DR. EHPHRASIO (JORNAL O TRABALHO) REAGE A COMENTÁRIO DE TIGELINO (JORNAL ESPANADOR)

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TEXTO: E. J. ROIZ (1907)

Anda por ai um jornal que se escreve numa lingua bunda que na secção “de palanque” critica um certo Dr. que escreveu n'”O Trabalho” a palavra pingue; em primeiro logar nos estudos de sematologia, não viram os criticos que o sentido das palavras soffre atravez dos tempos trez mudanças principaes: a primeira que depende da ligação de idéas no pensamento e do valor relativo que estas assim adquirem; a segunda que é determinada pelo sentimento que assiste ás idéas; a terceira a que acompanha a evolução syntaxica da linguagem. Antigamente quando se queria dizer uma cousa abastada, dizia-se pingue é verdade, mas com a evolução hoje toma-se em outra accepção, assim querendo-se dizer uma cousa chué, pequena, pobre, emprega-se o adjectivo pingue; leia-se Pedro Dufour na historia da Prostituição: “Ellas estavam exhaustas dos pingues e escassos recursos”. Ora a palavra pingue significa gordo, logo não se devia empregar ahi segundo a sabia redacção do “Espanador”; a palavra alto, tirada do latim altus do verbo alere “nutrir” não podia ser empregada em mais de uma accepção segundo essa teoria; dizemos homem alto no sentido de homem nutrido, quando dizemos, porem, casa alta, campanario alto, não quer dizer que sejam nutridos. A palavra calamos significava os trigos abatidos pela tempestade; hoje temos a palavra calamidade que significa toda a sorte de desgraças o que não tem correlação alguma com seu sentido grammatical; si os redactores do “Espanador” querem outros exemplos nós temos “linguagem sabia”, “peça divertida”, “homem lido”, etc.

Os redactores do “Espanador” antes de espanarem o pó de suas officinas, pretendem entrar pela casa do visinho; a prova da verdade ahi está; leiamos a d’oiseau o artigo − Restabelecimento de Escolas  − em o n. 2.º de 17 de Fevereiro de 907: “Neste caso está a cadeira de Santo Antonio dos Tiros que não foi visitada pelo inspector, etc. Comprehendendo o que está escripto, parece-nos que Santo Antonio dos Tiros tem uma cadeira, e que o “Espanador” queixa-se do inspector não ter visitado essa cadeira; adiante diz, “hoje privados da educação de seus filhos” ora, si a educação já é de seus filhos, como é que elles estão privados? explique-nos o “Espanador” si o professor é que é modelo, ou si é modelo desta zona, pois os redactores  do “Trabalho” não entendem semelhante giria.

No mesmo artigo ainda dizia “no sentido de não ficar aquella localidade privada” achamos que a phrase é chula, e que é caso de levar a Tiros felicitações indecentes.

No artigo sobre o proletariado vê-se ao lado do chatismo da phrase o desconchavo da idéa; os redactores do “Espanador” parecem companheiros de Jean Buvari, pois que pregam idéas afins sinão consanguineas de anarchia.

Para terminar diremos, a lettra com que é escripto o “Espanador” assemelha-se as inscripções da esphynge que tanto trabalho davam aos viajantes no tempo dos Ptolomeus.

Dr. E. J. Roiz¹.

* 1: Dr. Euphrasio José Rodrigues.

* Fonte: Texto publicado com o título “Ao Snr. ‘Tigelino’ e a redacção do ‘Espanador’ em Dores do Indayá” na edição de 10 de março de 1907 do jornal O Trabalho, do arquivo da Hemeroteca Digital do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, via Altamir Fernandes.

* Foto: Do livro “Municipio de Patos”, de Roberto Capri.

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