Foi muito mà a nota severa que o dr. Sandoval queria empregar contra o jogo, pois, aqui em Patos, já tornou mais q’ natural este vicio.
Não saberà o illustre delegado que é uma cousa muito divertida assistir aos banqueiros rodar a bolinha fatal? Não apreciará tambem o movimento do rôdo, aquelle simpathico movimento de venha dinheiro e mais dinheiro? Creio que sim, e até deve ter ficado muito satisfeito com a abertura dos clubs e pelo acto nobilitante, digno mesmo de applauso dos contraventores da lei.
E’ lá no jogo que os homens vão deixar a honra, a dignidade e o credito. Como então prohibir tão delicioso passa-tempo?
E’ de se admirar o dr. delegado querer represal-os, pois, os banqueiros não haviam de gostar, como não gostaram de semelhante abuso empregado por um representante da lei.
Não saberà ainda o dr. Sandoval que a propria lei manda que os mais velhos ensinem a arte de jogar a menores de 10 annos? Pois manda, sim, senhor. Esperamos brevemente que os pais de familia assim procedam com seus filhos.
E nem deveria ser outra a medida dos mesmos. Aproveitar emquanto antes e incutir no jovem espirito das creanças que o melhor trabalho é encher barrigas de banqueiros e nada mais.
Estes vos esperam afflictos, impacientes. Porque demoraes? Não os deixeis parar a […] pois são os vossos lucros, senhores jogadores.
Levem os vossos filhos. Não percaes tempo, que tempo é dinheiro e dinheiro nesse divertido passa-tempo não se custa a ganhar. Avante, progressistas! Não esmoreçam logo no principio de tão util melhoramento!
* Fonte: Texto de Dimas Pinto (diretor do jornal) publicado com o título “Ainda o jogo” na edição de 1.º de agosto de 1917 do jornal A Metralha, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do UNIPAM.
* Foto: Primeiro parágrafo do texto original.
* Edição: Eitel Teixeira Dannemann.