DRAMA NO CIRCO

Postado por e arquivado em CANTINHO LITERÁRIO DO EITEL.

Nos idos tempos da década de 1960, na esquina da Rua Tiradentes com a sua colega Olegário Maciel, havia um vasto terreno. Lá, costumeiramente, armavam-se as lonas de Circos que faziam muito sucesso. Era comum a garotada do entorno colaborar com o descarregamento da tralha circense em troca de uma entrada. Até que casas foram ocupando o terreno e fechou o ciclo com a construção do prédio do INSS no início da década de 1970¹. Findou-se o terreno vago e os Circos tiveram que procurar outros lugares.

Foi naquele tempo que o jovem Rogério convidou a sua jovem namorada Dália para uma sessão do Circo da vez, simplório como a maioria, com as arquibancadas de tábuas de madeiras de seis andares geralmente desconfortáveis, sendo que a última era encostada na lona. Mais ainda, para fazer média, convidou também sogro e sogra, com ingressos por conta dele, incluídas as pipocas e outras guloseimas presentes à venda, condição adquirida para isso depois de longos seis meses de economia do parco salário que recebia num comércio do Centro.

Com cautela e tábuas rangendo, subiram os quatro para o último andar. Antes de sentar, Rogério fez questão de forrar a tábua com duas toalhas de rosto, uma para a amada e outra para a sogra, para que ambas não sujassem as belas saias claras que trajavam. Ganhou muitos pontos com as duas, mas o sogro fez cara de que não gostou ao ser preterido no puxa-saquismo do sabe-se lá futuro genro. Foi por pouco tempo, pois logo veio a tradicional e famosa entrada para anunciar o início do espetáculo:

– Respeitável público…

Devidamente acomodados, já com meia hora de atrações apresentadas, o Rogério resolveu dar uma espreguiçada e quando esticava os músculos das costas esqueceu que atrás dele não tinha parede, e sim lona, e no que ele se escorou, e lona cedeu e o coitado começou a despencar. Instintivamente, agarrou o braço da Dália e esta começou a descer também, enquanto também instintivamente agarrou o braço da mãe e esta agarrou o braço do marido e… pimba, os quatro se esborracharam no capim alto abaixo da arquibancada.

Graças à Nossa Senhora da Abadia, a santa adorada pelos quatro, nada mais grave aconteceu além do vexame, e que vexame. Eis que mãe e filha, paralisadas pelo baita susto, ficaram com as pernas para cima e o povo em volta apreciando o que não devia ser apreciado. Rapidinho, sogro e genro bateram o pó das roupas e colocaram as mulheres de pé e mais rapidinho ainda, se mandaram.

Cinco anos após a tragédia, foi anunciado o casamento da Dália. Com quem? Com o Geovani. Geovani? Não era Rogério? Era, pois naquele triste dia o namoro se encerrou por imposição mais do que impositiva dos pais.

* 1: Leia “Aspectos Arquitetônicos do Prédio do INSS”.

* Texto: Eitel Teixeira Dannemann.

* Foto: Montagem de Eitel Teixeira Dannemann sobre foto publicada em 25/02/2020 com o título “Palacete Mariana na Década de 1960”.

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