Não faz muito tempo. Lembra do último incêndio na Mata do Catingueiro em julho passado? Pois é, não foi aí. Lembra do incêndio na mesma Mata do Catingueiro no mesmo mês de julho, só que em 2021? Lembra do próximo incêndio na Mata do Catingueiro? Êpa, vamos esperar acontecer, né, pois ele vem com certeza. Pois é, foi por aquela época do incêndio na Mata do Catingueiro em julho de 2021 que o Zé Cuiúdo (nome legal demais da conta para um energúmeno) estava zanzando com sua camionete equipada na carroceria com a mais moderna geração de autofalantes com a finalidade exclusiva de lhe satisfazer, e, para a sua glória, praticamente como um orgasmo, atazanar a vida daqueles que buscam sossego. Por falar nisso, por que praticamente todos os carros com som nas alturas só nos infernizam com lixo musical?
O que, moço, você ficou indignado por eu categorizar as músicas dos carros com som que nos infernizam diariamente como lixo musical porque eu não entendo nada de música e a melhor música do planeta é a que toca os carros com som que nos infernizam e que eu tenho que entender que cada um tem seu gosto musical e isso deve ser respeitado? Tudo bem, tudo bem, retiro então a afirmação de que os carros com som que nos infernizam 24 horas por dia não tocam lixo musical… mas, desde que você concorde comigo que, se presenciar alguém comendo fezes, considere que cada um tem seu gosto alimentar e a gente tem que respeitar, belêz? Mas também não se esqueça: independente da música que o carro toca nas alturas, sempre é uma afronta aos ouvidos de quem não quer escutar. Belêz?
Continuando, lá ia o Zé Cuiúdo com sua camionete equipada na carroceria com som para atazanar a vida daqueles que querem sossego quando seu telefone celular toca. Era sua irmã:
– Zé Cuiúdo, mamãe tá no Regional e muito mal.
Sete horas da noite, lá foi o Zé Cuiúdo para o Regional, com sua camionete com o som da carroceria nas alturas soltando os piores lixos musicais possíveis − ei moço, não se esqueça daquele que come fezes e deve ser respeitado pelo seu gosto alimentar assim como a gente deve respeitar o seu gosto musical − apavorando até baratas nos bueiros e disparando alarmes de carros estacionados nas imediações. Em chegando lá no Regional, o barulho de sua camionete quase fez levantar um quase morto numa ambulância. Foi regiamente advertido. E advertido, com sorriso maquiavélico − daqueles que pensam que o mundo foi criado unicamente para eles e por isso mesmo eles são o centro da atenção − estacionou sua máquina equipada com o satã. Correu para o quarto e, oh, que alívio, teve que passar a noite, a madrugada e a manhã do dia seguinte com sua mãe. Alívio? Sim, alívio, pois ninguém ouviu no período da estada do Zé Cuiúdo com sua mãe no Regional a desgraceira da zoeira de sua máquina do inferno.
Num é que um dia vem atrás do outro? Gente do Céu, essa é a mais verdadeira das verdades. Ou será aquela que basta estar vivo para morrer. Tem dó, Deiró, vamos em frente. Assim se deu, e a mãe do Zé Cuiúdo foi devidamente depositada em sua residência, ali nas meiúcas dos Bairros Copacabana, Sobradinho e Guanabara. Ó Zé Cuiúdo, quanto carinho com a mamãe, né. Fez de tudo para que ela tivesse a recomendação expressa do médico: repouso e sossego, assim como dezenas e centenas e mais centenas de outros cidadãos que precisam de repouso e sossego. Vai daí que o Zé Cuiúdo desligou até o celular para não incomodar a mamãe.
Mas… eis que o seu melhor amigo, do mesmo tipinho, da mesma laia maléfica, dos mesmos hábitos soturnos, que são aqueles de infernizar com carros com som a vida daqueles que buscam sossego na Cidade, com seu Gol 2000 rebaixado cujo fundo não perdoa nenhuma formiga no asfalto e faz tanto barulho que o som alto treme janelas, chegou, como era costumeiro todos os dias, para saírem os dois pela Cidade para infernizarem a vida daqueles que buscam sossego.
Quando o Zé Cuiúdo ouviu a zoeira, saiu desesperado porta afora da casa em direção ao amigo para que ele imediatamente desligasse o som. Som desligado, o amigo foi ouvindo a explicação do Zé Cuiúdo até entender e concordar perfeitamente que eles só podem incomodar os outros, somente os outros, mas, jamais, em tempo algum, nenhum de seus familiares e amigos.
Uma semana depois, a mãe do Zé Cuiúdo estava totalmente recuperada. Assim, a vida prosseguiu sua rotina, com o Zé Cuiúdo, seus amigos e uma infernidade de outros com seus carros com som nas alturas. É um típico exemplo de besteira que assola Patos de Minas e que nenhuma administração, absolutamente nenhuma, consegue eliminar. Ou será melhor dizer que nenhuma administração tem coragem de eliminar? O Idi e o Ota, meus únicos dois neurônios, afirmam categoricamente que é preciso identificar que administração é essa, pois eles não têm a mínima ideia de quem governa Patos de Minas, por isso sempre perguntam: Afinal de contas, quem manda aqui? E eu sempre respondo: os energúmenos, por isso eles fazem o que querem e quando querem!
* Texto e foto: Eitel Teixeira Dannemann.