingua, e eu baseado n’isso, corajoso, enceto a minha ardua missão, que de livre e expontanea vontade, tomei de discorrer um pouco sobre o progresso em Patos.
Primeiramente, tenho que dar os meus sinceros profalsas ao digno presidente da Camara¹, pelo assíduo trabalho que vem elle fazendo em pròl de nossa querida terra sertaneja, não medindo esforços para engrandecel-a.
Patos, honra seja feita, tem, nesses ultimos annos, tido algum progresso, um tanto animador: possue uma nova cadeia, uma casa da Camara, Grupo Escolar, em construcção, e, futuramente, agua canalizada, luz electrica, etc., etc.
Muito bem! Vai-se mesmo de vento em pôpa! Avante patricios! Coragem! O diabo não é tão feio como se pinta!
Jó pode, hoje, o viandante, que por ahi passar, admirar, em nosso largo, bellos arvoredos, isto é, em miniatura, cercados por emquanto, mas, que já lhe dà um cheirinho de progresso, o que jà não é pouco.
Em Patos, jà se pode á noite, assistir á uma fitinha cinematographica no Cinema Magalhães; podendo-se, tambem apreciar um bello e extenso Jardim Publico, com corêto, bancos esparsos e um verde grammado, dando-lhe um belissimo aspecto, onde, aos domingos, a elite Patense vai passar as tardes ao som da… banda de musica…
De quando em vez, ouve-se tambem, em Patos, um monotono Fon-Fon dos autos, propriedade do Major Sesostris Dias², os quaes, em vertiginosa carreira, percorrem as ruas principaes da cidade, apparecendo, de quando em quando, atè Lagôa³; sendo tambem este logar ligado a Patos por uma linha telephonica, facilitando assim, em caso urgente a communicação rapida desses dois logares.
Não seria nada ruim (è cà opinião minha, embora não a dêm valor algum) se ligassem tambem Patos a Patrocinio por uma linha telephonica, desde que o telegrapho embirrou mesmo em não estender os seus fios atè essa cidade.
Não se pode, pois, dizer que Patos não progride.
Ahi está em poucas palavras exposto o que notou o fraco auctor desses singelos traços, patenteando bem que o povo Patense tambem é amante do progresso, e que deseja ver a sua querida urbs em melhor posição de que é mui digna.
Ouro Preto, 1 − 5 − 914.
João Borges Neto.
* 1: Marcolino Ferreira de Barros.
* 2: Sesostres Dias Maciel, o Major Gote.
* 3: O então distrito de Lagoa Formosa.
* Fonte: Texto publicado com o título “Impressões” na edição de 07 de junho de 1914 do jornal O Commercio, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba.
* Foto: Dois primeiros parágrafos do texto original.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.