TEXTO: JORNAL O PATENSE (1950)
O serviço de mudança dos canos condutores dagua que a Prefeitura está executando, pela sua rapidez e perfeição, vem causando espanto. Faz-nos até pensar que o espirito do velho Frontin¹ baixou sôbre os responsáveis pelas obras…
Também os serviços de esgôto marcham num ritmo acelerado. Chega-se a não duvidar de que os seus executores assistiram àquele famoso congresso das municipalidades², em que o B.V.³ explicou o que era esgôto…
Mas, para nosso azar, os nossos representantes naquele conclave parece que não prestaram muita atenção nas palavras do mestre: estão furando buracos na cidade toda, mas se esquecem de entupi-los.
O povo já está meio desconfiado com essa furia de furar buracos. A cidade está quase toda de quarentena. Chega-se a desconfiar de que há manha nisso. Dizem que assim a oposição não poderá fazer comícios…
Em quase toda esquina fincaram a taboleta: “Transito impedido”. Será para evitar que os habitantes da cidade caiam nos buracos?
E por falar em oposição, dizem por aí que essa buraqueira doida é para impressionar o eleitor da roça. O diabo é que a maioria reside na cidade. E o citadino, que está sofrendo as consequências da febre tatuzeira, não vai nessa fachada de realizações de fim de govêrno e vésperas de eleições4…
“Aviso aos Navegantes”… ou melhor dizendo: aviso às empresas de transportes: descarreguem as mercadorias na ponte5 e transportem-nas no ombro. Está proibido o transito de veículos na cidade.
Um coisa em benefício do povo está sendo feita: a administração mandou colocar uma porção de pinguelas sobre as valetas, o que muito veiu facilitar a locomoção dos pedestres…
A fim de que o comercio (principalmente o atacadista de cereais) não seja prejudicado, pois estão ameaçados de fechar os armazens, a prefeitura vai adquirir um possante auto-giro6 para o transporte de cargas da ponte até os respectivos depósitos…
E enquanto a Prefeitura fura buracos, o serviço de asfaltamento vai apertando o cerco… Haverá multa se a municipalidade atrazar o serviço?
* 1: Nascido em Petrópolis (17/09/1860), o engenheiro André Gustavo Paulo de Frontin foi senador, prefeito do antigo Distrito Federal e deputado federal. Ganhou notoriedade ao multiplicar, juntamente com o também engenheiro Raimundo Teixeira Belfort Roxo, o abastecimento de água na cidade do Rio de Janeiro num prazo recorde de uma semana, num empreendimento que ficou conhecido como Episódio da água em seis dias. Faleceu em 15/02/1933.
* 2: Evento ocorrido em Belo Horizonte em setembro de 1941. Sobre ele, a edição de 26 de outubro de 1941 do jornal Folha de Patos comentou: Quando da reunião de prefeitos e funcionários técnicos na Capital do Estado, em mágno e rumoroso congresso, que fez a sua época nos anais políticos do Estado Novo, era de ver, para nosso maior gáudio, a concentração de simpatias e de entusiasmos em tôrno de nosso município pela sua impar situação econômica e financeira. Leia o texto integral em “Otimismo em 1941 -2”.
* 3: Benedito Valadares Ribeiro (04/12/1892 – 02/03/1973). Influente homem público na época de Getúlio Vargas, foi vereador e prefeito de sua cidade natal, Pará de Minas, e mais tarde, governador de Minas Gerais, de 15 de dezembro de 1933 até 04 de novembro de 1945.
* 4: Era o fim da administração de Vicente Pereira Guimarães. Nas eleições realizadas em 03 de outubro foi eleito prefeito o Dr. Jacques Corrêa da Costa, que assumiu em 31 de janeiro do ano seguinte.
* 5: Antiga ponte do Rio Paranaíba. Leia “As Antigas Três Pontes do Rio Paranaíba”.
* 6: Antigo modelo de aeronave, antecessor do helicóptero, cuja sustentação era dada por uma espécie da asa giratória na parte superior, e cuja propulsão era feita por uma motor a hélice convencional.
* Fonte: Texto assinado por Iguinacio publicado com o título “Peço a Palavra…” na edição de 25 de junho de 1950 do jornal O Patense, do arquivo da Fundação Casa da Cultura do Milho, via Marialda Coury.
* Foto: Br.depositphotos.com, meramente ilustrativa.