Na década de 1970 um bando de meninos na faixa dos dez a doze anos de idade, com margem para mais e/ou para menos, era considerado um verdadeiro terror devido ao aborrecimento que causava ao povo. Eles viviam fazendo gracinhas, zombando das pessoas e o pior, diziam que praticavam pequenos furtos em quintais alheios. Como na época os personagens das histórias em quadrinhos do Walt Disney fazia muito sucesso, os atentados meninos foram apelidados de Irmãos Metralha.
Certo dia um deles foi pego afanando nada mais, nada menos, que três galinhas numa casa situada na Travessa dos Queiroz. O proprietário era muito conhecido na cidade e com a autoridade que lhe competia foi levar o menino ao delegado da antiga Cadeia. Já na calçada, topou com um padre da Matriz. Este, depois de uma longa conversa, convenceu o dono das galinhas a entregá-lo porque queria ministrar alguns ensinamentos ao moleque.
No interior da Igreja, o religioso passou uma tremenda carraspana no endiabrado. Ele o obrigou a confessar o roubo e prometer que nunca mais cometeria o mesmo crime. Mas, Metralha que é Metralha não se entrega fácil. Pois eis que o pequeno traquitana danou a chorar copiosamente e disse que não estava roubando as galinhas, mas simplesmente pegando emprestado porque a família estava passando fome e que depois, quando sobrasse um dinheirinho, ia comprar outras e pagar.
Óbvio que o padre não acreditou naquela história e ralhou mais ainda com o menino até que ele percebeu que não ia ter como escapulir daquela situação. Então, humildemente, resolveu confessar o roubo. Mas o que o padre ouviu foi de eriçar os cabelos:
– Ô padre, já que o sinhô vai perdoar as três galinhas que eu tava robâno, ocê me perdoa mais três que eu vou robá logo. Ai fica pronto, já fica tudo perdoado, né?
Dito isso, o menino se mandou numa correria desembestada e sumiu de vista. Metralha que é Metralha não tem jeito mesmo, e ele e seus “irmãos” continuaram aprontando para desespero de muitos.
* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.
* Foto: Vecgaranhuns.com.