RESPONSABILIDADE DO PATENSE NA CONSTRUÇÃO DA CIDADE, A

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TEXTO: DEIRÓ EUNÁPIO BORGES JÚNIOR (1971)

Os anais da nossa história, citadina, expressos em documentos públicos e em órgãos de publicidade mimeografados e de circulação efêmera, como também os que a memória dos mais próximos antepassados nos transmitiu, valem como testemunho do acendrado culto cívico que os nossos maiores devotaram á sua terra natal.

Tocado de natural sentimento bairrista, êsse devotamento, traduzindo-se em inequívocas demonstrações de interesse pelo progresso material, intelectual, social e religioso da nascente povoação, constituía, do mesmo passo, agradecida correspondência á munificência do Criador para com êste estremecido rincão das Alterosas, munificência sensível “na beleza imponente e sem par de nossos altiplanos, como nas paisagens soberbas e nos horizontes sem fim, com que se embriagam maravilhados os olhos de quantos, pela primeira vêz, os contemplam”.

Assim é que os conterrâneos de antanho, lutando contra os óbices de tôda ordem peculiares àqueles dias tão recuados no tempo, se viam na contingência de provêr, quase à mingua de ajuda dos poderes públicos, as necessidades mais prementes que diziam com a instrução de seus filhos e as de caráter social e religioso. Com vistas a êsse desiderato, eram então comuns as subscrições populares, seja para a consecução de meios conducentes ao ensino das primeiras letras, seja para outras realizações de interêsse coletivo.

Legando ás gerações que lhes sucederam tão edificantes exemplos de dedicação ao bem comum, os nossos antepassados lhes incutiram no ânimo, obviamente, uma grande noção de responsabilidade pela preservação e extensão desse inestimável repositório de transições cívicas e democráticas.

O povoado que, segundo os historiadores, nascera da fixação de tropeiros nas proximidades de uma lagoa em que havia grande quantidade de patos e ao redor da capela posteriormente edificada por Antônio da Silva Guerra e sua esposa D. Luiza Corrêa de Araujo, em honra a Santo Antônio, o povoado fôra adquirindo foros de cidade.

Vai por duas ou três décadas, supervenientes eventos, notadamente um surpreendente aumento populacional, despertando no cidadão patense a consciência de nossas até então insuspeitadas possibilidades de impulsionamento do progresso, o incentivaram a um trabalho diuturno e indormido, em mira á promoção de grandeza sempre crescente desta terra dadivosa e bôa.

Graças, pois, á iniciativa particular, como também á iniciativa dos responsáveis pela gestão da coisa pública, federal, estadual e municipal, um irreprimivel surto de progresso eclodiu então, de molde a modificar, de maneira sensível, a nossa fisionomia urbanistica.

Eis porque Patos antiga é hoje a cidade moderna (presa da mais intensa emoção, tomo aqui a palavra a alguem cuja lembrança me é sumamente cara, em saudação a ilustre filho desta cidade, então recém-formado em Direito), Patos é hoje “a cidade moderna que se orgulha das suas multiplas possibilidades e recursos; dá imensa riqueza do solo e do sub-solo e onde, parafraseando D. Aquino Corrêa, a mangaba se escacha ao sol, atestando a uberdade rica das terras; que vê, do fundo das grupiaras, o carbono puro faiscando ao sol do meio-dia; cujas searas oferecem sempre compensadoras messes; terra boa, da qual se pode dizer com Olavo Bilac: “Quem com seu suor a fecunda e humedece, vê seu esforço pago, é feliz e enriquece”. Mas, se a cidade moderna se ufana, ostentando-se aos olhos do forasteiro e do ádvena como donzela morena e gentil e moça, ela mais se orgulha como gleba onde a civilização vai fincando a sua tenda, mostrando ao forasteiro o primado da inteligência sobre a civilização material, civilizações que, aliás, marcham “pari-passu”.

A referência, ai, a forasteiro e ádvena, sugere-me uma palavra de estrita justiça, qual seja a de ressaltar a apreciável e inestimável contribuição dos filhos de outras plagas, os quais, irmanando-se conôsco, de há muito veem empenhando o melhor de sua bôa vontade, no sentido da promoção do maior engrandecimento e prosperidade de sua terra de adoção.

Patos de Minas ostenta, com legítimo orgulho, os penachos de Capital do Alto Paranaíba, de Capital Nacional do Milho e de Cidade Universitária; é sede da Diocese de Patos de Minas, e conta, no acervo de suas mais caras e importantes realizações, com esta prestigiosa rádio-emissora.

Os patenses, responsáveis ontem, hoje e amanhã pela construção de sua cidade natal, estão realizando o atual designio inspirador da Revolução de Março, consubstanciado no slogan: Construir!

* Fonte: Texto publicado na edição de 25 de maio de 1971 do Jornal dos Municípios, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do UNIPAM.

* Foto: Três primeiros parágrafos do texto original.

* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.

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