Durante a realização da XXIV Festa Nacional do Milho, em maio p.p., uma das grandes movimentações que mereceu todo o respeito foi a campanha “Doe seus olhos na Festa Nacional do Milho”, promovida e organizada pela Professora e Diretora da Academia de Ballet “Dalal Studio”, Professora Simone Maria Guimarães e Silva, que também faz parte do Conselho Consultivo do Banco de Olhos de Patos de Minas e Banco de Olhos de Minas Gerais.
Desde que aqui chegou no início de 1981, a Prof. Simone vem batalhando e lutando junto às autoridades e às domadoras do Lions Clube Centro, para a criação do nosso Banco de Olhos, seu antigo sonho, pois sempre teve uma preocupação bastante carinhosa com o deficiente físico prova disto é que na realização do I Festival da sua academia em 15 de novembro do ano passado¹, a renda foi toda destinada ao deficiente físico. Também um ponto culminante deste festival foi a fundação do Banco de Olhos de Patos de Minas, quando contamos com a presença do Diretor do Banco de Olhos de Minas Gerais, Dr. Odair Guimarães, da imprensa local, regional e estadual, e também da Rede Globo de Televisão, quando nos foram prestados vários esclarecimentos da atuação do que seria o Banco de Olhos e suas funções.
Procurada para dar-nos algumas informações, a Prof. Simone colocou-se à inteira disposição para dar qualquer esclarecimento de uma maneira bastante delicada e atenciosa, mesmo devido ao seu curto prazo, pois além de estar em período de gravidez anda se preparando com bastante ênfase para a realização do II Festival², que terá como data o mês de setembro próximo.
A professora anda satisfeitíssima com o aproveitamento de suas alunas que considera: “muitas estão se revelando de uma maneira bastante exorbitante surpreendendo até a mim”. Então teremos a certeza de que em setembro teremos um belo festival, como o do ano passado.
Bem, mas voltamos ao Banco de Olhos.
Simone nos disse que o Banco de Olhos já obteve 400 doações; número que considera excelente para uma cidade de interior e ainda pelo pouco tempo de funcionamento do órgão, inclusive contando com doações de pessoas importantíssimas, como o caso do Governador Francelino Pereira que doou suas córneas abrindo a campanha do Ano Internacional do Deficiente Físico lá em Belo Horizonte.
Simone estranha apenas o desinteresse visível do Prefeito de Patos de Minas não comparecendo à cerimônia de inauguração, ocasião em que havia sido convidado e até teria que pronunciar um discurso e não dando nenhuma satisfação, não foi nem encontrado.
Quanto ao apoio recebido de outros órgãos a Profa. Simone disse “por enquanto foi pequeno, mas espero ainda contar com a colaboração dos clubes de serviço no sentido de apoiar a campanha para se conseguir doadores e o apoio maior que encontro é na imprensa local através da Rádio Princesa, Rádio Clube de Patos, dos jornalistas Delfim José, Terezinha e Lourdes Fonseca, Vicente, o José Afonso da rádio e principalmente da Revista A DEBULHA, que vem dando total apoio, inclusive dedicando uma de suas capas ao Banco de Olhos, e muitos outros”.
Quando lhe perguntamos o interesse que a Academia “Dalal Ballet Studio” tinha neste movimento, a Profa. Simone foi taxativa e objetiva quando afirmou: “Nenhum. Eu tenho o Banco de Olhos como obrigação minha para com a sociedade”, e continua “acho que toda pessoa tem que fazer alguma coisa DESINTERESSADA para os menos favorecidos, neste caso o cego. Eu tenho compromisso vitalício com o Banco de Olhos e somente utilizei o festival para inauguração porque o próprio festival foi oferecido ao Ano Internacional do Deficiente Físico”.
O Hospital São Lucas foi escolhido como sede do Banco de Olhos? Indagação a que ela nos explica: “Quando aqui cheguei só conhecia um oftalmologista que é o Dr. Juarez Ferreira Leite, hoje vice-presidente do Banco de Olhos, e foi ele quem indicou-me para a presidência o Dr. Paulo Nunes Caixeta. Ele não aceitou alegando que preferia ficar com parte técnica pois é especialista em transplante de córneas, e indicou-me como presidente o Dr. Antônio Vieira Caixeta, dono do Hospital São Lucas, que poderia dar todo apoio pois já havia pensado em criar um Banco de Olhos para Patos de Minas” e completa “então o Hospital São Lucas não foi o escolhido; os caminhos me levaram a este hospital onde o Banco de Olhos teve apoio principalmente financeiro porque a sua montagem, hoje, custa em torno de Cr$ 20.000.000,00 (vinte milhões de cruzeiros) e o hospital comprou todo equipamento, sendo que em Uberlândia, empresários de todos os setores ofereceram todo esse equipamento para o banco de olhos de lá, que no ano passado ficou em torno de Cr$ 11.000.000,00 (onze milhões de cruzeiros)”.
Várias pessoas questionam sobre o destino de suas córneas, querendo doá-las a determinadas pessoas específicas a que a Profa. Simone respondeu à pergunta: A pessoa quando faz a doação pode escolher a quem sua córnea vai ser destinada? “Não pode porque o Banco de Olhos segue uma fila, tanto de pacientes, quanto de médicos, quando aparece uma córnea o Banco de Olhos liga para o paciente e o médico dele. E tem mais”, complementa, “o Banco de Olhos não tem fins lucrativos, a córnea é doada, se os honorários são pagos a escolha do pagamento é a critério do paciente, como qualquer outra cirurgia, depende também do convênio e do hospital como qualquer outra operação”. Lamenta “por ironia do destino quase todos os cegos são de poder aquisitivo baixo e quem pensa que o banco de Olhos pode ser um alto negócio está totalmente enganado”.
Finalizando o bate-papo que nos foi surpreendentemente esclarecedor a Profa. Simone agradeceu a seu corpo de baile, do qual fazem parte 15 alunas que a ajudaram totalmente na campanha durante a Festa do Milho e mais uma vez afirma que os ensaios para o festival que acontecerá em setembro já estão em andamento, tendo este ano como tema, “o sonho de cada aluna”, o que cada uma gostaria de dançar, com as coreografias criadas pela Simone e ainda ressalta o desprendimento favorável das alunas que também são professoras: Jane Guimarães Campos, Beatriz Ferreira, Gisele Carvalho, Cristiana Guimarães (clássico) e Carla Piáu Vieira, Patrícia Louzada (Jazz) e acrescenta: “Só queria que a sociedade patense conscientizasse de que o banco de Olhos é um benefício para a própria sociedade”.
Para maiores esclarecimentos ao leitor publicaremos aqui os dizeres do panfleto que foi distribuído na cidade durante a Festa Nacional do Milho:
Suas córneas podem devolver a visão a um cego.
Banco de Olhos de Patos de Minas
Banco de Olhos de Minas Gerais
Associação Brasileira de Banco de Olhos
1 − O que é o Banco de Olhos de Patos de Minas?
É uma sociedade civil sem fins lucrativos ligada à Associação Brasileira de Banco de Olhos, que tem por objetivo recolher e distribuir olhos doados para quem precisar de transplante de córneas.
2 − Há deformação com a retirada dos olhos?
Não, porque os órgãos visuais são retirados segundo técnica cirúrgica que não deixa qualquer vestígio.
3 − Paga-se pelos olhos doados?
Não, nada. O Banco de Olhos recolhe e os entrega gratuitamente ao oftalmologista que irá fazer o transplante. Se a cirurgia for particular o médico cobrará os seus honorários e não a córnea. A operação é como as outras e poderá ser feita através dos convênios, INAMPS, FUNRURAL etc.
4 − O que deve fazer a família do doador?
Estar preparada para avisar ao Banco de Olhos imediatamente após a morte do doador, pois os olhos só poderão ser retirados somente até 6 horas após o falecimento.
5 − Pessoa que tenha qualquer deficiência nos olhos pode ser doadora?
Sim, mesmo que tenha os olhos afetados por miopia, hipermetropia, astigmatismo, catarata e outras doenças poderá doá-los, pois para o transplante é aproveitada apenas a córnea e o restante é utilizado para pesquisas de doenças oculares.
6 − No caso de “falecimento sem prévia doação”, mas com o consentimento da família, podem os olhos serem utilizados pelo banco?
Sim, basta que a família avise, com rapidez, ao Banco de Olhos.
− Hospital São Lucas −
– Rua Maestro Randolfo esquina com Major Gote
Fones: 821-2333 e 821-2087
– Informações:
821-5114 (horário normal)
821-5553 (à noite)
À Profa. Simone os nossos mais sinceros cumprimentos pela brilhante campanha e o benefício que vem proporcionando a Patos, tanto na questão humana quanto na questão cultural.
Vicente de Paulo Rodrigues
* 1: Leia “I Festival de Ballet da Academia Dalal Ballet Studio”.
* 2: Leia “II Festival de Ballet da Academia Dalal Ballet Studio”.
* Fonte: Texto publicado na coluna Sem Fronteiras com o título “Banco de Olhos de Patos de Minas” na edição n.º 50 de 30 de junho de 1982 da revista A Debulha, do arquivo de Eitel Teixeira Dannemann, doação de João Marcos Pacheco.
* Foto: Spdm.org.br, meramente ilustrativa.