O esperado encontro futebolístico entre as duas possantes agremiações do Asas¹ e da União Recreativa dos Trabalhadores, foi presenciado por uma grande multidão, que superlotou em toda sua extensão, o bonito estádio da veterana agremiação da Av. Brasil. Era grande a expectativa que reinava entre todos os que ali estavam.
Dada a saída pelo quadro visitante, êste esboçou um ataque sem resultado positivo. Aos poucos, foi tomando as rédeas da partida e Dedéco, com um possante arremesso, obrigou ao goleiro Zé Maria a uma bonita defesa, arrancando êste, aplausos de sua torcida. Novos ataques são organizados contra a meta de Zé Maria, sem no entanto, conseguirem o exito almejado: estava firme o goleiro da URT.
Eram transcorridos cêrca de 7 minutos da partida quando Dedéco, depois de uma esgrimagem na grande área, arranca e fulmina, com tiro rasteiro, a meta de Zé Maria; êste se estira, não conseguindo deter a tragetoria da pelota, estava aberto o caminho da vitoria. A veterana esforça uma reação e Badá, frente à frente com o goleiro, perde ótima oportunidade para empatar a partida. Com ataques esporádicos de ambos os lados vai ganhando a partida, na metade do tempo regulamentar. O Asas que se mostrara apático no jôgo anterior, com o Tupi E.C., se mostrava agora mais dinâmico e mais lutador, não se deixando envolver pelo quadro rival. Foi assim que foi conseguido o seu segundo tento. Ainda Dedéco foi o seu autor; desta fez o goal foi feito de queima roupa, de cara com o goleiro, que nada podia fazer.
Com dois tentos de desvantagem, se enervam os atlétas alvi-celeste que, incentivados por uma torcida nervosa, se dispoem aos desmandos em campo. Mas com isso não se conforma o Juiz da F.M.F. e, ao primeiro ataque à sua pessoa, expulsa o Vadinho, que lhe dirigira pesados palavrões. Chegam ao climax da exaltação, torcedores e jogadores, coadjuvados por alguns dos mais ferrenhos torcedores da veterana e mesmo alguns elementos diretamente ligados ao estado maior do clube mais velho de Patos de Minas. A expulsão de Vadinho não é acatada, insurgem-se todos contra a punição imposta ao jogador. O Juiz, vendo as coisas pretas para o seu lado, decide que seja feita sómente a troca do jogador, entrando outro em seu lugar. A atitude do Juiz foi fraca, não devia ter relaxado a expulsão, já que a deu, deveria conserva-la. A nosso ver, foi um grande êrro de sua parte. Com 2 x 0 pró Asas, termina o primeiro tempo.
Reiniciado o prélio, em sua parte final, a URT substituiu com acêrto a dois elementos: entrou Gorila na defesa e Viola no ataque. Com elementos mais leves, a Veterana não era mais dominada com a facilidade inicial. Mas, ao envez de pressionarem à meta contrária, os comandados de Nonó se dispuzeram a atos de indisciplina, perturbando o transcorrer da partida. Alguns elementos não queriam nada com a bola, procuravam, isto sim, o adversario, com o intuito de acertá-lo. Muitos e muitos foram os atos de indisciplina ali desenrolados.
Na altura dos 23 minutos, o ponteiro Preto dirige ofensa ao árbitro; êste, entra para conter os arroubos da torcida, vinha se conduzindo contemplativamente para com os atos praticados pelos jogadores de Alfredo Bernardino. Mas, diante daquela nova ofensa a sua pessoa, incontinente da ordem de expulsão ao jogador. Pronto! Estava feito o quiprocó! Nada, absolutamente nada, foi possivel conter a avalanche que partiu sôbre o indefeso juiz da F.M.F. Uma verdadeira malta partiu rumo ao Sr. Simão, que, verdadeiramente apavorado, fugiu em desabalada corrida pelo campo afóra, mas estava escrito que aquela tarde acinzentada seria ainda mais enegrecida com o fumo da covardia, pois que, cercaram-no, dando-lhe ponta-pés, sôcos e tôda uma espécie de sinônimos de agressões. O Juiz, indefeso, desarmado, procurava e bradava aos céus por socôrro. Quem? A Polícia? Onde estaria? Não ali. Pois que uma multidão de moças, crianças, centenas e centenas de cidadãos ali se encontravam, mas, infelismente, sem garantias. Felismente ainda neste mundo de Deus, existem aqueles que possuem sentimentos humanos e, ainda que arrostando todos os perigos, foram ao encontro do Juiz para socorrê-lo. Mesmo assim, não estava seguro o árbitro, pois cada um queria tirar a sua “lasquinha”. Cidadãos de responsabilidade nos meios comerciais, sociais e até culturais, ali estavam esbofeteando a pessoa, não do juiz, mas do Sr. Simão Vaxman. Foi uma coisa tenebrosa, nunca vista em nossos gramados.
Pena, foi muita pena, que aqui não estivesse um Delegado como o integro Cel. Joviano, para jogar na cadeia uma dúzia de respeitaveis cidadãos, para servir de exemplo àqueles que ainda pensam que Patos de Minas sêja a terra devassa de muitos anos atrás. Pena, muita pena, caros conterraneos, que ainda nesta altura de nossa vida cultural, social, material e espiritual, pululem elementos de todo jaez, como aqueles que atacaram o Juiz da Federação Mineira de Futebol.
* 1: Adamar Gomes informa: Existiu a Associação Atlética ASAS, de Lagoa Santa (MG) fundado em 1950 e que chegou a disputar no profissional. Hoje se encontra licenciado na FMF. Foi fundado por um coronel Aviador, dai o nome.
* Fonte: Texto publicado com o título “ASAS 2 X U.R.T 0” e subtítulo “Tudo houve na Av. Brasil, menos futebol – Surrado o Juiz da F.M.F. – Notas Degradantes” na edição de 30 de junho de 1957 do Jornal dos Municípios, do arquivo do Laboratório de Ensino, Pesquisa e Extensão de História (LEPEH) do Unipam.
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