TRÁGICO JOGO DA URT EM 1957 – 3

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TEXTO: DÉLIO BORGES DA FONSECA (1957)

Acontecimentos de gravidade excepcional, tiveram por palco o campo da URT, na avenida Brasil, aqui mesmo em Patos de Minas. Na esperança frustrada de presenciar uma bôa contenda futebolística, que seria disputada entre o incontestavelmente valoroso esquadrão da União Recreativa dos Trabalhadores e o quadro de profissionais do Asas, incalculável multidão se locomoveu até o estádio da Av. Brasil. Patos de Minas, que a duras penas vinha conseguindo um bom nome, como terra hospitaleira e acolhedora, retrocedeu à estaca zero, mercê dos acontecimentos verificados no domingo passado, que encheram de vergonha a todos quantos tiveram a desdita de presenciar às cenas degradantes de selvageria, que então se desenrolaram. O povo de Patos de Minas, ordeiro em sua maioria, que prestigia e aplaude aos nossos espetáculos esportivos, lança o seu repúdio contra o acinte de que foi vítima e que irá repercutir lá fóra, contra os nossos pretensos fôro de cidade civilizada.

Lamentamos profundamente o ocorrido na Avenida Brasil, quando os esforços de soerguimento e de sombranceria de tantos esportistas dedicados, foram redusídos a cinzas por alguns torcedores fanatisados da veterana URT. Preferimos não comentar sôbre as razões psicológicas remotas da questão. Os 2 a zero, após 15 minutos de jôgo e a expulsão de Vadinho, se constituíram no motivo determinante, atual, da degringolada. Não pretendemos julgar do erro ou do acerto da decisão do juiz. O jogador disse qualquer coisa ao árbitro; o que, não sabemos. Uns afirmam que ele não disse nada de mais. Outros juram que o Vadinho xingou a mamãe do juiz. Certo ou errado, a expulsão teria de ser acatada.

No entanto, ao invés de prestar obediencia ao árbitro, que certo ou errado, é a suprema autoridade dentro do campo, o jogador punido, relutou em abandonar a cancha, estimulado que foi à indisciplina, por torcedores exaltados, torcedores e próceres do clube anfitrião. Baldados foram os esfórços do meu querido Dr. Benedito Alves de Oliveira, para conter os ânimos injustificadamente incendiados, de adeptos do seu clube e mesmo de alguns companheiros seus de orientação clubistica. Mas não foi tudo. O vexame absoluto, o colapso total, do bom senso, haveria de atingir o seu clímax, o seu ponto culminante, o seu epicentro, daí a alguns instantes. Reiniciada a partida, com a substituição do jogador expulso por um outro (fato que demonstra a falta de autoridade moral do juiz da partida), poucos instantes mais tivemos de futeból, de péssimo futeból. De um futeból desleal e vergonhoso de parte a parte, num desrespeito clamoroso, para com o numeroso público que pagou para ver uma festa de cordialidade esportiva. Nova expulsão no quadro Uerretense, possivelmente também “à tôa”, fêz transbordar a ira dos mais exaltados, seguindo-se então, as cenas mais vergonhosas de que temos memoria no futeból patense, cenas que não dizem mal apenas de uma dúzia de indivíduos incapazes de conter os seus instintos, mas que falam muito mal de nossa Patos de Minas que tanto se esforça para se projetar como cidade-modêlo, nos cenários de Minas e do Brasil. Ondas e mais ondas de fanáticos, tomados subtamente de uma coragem indômita, rolavam quixotêscamente contra um pobre homem, sem fôrça física e sem autoridade moral para enfrentar aquelas ordas inconformadas. A tragi-comédia teve o seu fim com o espancamento do juiz da partida, que se humilhou, correndo enquanto o poude à frente de seus agressores, numa cena que encheu muito mais de humilhação e de vergonha, aos assistentes daquelas cenas deprimentes e indecorosas, e à cidade de Patos de Minas. Está de luto o esporte patense, e os homens sensatos desta terra, hão de corar de vergonha, enquanto perdurar em suas memórias, a lembrança da vergonheira da Avenida Brasil.

* Fonte: Texto publicado com o título “Espetáculo Deprimente” na edição de 30 de junho de 1957 do Jornal dos Municípios, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.

* Foto: Br.freepik.com.

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